Em uma coletiva de imprensa realizada no começo de Dezembro, no Rio de Janeiro, ativistas e organizações denunciaram as barreiras no acesso ao lenacapavir, medicamento de longa duração na prevenção do HIV, e lançaram uma campanha global por acesso equitativo. O evento destacou o impacto das estratégias de mercado da farmacêutica Gilead, que, segundo os participantes, priorizam o monopólio sobre a saúde pública.

A coalizão alertou para a emergência global do HIV: 1,3 milhão de novas infecções e uma morte relacionada à aids por minuto. “Estamos lidando com uma emergência de saúde pública”, afirmou Asia Russell, diretora da Health GAP. O lenacapavir, que demonstrou eficácia de quase 100% em ensaios clínicos, permanece inacessível devido à política de licenciamento voluntário da Gilead, considerada excludente e discriminatória, particularmente para regiões como América Latina, Caribe, Ásia e Oriente Médio, onde a epidemia cresce rapidamente.

Exclusão ética e a realidade brasileira

Veriano Terto Jr., vice-presidente da ABIA, denunciou a exclusão do Brasil da licença voluntária da Gilead, mesmo após brasileiros terem participado de ensaios clínicos. “Isso viola princípios éticos fundamentais. Contribuímos para a pesquisa, mas somos negados os benefícios”, lamentou. No Brasil, são registrados 11 mil óbitos relacionados à aids e 40 mil novos casos por ano. Terto destacou ainda que a PrEP atualmente disponível tem uma taxa de abandono de 40%, reforçando a necessidade de alternativas como o lenacapavir.

“Os critérios do Banco Mundial, impostos pela Gilead, não podem definir quem terá ou não acesso à saúde pública”, completou, defendendo medidas como a licença compulsória para enfrentar o monopólio e viabilizar a produção local do medicamento.

Licença voluntária: controle disfarçado

Sangeeta Shashikant, da Third World Network, criticou a estratégia de licenciamento da Gilead, que restringe a produção e perpetua o monopólio até 2040 em alguns países. “Os termos apresentados não representam acesso; são uma ferramenta de controle”, afirmou.

Sigongile Tshabalala, da Treatment Action Campaign, na África do Sul, reforçou a crítica, destacando o uso de países do sul global como “laboratórios de teste” para atender mercados ricos. “Excluí-los após assumirem os riscos dos ensaios clínicos é uma violação de dignidade e direitos humanos”, declarou.

Soluções e ações imediatas

O pesquisador Andrew Hill apontou que o custo do lenacapavir pode ser reduzido para menos de US$ 40 por ano com produção genérica em larga escala. Hoje, nos EUA, o preço ultrapassa US$ 40 mil por ano. Hill sugeriu iniciativas piloto para produção independente do medicamento, ressaltando a necessidade de mais fabricantes para ampliar o acesso.

A campanha conclama governos a utilizarem flexibilidades previstas no Acordo TRIPS, como licenças compulsórias, para quebrar o monopólio da Gilead. “A licença compulsória é um direito legal e ético. Exigir sua aplicação não é radicalismo; é justiça”, concluiu Veriano Terto Jr.

Ação global necessária

O evento terminou com um apelo por solidariedade global e por uma revisão urgente dos termos de licenciamento do lenacapavir, reafirmando o compromisso de lutar por um acesso universal e igualitário à prevenção do HIV. “Não podemos repetir os erros do passado, quando o lucro foi priorizado em detrimento de vidas humanas”, concluiu Fatima Hassan, da Health Justice Initiative.

Outro lado

A Agência Aids enviou a reportagem publicada para a Assessoria de Imprensa da Gilead. Se empresa quiser responder aos apontamentos feitos pelos ativistas a Agência publicará as informações oficiais da Gilead.

Redação da Agência Aids com informações do GTPI

Leia também: 

Porque os remédios de HIV seguem muito caros - Outras Palavras

Unaids e comunidade latino-americana criticam exclusão da América Latina em acordo de licenciamento de genéricos de lenacapavir para prevenção do HIV

IAS pede acesso global enquanto Gilead anuncia licenciamento de lenacapavir 

IAS pede acesso global enquanto a Gilead anuncia o licenciamento do lenacapavir 

Em nota, GTPI critica a farmacêutica Gilead por excluir o Brasil dos acordos de licença voluntária para a produção de versões genéricas do medicamento lenacapavir

Boa notícia: Análise intermediária de estudos confirma que o Lenacapavir atinge seus principais objetivos de eficácia.Em nota Gilead informa que executa estratégia de acesso que priorizará países com alta incidência de infecções

Dica de entrevista

GTPI

Tel.: (21) 2223-1040

E-mail: secretariagtpi@abiaids.org.br