Morreu na manhã desta terça-feira (19), aos 75 anos, a ativista Thais de Azevedo, presidente do Grupo Pela Vidda/SP. Thais deixa um legado que transcende gerações, marcado pela sua luta incansável contra o HIV/aids, pela visibilidade e dignidade das pessoas trans e travestis, e por justiça social.

Nascida em 1949 na cidade de Várzea da Palma, interior de Minas Gerais, ela vivenciou, desde cedo, os desafios impostos pelo preconceito e pela repressão. Em um contexto marcado pela Ditadura Militar, encontrou forças para desafiar as normas impostas e trilhar uma trajetória de resistência, dedicando sua vida ao acolhimento e à defesa das populações mais vulneráveis, especialmente da comunidade LGBTIA+.

Sua história de vida é inspiradora. Ainda jovem, enfrentou a rejeição familiar e a opressão social por sua orientação e identidade de gênero. Porém, encontrou no ativismo uma maneira de transformar dor em força. Após anos trabalhando no mundo da moda como manequim de prova, Thais se voltou para o trabalho social, atuando em espaços como a Casa de Apoio Brenda Lee e o Centro de Referência e Defesa da Diversidade (CRD Brunna Valin). Nesses locais, ofereceu cuidado, acolhimento e dignidade a pessoas vivendo com HIV/aids e à comunidade trans.

Thais nunca se deixou definir por rótulos. Para ela, sua existência como mulher trans era um ato político, um reflexo de sua luta por um mundo mais inclusivo. Em uma de suas falas mais emblemáticas, ela declarou: “Eu transito e sou transgressora das regras. Meu corpo é masculino, mas meu sentir vai além do feminino ou masculino. Somos personagens do terceiro milênio, rompendo barreiras e construindo novas narrativas.”

Desde o início de sua jornada como ativista, Thais enfrentou o estigma e a discriminação com coragem. Diagnosticada com HIV em 1986, ela encarou a doença com resiliência, desafiando preconceitos e vivendo quase quatro décadas com o vírus. Sua saúde de ferro e energia contagiante desafiavam o tempo e inspiravam todos ao seu redor.

Para Thais, o envelhecimento como pessoa trans era uma vitória política e pessoal:
“Sou feliz e tomo meus antirretrovirais. Envelhecer como pessoa trans é resistir. Nem a aids conseguiu me derrubar.”

À frente do Grupo Pela Vidda/SP, Thais desempenhou um papel fundamental na luta pela promoção de políticas públicas para pessoas vivendo com HIV/aids. Sua atuação tornou-se um símbolo de empatia, inclusão e respeito às diferenças.

Thais era mais que uma ativista; era uma inspiração. Sua vida, marcada por desafios e conquistas, ecoa como um chamado à luta pela igualdade e pela justiça social. Seu trabalho incansável continuará a guiar aqueles que seguem na luta pelos direitos humanos e pela dignidade das pessoas trans e travestis.

Em comunicado, o Grupo Pela Vidda/SP lamentou a partida de Thais e expressou solidariedade aos amigos e à comunidade, que perde não apenas uma líder, mas um farol de esperança e resistência. Thais de Azevedo nos deixa com um legado eterno: o exemplo de que amar, acolher e lutar são os caminhos para a transformação.

Descanse em paz, com a certeza de que sua luz jamais se apagará.

Redação da Agência de Notícias da Aids