Quando soube que viria para a Aids2018, pela RNP+SP (Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids), fiquei super contente, afinal não é sempre que temos a oportunidade de participar de um evento dessa magnitude.

O primeiro contato com essa experiência foi no dia 22, na pré-conferência sobre o I=I (indetectável igual intransmissível). Lá foi falado sobre a importância de passar ao mundo essa informação, que uma pessoa com carga viral indetectável não transmite o HIV. O que mais me emocionou foi a homenagem ao Dr. Pietro Vernazza, médico que, em 2008, coordenou a Declaração de Consenso Suíço, de onde saiu o I=I. Acredito que não somente para mim, mas para todos os presentes foi um momento marcante.

No dia 23 foi oficialmente o início da conferência. Como bom ariano eu estava muito ansioso. Eu queria ver as pessoas dos quatros cantos do mundo reunidas em um só local para discutir, aprender, ensinar e, o mais importante na minha visão, trocar experiências de vida.

Estar no Global Village foi muito legal. Posso dizer que aprendi muito nesse espaço, vendo e conhecendo um pouco da realidade de outros países e culturas.

Ver de perto o engajamento de pessoas mundialmente famosas, como a atriz Charlize Theron, o príncipe Harry e o cantor e compositor Elton John fez eu ter mais ânimo para continuar no ativismo, pois essas pessoas fortalecem as nossas vozes para o mundo.

Outro ponto que achei muito interessante foi o relato de um dos palestrantes da plenária do dia 24, que contou seu caso, falou sobre a discriminação em relação as pessoas que vivem com HIV. Ele contou que foi criminalizado por ter feito sexo com outra pessoa, não houve transmissão do HIV e mesmo assim teve que cumprir uma pena e depois foi colocado na sua carteira de motorista o seguinte termo: “agressor sexual”.

Ter participado no dia 25 de duas manifestações da sociedade civil também foi algo que não esquecerei. A primeira foi totalmente brasileira, com vários ativistas presentes na AIDS2018 protestando contra política de aids do Brasil, pois o programa do país foi do modelo a sucata nos últimos anos. Na segunda manifestação, com ativistas de todo o mundo, fizemos um passeio pelo local onde estão os estantes dos laboratórios farmacêuticos, reclamando e brigando contra os altos preços que eles cobram das drogas para o tratamento das pessoas com HIV.

O que achei interessante em ambas manifestações foi que tudo aconteceu tranquila e pacificamente.

Gostei também de participar das reuniões com pessoas da América Latina e ver os relatos dos nossos vizinhos, histórias de força e resistência que nos unem por uma causa em comum.

No dia 26, durante a primeira plenária, quando a chama positiva estava sendo acesa, chamou minha atenção o protesto feito para que a próxima conferência não aconteça em São Francisco, nos Estados Unidos, pois dizem que várias pessoas não poderão participar, principalmente as populações chaves, por causa das políticas americanas para conceder o visto de entrada para estrangeiros de determinados países do mundo. Também vi falarem de como a PrEP está sendo feita em outros lugares do mundo, o que me fez pensar que no Brasil ainda falta muita coisa para ser melhor trabalhado este ponto, para que mais pessoas possam ter acesso a esta estratégia de prevenção.

Depois de seis dias emocionantes, novas amizades, novos aprendizados, de ouvir idiomas e músicas diferentes, fica um gostinho de quero mais e uma certeza, de trabalhar bastante para que na Aids2020, onde quer que aconteça, eu possa ter novamente essa oportunidade de participar e voltar para o Brasil com mais conhecimento para continuar militando pelas pessoas que vivem com HIV/aids.

* Alisson Barreto é diretor do GIV (Grupo de Incentivo à Vida) e secretário da RNP+SP.