Sudeste foi a região com a maior taxa de cobertura vacinal (32,8%) e a região Sul, a menor (3,5%)
Uma pesquisa, realizada com base em dados do Ministério da Saúde (MS) coletados até abril de 2023, aponta que apenas 18,3% das Pessoas Vivendo com HIV/Aids (PVHA) no País receberam a vacina MVA-BN Jynneos, utilizada para prevenir a Monkeypox (Mpox). Os dados, publicados na Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn), foram divulgados no dia 25 passado.O estudo investigou a situação vacinal contra a Mpox, uma doença zoonótica provocada pelo vírus Mpox, em pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) no Brasil. Nas regiões Sul e Nordeste, a cobertura vacinal é ainda mais preocupante, com apenas 3,5% e 10,1% dos grupos prioritários vacinados nessas áreas, respectivamente.
Em agosto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência global após o aumento de casos notificados da doença. Em 2024, o Brasil já registrou 1.300 casos confirmados de Mpox, sendo 22 deles no Ceará.Segundo a pesquisa, o Sudeste foi a região que apresentou a maior taxa de imunização durante o intervalo analisado, com 32,8% da população-alvo vacinada, enquanto o Sul registrou a menor cobertura, com apenas 3,5%. No Centro-Oeste, a vacinação atinge 13,9% das PVHA, enquanto o Nordeste, que inclui o Ceará, tem uma taxa de 10,1%. O Norte do País apresenta cobertura vacinal de 10,4%. Os números apontam uma disparidade regional nas taxas de vacinação, com destaque para as regiões sul e nordeste, que apresentaram os menores índices de cobertura. Até a data analisada, 2.978 doses da vacina contra mpox foram administradas na população com HIV em todo o Brasil, correspondendo a uma taxa de imunização de 2 a cada 10 pessoas.
A pesquisa revelou ainda que 45,3% dos casos foram reportados em PVHA, em sua maioria homens. No Brasil, a vacina contra a Monkeypox foi introduzida em caráter emergencial em março de 2023, com foco em homens cisgêneros, travestis e mulheres transexuais maiores de 18 anos vivendo com HIV e com contagem de linfócitos T CD4 abaixo de 200 células.Apesar do aumento na quantidade de casos registrados em relação ao mesmo período do ano passado, as taxas de imunização continuam baixas. Das 48.186 doses distribuídas pelo país em 2024, apenas 4.344 foram aplicadas.De acordo com o Ministério da Saúde, a estratégia de vacinação no País prioriza a proteção das pessoas com maior risco de evolução para as formas graves da doença, o que inclui Pessoas Vivendo com HIV/Aids, profissionais de laboratório que trabalham diretamente com Orthopoxvírus e pessoas que tiveram contato com fluidos e secreções corporais de pessoas suspeitas, prováveis ou confirmadas para mpox.
O perfil dos vacinados revela que os homens são a maioria, com mais de 95% das doses aplicadas a esse grupo, especialmente na faixa etária entre 34 e 39 anos. No Ceará, essa predominância masculina segue a tendência nacional, com poucas mulheres completando o ciclo de vacinação, o que aponta para a necessidade de uma abordagem mais inclusiva nas campanhas de saúde pública.Diante desse cenário, a pesquisadora Núbia Tavares, alerta para a importância de ações imediatas que visem aumentar a cobertura vacinal, garantir o acesso equitativo à vacinação e educar a população sobre a gravidade da doença.“A cobertura vacinal é um indicador que permite avaliar o percentual de vacinados naquele território. Desta forma, aumentar a cobertura vacinal significa aumentar a proteção das pessoas que vivem com HIV/AIDS contra a doença e reduzir o risco de evolução para as formas graves da doença e óbito”, explica.
Apesar do amplo acesso à informação e da forte influência das mídias sociais na vida das pessoas, a pesquisadora explica que o discurso anti-vacina precisa ser combatido nas campanhas de vacinação.“A influência que as mídias sociais exercem sobre a vida destas pessoas, a divulgação de informações inverídicas e sem evidências científicas, veiculadas, muitas vezes, por pessoas influentes na sociedade e o apelo emocional imbuído nesses discursos acaba por provocar a descredibilização na eficiência da vacinação”, alerta.A Monkeypox, apesar de endêmica em algumas regiões da África, tem se espalhado por outras partes do mundo, incluindo o Brasil, e representa uma ameaça séria para indivíduos imunocomprometidos.
A baixa adesão à vacinação pode resultar em surtos recorrentes e aumento de formas graves da doença, o que poderia acarretar em uma sobrecarga do sistema de saúde. Assim, as autoridades de saúde do Ceará e de todo o Brasil estão sendo chamadas a reforçar as campanhas de imunização, com especial atenção às populações mais vulneráveis e de difícil acesso, como as PVHA.
Fonte: O Povo