A Polícia Civil do Rio apreendeu neste domingo (20) o equipamento usado pelo laboratório PCS Saleme para fazer testes de HIV. A apreensão foi feita no Humaitá, Zona Sul do Rio de Janeiro, nesta segunda fase da operação Verum, que investiga o caso de seis pessoas que testaram positivo para HIV após receberem órgãos transplantados no Estado do Rio.

Mais cedo, os policiais prenderam Adriana Vargas dos Anjo. Ela era coordenadora do laboratório e é apontada como a responsável pela quebra do protocolo de checagem de antígenos – que era para ser feita diariamente, mas passou a ser semanal com o objetivo de maximizar os lucros do estabelecimento.

Adriana foi presa por agentes da Delegacia do Consumidor (Decon) em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. O laboratório PCS Lab Saleme (que fica em Nova Iguaçu) era o responsável pelos exames dos doadores e apresentou resultado negativo para HIV de dois doadores, mas eles eram soropositivo. Entre os transplantes feitos estão os de rins, fígado, coração e córnea.

 

Transplantes de órgãos com HIV: O que você precisa saber

 

  • Seis pessoas testaram positivo para HIV após receberem órgãos transplantados no Estado do Rio. O laboratório PCS Lab Saleme (que fica em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense) era o responsável pelos exames dos doadores e apresentou resultado negativo para HIV de dois doadores, mas eles eram soropositivo. Entre os transplantes feitos estão os de rins, fígado, coração e córnea.
  • A investigação da Secretaria estadual de Saúde do Rio sobre o caso começou em setembro desse ano e culminou com a interdição do laboratório. A secretaria informou que, desde então, tomou uma série de medidas, como suspensão dos contratos e a abertura de uma sindicância interna para identificar e punir os responsáveis.
  • Mais de 10 unidades de saúde eram atendidas pelo laboratório investigado.
  • Walter Vieira, um dos sócios do laboratório PCS Lab Saleme, é casado com a tia do deputado federal e ex-secretário de Saúde do Rio Doutor Luizinho (PP). Walter é pai de Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, também sócio, que assinou contratos com o governo do estado do Rio. Doutor Luizinho foi secretário de janeiro a setembro de 2023.
  • As investigações indicam que os laudos foram falsificados por um grupo criminoso e usados pelas equipes médicas, induzindo-as ao erro. Isso levou os pacientes a serem contaminados.
  • Um dos pacientes infectados morreu — as causas do óbito ainda estão sendo apuradas.
  • O laboratório PCS Lab Saleme assinou três contratos com o Governo do Rio que, somados, chegam a R$ 17,5 milhões. Dois deles foram realizados de forma emergencial, com dispensa de licitação.
  • Segundo levantamento na Transparência do Estado, até outubro deste ano, o laboratório teve empenhos autorizados pelo governo no valor de R$ 21,58 milhões. A capacidade técnica para produzir exames foi questionada por uma concorrente durante o processo de licitação.
  • “Não fiz nada para adquirir isso. O erro foi de pessoas irresponsáveis”, relatou uma das pessoas infectadas por HIV após receber um rim de um doador soropositivo.
  • A Polícia Civil realizou a operação Verum e cumpriu quatro mandados de prisão e 11 de busca e apreensão em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e na capital. Foram presos na ação Walter Vieira, apontado como sócio do laboratório; e Ivanilson Fernandes dos Santos que, segundo as investigações, é um dos responsáveis técnicos pelos laudos emitidos.
  • A assinatura de Jacqueline Iris Bacellar de Assis aparece em um dos laudos que atestaram que os doadores de órgãos não tinham HIV. Ela reconheceu que as rubricas nos documentos são suas, mas negou qualquer envolvimento no caso e disse que sequer é biomédica. Ela se apresentou à polícia no dia seguinte à operação.
  • O técnico de laboratório Cleber de Oliveira Santos, responsável do PCS Lab Saleme pela análise dos materiais doados à Central Estadual de Transplantes, foi preso no Aeroporto do Galeão, no Rio, dois dias após a operação. O biólogo chegava de João Pessoa, na Paraíba, para se apresentar à Polícia Civil.
  • Os envolvidos são investigados por crime contra as relações de consumo (art. 7º, inciso VII da Lei 8.137/90), associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e infração sanitária, entre outros.
  • Ao definir o caso como um “acontecimento sem precedentes na história do transplante brasileiro”, o ex-presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) e especialista em transplante de fígado, Ben-Hur Ferraz Neto, afirmou que as doações são feitas com “segurança hoje em todo o sistema” e que quem está à espera de um órgão pode ficar tranquilo.
  • Neto falou sobre o protocolo de testagem, definido como “muito rigoroso”, após a constatação do óbito, com testes sorológicos de diversas doenças.
Além de prender Adriana, a polícia cumpriu um mandado de busca contra Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, sócio do laboratório que é primo do deputado federal e ex-secretário de Saúde do Rio Luiz Antônio de Souza Teixeira Júnior, o Doutor Luizinho (Progressistas). No período em que o processo licitatório que culminou na contratação do laboratório se desenrolou, de janeiro a setembro de 2023, Luizinho estava no cargo.

Fonte: O Globo