A Conferência em Munique foi extremamente importante para o mundo todo, mas especialmente para o Brasil. Quero reiterar a fala do dr. Draurio Barreira, que frequentemente menciona, no âmbito do Ministério da Saúde, que este ano, ao contrário do ano passado no IAS da Austrália, cujo tema foi “o Brasil voltou”, nesta Conferência na Alemanha, o mundo viu que o Brasil está mais forte do que nunca! Voltamos no ano passado e, este ano, estamos mais fortes do que nunca.

Para o Brasil, em especial, foi muito significativo porque celebramos a posse da nossa querida dra. Beatriz Grinsztejn, a primeira brasileira e a primeira mulher latino-americana a assumir a presidência da IAS. Fiquei particularmente feliz quando ela subiu ao palco e se identificou como lésbica. Isso é muito simbólico para nós, da comunidade LGBTQIAP+: uma presidente mulher, brasileira, latino-americana e lésbica. É um grande avanço para o Brasil.

O segundo ponto que quero destacar foi a abertura desta Conferência Internacional, que pela primeira vez na história trouxe um homem trans vivendo com HIV da África para falar. Já tivemos mulheres trans e travestis falando em Paris e na própria Holanda, mas esta foi a primeira vez que um homem trans de Uganda teve a oportunidade de se expressar. Fiquei arrepiada ao ouvi-lo falar, não só sobre seu estado sorológico, mas também sobre a importância de discutir HIV e Direitos Humanos em seu país. Ele destacou o quanto o avanço dos Direitos Humanos deve andar de mãos dadas com o enfrentamento do HIV/aids e da sorofobia. Precisamos também abordar o antirracismo e a anti-LGBTfobia no contexto do HIV, para que possamos realmente eliminar o HIV e a aids como problemas de saúde pública até 2030.

Destaco também que as participações do Brasil foram muito importantes: tanto a nossa delegação do Ministério da Saúde quanto a sociedade civil, pesquisadores, gestores e a Fiocruz, formando uma grande delegação do Brasil de diferentes órgãos. No Ministério da Saúde, tivemos vários projetos aprovados, apresentações orais e pôsteres. Fiz essa fala em nome do Ministério da Saúde, sobre o enfrentamento das grandes barreiras para promover o acesso equânime das pessoas trans ao diagnóstico e tratamento do HIV.

Falei também sobre a prescrição farmacêutica de PrEP e PEP, e como lideramos, junto com colegas, uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Farmácia para aumentar o acesso à PrEP. Essa experiência, que se mostrou única no mundo, foi destaque em mesas de debate, onde as farmácias foram apresentadas como estabelecimentos que facilitam o uso da PrEP por meio da prescrição farmacêutica. O Brasil foi ovacionado pelo fato dessa prescrição ocorrer com tanta robustez aqui. Também mentorei meninas e mulheres na ciência do HIV, em um programa de mentoria da IAS, sendo a primeira vez na história que uma mulher trans mentora outras mulheres.

Foi uma conferência de quebra de paradigmas. O novo paradigma “Nada sobre nós sem nós” nunca foi tão imperativo como nesta última Conferência, onde tivemos realmente grandes representações.

* Alícia Krüger é farmacêutica, sanitarista e epidemiologista. É responsável pela Assessoria de Políticas de Inclusão, Diversidade e Equidade em Saúde, do Ministério da Saúde.