Dia 28 de junho é o Dia Internacional do Orgulho LGBTI+. Esta data já tem 55 anos de significado para nossa comunidade. Neste dia em 1969, houve uma “rebelião”, ou revolta, de enfrentamento às repetidas batidas, humilhações públicas e prisões arbitrárias por parte da polícia de Nova York, contra os/as frequentadores/as do Bar Stonewall, principalmente gays e travestis. Na madrugada de 28 de junho de 1969, deram uma basta e responderam com a mesma medida violenta, jogando moedas, pedras e garrafas nos policiais, a tal ponto que inicialmente estes tiveram que se trancar dentro do bar para se proteger do ataque. Foram libertados mais tarde com a chegada do batalhão de choque. No entanto, na noite do mesmo dia, houve outro confronto. A multidão revoltada só crescia e a briga foi até a madruga do dia seguinte. No decorrer dos próximos dias houve mais manifestações, embora em escala menor. Há versões dessa história que atribuem como gatilho da revolta o luto pela morte da atriz Julie Garland, falecida em 22 de junho de 1969, um ícone para a comunidade gay da época.

Passado um ano, em junho de 1969, foi realizada uma passeata em Nova York, para lembrar a Rebelião de Stonewall e afirmar o “orgulho” em ser LGBTI+. Não o orgulho no sentido de arrogância, mas no sentido de não ter vergonha de se assumir e viver aberta e dignamente como pessoa LGBTI+, na época o assim chamado “Gay Pride”.

A partir daí, o movimento em prol da igualdade de direitos da comunidade LGBTI+ cresceu e se fortaleceu, não só nos Estados Unidos, mas gradativamente em muitos outros países também, inclusive no Brasil. Os registros mostram que houve um “boom” no número de organizações, principalmente de gays e lésbicas, no Brasil no final dos anos 1970. Porém, nos anos 1980 a chegada da epidemia da aids resfriou este movimento, com perdas de ativistas e mudança de prioridade para o enfrentamento da doença.

A retomada do movimento LGBTI+ no Brasil ficou evidente a partir dos anos 1990, marcada em especial em 1995 pela fundação da primeira organização nacional LGBTI+, a então chamada Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis – ABGLT. Em fevereiro de 1997, o 9º Encontro Brasileiro de Gays, Lésbicas e Travestis, realizado em São Paulo-SP, decidiu pela realização de Paradas do Orgulho LGBTI+ em todo o Brasil, começando pelas maiores capitais, a fim de dar visibilidade massiva às reivindicações do movimento. Na primeira parada realizada em São Paulo em junho daquele ano, houve em torno de dois mil participantes. Neste ano de 2024, acabamos de celebrar a 28ª Parada de São Paulo, com milhões de pessoas presentes.

A visibilidade dada pelas Paradas do Orgulho LGBTI+, assim como a organização do movimento em nível nacional, foram essenciais para as conquistas que vieram em seguida, começando, talvez, com a inciativa do governo federal, o Programa Brasil sem Homofobia, lançado em maio de 2004. Na década seguinte, o Supremo Tribunal Federal reconheceu os direitos da comunidade LGBTI+ em diversas decisões históricas, como a união estável/casamento, adoção de filhos, direito à identidade de gênero, criminalização da LGBTIfobia, doação de sangue, entre outros.

Este ano estou completando 40 anos de ativismo e militância LGBTI+. Estive atuante no processo descrito acima desde meados dos anos 1980. Acredito sobretudo na organização conjunta das pessoas e organizações LGBTI+ e parcerias para avançar com a garantia da nossa cidadania plena. Além da atuação neste sentido junto ao Judiciário, Executivo e Legislativo, instituições e empresas, nós da Aliança Nacional LGBTI+ e da Rede GayLatino estamos trabalhando na consolidação e divulgação de conhecimento, por meio da Enciclopédia LGBTI+, um conjunto de 26 publicações temáticas sobre questões LGBTI+ relevantes para nossa cidadania, várias das quais já estão disponíveis https://shorturl.at/vFRVs. Inclusive, lançamos agora na ocasião da 28ª Parada de São Paulo, o Manual de Direitos e LGBTI+, que serve como fonte de orientação prática para a comunidade LGBTI+ sobre seus principais direitos básicos e onde procurar apoio profissional em caso de dúvidas e violações.

Parafraseando Gramsci, para progredir, temos que nos organizar, resistir às adversidades, ter resiliência e persistência, garra e convicção para superar os obstáculos e os opositores, conquistar aliados e fazer valer nosso direito constitucional à igualdade e à dignidade, sem medo de termos orgulho de quem somos.

* Toni Reis é presidente da Aliança Nacional LGBTI+ e da Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas, diretor da Rede GayLatino e doutor em Educação.