Tatiane Andrade prestou depoimento na Delegacia do Consumidor nesta terça (15) e afirma que Walter Vieira, da PCS, assinou seu laudo.

Tatiane Andrade foi à polícia nesta segunda-feira registrar o caso — Foto: Dayane Zimmerman/g1

A dona de casa Tatiane Andrade, moradora de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que teve um caso de falso resultado positivo de HIV, foi até a Cidade da Polícia, na Zona Norte do Rio, prestar depoimento na Delegacia do Consumidor, na tarde desta terça (15).

O laboratório que fez o exame é o PCS Lab Saleme, onde outros erros levaram à infecção por HIV de ao menos seis pacientes que passaram por transplantes no Rio – nesta segunda-feira (14), duas pessoas foram presas e outras duas são procuradas.

Antes de prestar depoimento, ela disse que quem assinou o laudo foi Walter Vieira, preso na operação de segunda-feira.

“Quero justiça. Esse laboratório me diagnosticou com HIV, sendo que eu não estava, e deram um coquetel pra minha filha. Foi um erro, porque eles depois viram que erraram e se esquivaram do erro” , disse ela.

A mulher afirma que enfrenta traumas deixados pelo período em que sofreu sem saber se estava infectada ou não.

“Eu não pude alimentar minha filha, fiquei em choque porque ela ficou internada. Passou um furacão na minha cabeça no momento que eu estava mais fragilizada na minha vida, poderia ter acabado com meu casamento”, afirmou Tatiane, que pediu para sua advogada entrar na justiça contra a empresa.

“Não entrei antes porque achei que era um caso só meu, um erro só de uma pessoa. Mas quando eu vi que era o mesmo laboratório que eu e com outras pessoas, eu sofri tudo que elas estão sofrendo”, diz.

Falso positivo

O parto de Tatiane aconteceu na maternidade particular NeoMater, em setembro de 2023. No dia do nascimento da filha, a dona de casa fez um teste de HIV na maternidade, que contrata o PCS para os exames – ambas as unidades ficam em Nova Iguaçu. O resultado deu positivo.

O laudo foi assinado por Walter Vieira – um dos sócios do PCS e preso na Operação Verum por assinar um laudo com falso negativo de um doador de órgão infectado pelo HIV. Vieira é tio do deputado federal Doutor Luizinho (PP), que foi secretário de Saúde do RJ no ano passado.

Após receber a notícia, Tatiane fez então um teste mais aprofundado na própria maternidade, a fim de confirmar o diagnóstico de que teria HIV. Entretanto, a dona de casa afirma que não recebeu o resultado desse teste e que, por isso, decidiu buscar um outro laboratório.

Tatiane disse que ela passou por 26 dias tensos até conseguir esclarecer que, na verdade, nem ela ou o marido estavam infectados com a doença. A angústia só acabou após um teste feito em outro local, em 10 de outubro, e o resultado de ambos deu negativo.

Tatiane aguardava documentos para processar a maternidade e o laboratório. Após ver as notícias sobre os transplantados infectados pelo HIV, decidiu levar seu caso à polícia. O registro da ocorrência foi feito na tarde de segunda (14), na 56ª DP (Comendador Soares).

O que dizem os citados

O g1 entrou em contato com os citados.

A direção da NeoMater afirma que “em razão do sigilo” não pode comentar e que “a paciente em questão recebeu todos os esclarecimentos devidos durante a permanência na unidade”. “Mesmo após a alta mantemos à disposição todos os resultados dos exames realizados e acesso ao prontuário, exatamente por ser direito do paciente”, diz a nota.

Em nota, o PCS Lab Saleme afirma que este também é o posicionamento de Walter Vieira sobre o caso e “informa que o resultado do terceiro teste da gestante estava disponível desde o dia 29/09/23, mesma data em que foi acessado pela maternidade”.

“Entre 12/10/23 e 14/01/24, o resultado do exame foi impresso 12 vezes pela equipe da maternidade, conforme registro em sistema. O PCS Lab esclarece, ainda, que é responsabilidade dos hospitais informar os resultados de exames de pacientes atendidos ou internados nessas unidades”.

Sobre o erro no exame, o PCS Lab Saleme informa que seguiu o protocolo do Ministério da Saúde para diagnóstico de HIV em gestantes. Casos de falso-positivo para HIV em gestantes podem acontecer não por erro de diagnóstico, segundo a literatura médica e o Ministério da Saúde.

“Isso ocorre por conta do surgimento de anticorpos no organismo da gestante, decorrentes de alterações hormonais, que interagem e interferem com os reagentes dos testes de diagnóstico. Após dois resultados falso-positivos, o diagnóstico negativo foi confirmado pelo terceiro teste, seguindo a recomendação do Ministério da Saúde”, diz a nota.

A defesa de Walter Vieira afirmou que não tinha conhecimento do caso e que vai apurar.

Fonte: G1