São mais de 20 anos desde que mulheres brasileiras começaram as primeiras discussões na era mais crítica da epidemia de aids no mundo. Nos anos 90, começou-se a desmistificar que a aids era uma epidemia de homens gays, visto um número expressivo de mulheres se infectando, necessitando então olhar para as questões de gênero e aids.

Iniciamos assim capacitações de empoderamento de mulheres em todo o país, discutimos temas como: Controle Social, construção de Políticas Públicas que atendam as reais necessidades das mulheres, direitos sexuais e direitos reprodutivos… Direitos estes que foram reconhecidos como Direitos Humanos em Conferências Internacionais, como a de Beijing e a de Cairo.

Discutimos as desigualdades de gênero de raça e de classe social como determinantes na feminização da epidemia.

O Movimento criou formas e cores e formalizou-se em 2004, tornando-se o primeiro, maior e mais plural Movimento de Mulheres que Vivem com HIV/Aids do Brasil, sendo referência para muitos países da América Latina e Caribe e quiçá do Mundo!

Nestes tantos anos, enfrentamos diversas batalhas, perdemos muitas companheiras em decorrência da Covid-19 em um momento de conjuntura política avassaladora de retrocessos em todos os campos, em especial, nos setores que afetaram sobremaneira todas as mulheres!

Passaram-se os anos e estamos aqui, firmes, mas agora com um respiro de um novo governo e realizando o X Encontro Nacional do MNCP, onde temos como tema principal “Juntas Livres e Vivas – Rumo à Cura !”.

Somos 80 mulheres de todas as regiões do país, se abraçando, se acolhendo, mas sobretudo, lutando fortemente por políticas públicas para que olhem para nós integralmente, porque somos mulheres em primeiros lugar, mulheres mães, filhas, esposas, avós, donas de casa, profissionais de todas das áreas, com realidades diversas e plurais, de povos originários, dos campos, das águas e das florestas, quilombolas, ribeirinhas, ciganas, de todas as idades e cores.

As políticas devem considerar esta diversidade, especificidades e vulnerabilidades que provoca a pobreza, a violência, o uso abusivo de álcool e outras e a morte.

Se antes a aids gerava a “morte social”, hoje é essa “morte social”, essa falta de direitos que causa aids, sofrimento e morte. Sim, estamos Juntas!, devemos ser Livres e queremos ficar Vivas!

É por isso é que queremos a cura, a cura de todos os tipos de violências e preconceitos, a cura de toda a falta de escuta, a cura para corpos. Cura já!

* Fabiana Oliveira é Secretária de Comunicação do MNCP.