Um pouco da (triste)história…

No início desse século, milhares de pessoas no Brasil e no mundo perdiam qualidade de vida e muitos a própria vida pelas Hepatites Virais, principalmente as dos tipos B e C – existem 7 tipos identificados – pois havia muita complexidade para diagnosticar e tratar, e assim passou a ser esse agravo, uma grande preocupação de saúde pública no Brasil e no mundo.

Como esses dois tipos de hepatites raramente apresentam sintomas, se não forem tratadas, têm na maioria dos casos a evolução para cirrose hepática e/ou hepatocarcinoma, sendo a do tipo C a maior causa base para indicação de transplante de fígado.

Mundialmente, de 1.996 a 2012, para a Hepatite C só existia a terapia com antivirais que utilizavam o organismo da pessoa para combater esses vírus, o Interferon, via injetável adicionado da Ribavirina via oral, que apesar de ter baixa eficácia apresentava severas reações adversas que trazia sofrimento e prejudicava a adesão dos pacientes, com duração de 48 a 72 semanas.

Como se não bastasse esses fatores contrários, o acesso pelo SUS era complicado pela burocracia e exigência do protocolo do Minitério da Saúde, que pedia no processo vários documentos e exames e o paciente precisava aguardar autorização nas farmácias dos estados, e às vezes todo esse processo demorava tanto que quando chegava os medicamentos o solicitante já tinha ido a óbito. Com altíssimo custo era inviável para a grande maioria dos pacientes a compra no mercado, e mesmo para os que tinham plano privado com a recusa de fornecimento dos mesmos, restava como única alternativa solicitar judicialmente.

Na atualidade….Desde outubro de 2015 novos e surpreendentes medicamentos para Hepatite C foram incorporados pelo SUS, e assim dispensados à população, representando um divisor de águas no tratamento da Hepatite C. Em um cenário que ficava difícil ser otimista a ciência surpreendeu descobrindo a arma certa para eliminar o vírus da Hepatite C, com quase 100% de eficácia, em média apenas 12 semanas de tratamento oral com 1 ou 2 comprimidos diários, e ainda o jubilo de serem de ação direta nas células do vírus, amenizando o esforço do organismo do paciente nesse combate, e assim não apresentando reações adversas.

A aquisição e distribuição dos tratamentos pelo Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, departamento do MS que cuida do agravo, trouxe melhora no acesso, que ficará ainda mais facilitado pela migração em andamento na distribuição dos medicamentos das Hepatites B e C do componente especializado para o estratégico, o que exige menos burocracia, traz a farmácia mais perto do paciente e garante o recebimento através de um estoque de segurança. Embora ainda não haja a cura para Hepatite B, ao contrário da C, tem vacina e a aplicação foi ampliada para qualquer idade estando disponível amplamente pelo SUS nas unidades de saúde.

Desafios …Falamos que desde 2015 foram incorporados os medicamentos que fizeram que a Hepatite C seja a única doença infectocontagiosa que tem cura, porém temos que considerar que até 2018 para ter acesso o paciente já precisava ter evolução da doenças, ser pré cirrótico ou já cirrótico, e assim mesmo eliminado o HCV, precisa ser monitorado ao menos semestralmente com exames variados e consultas, o que não acontece por falta de um fluxo regular para esse atendimento, surgindo pacientes com cirrose descompensada e hepatocarcinoma, mesmo curados da ação do vírus. A sociedade civil e sociedades médicas estão reivindicando ao MS uma diretriz que implemente a linha de cuidados para o paciente cirrótico, que atingiria também pacientes com essa grave forma evolutiva por outras doenças bases.

Outro desafio que contempla para o Brasil a meta da OMS de eliminar a Hepatite C até 2030, é encontrar as 650 mil pessoas que vivem em nosso país que segundo estatísticas mostram que têm Hepatite C e não sabem. E o “JULHO AMARELO” vem ressaltar a importância do conhecimento da população sobre a doença, as formas de prevenção e como e porque fazer o teste. Atualmente o tratamento é fornecido para o paciente em quaisquer estágios, ou seja, testou reagente irá receber o tratamento via SUS e certamente curar.

“TESTE, TRATE E VIVA”

 

Jeová Pessin Fragoso é presidente do Grupo Esperança, Conselheiro Municipal de Saúde de Santos e Conselheiro Nacional de Saúde

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