A recente notícia sobre a infecção por HIV de seis pacientes transplantados no estado do Rio de Janeiro causou um grande impacto na comunidade de saúde e no ativismo social. Organizações e ativistas expressaram sua indignação e exigem respostas rápidas e efetivas das autoridades. A gravidade do ocorrido vai além das falhas protocolares, trazendo à tona questões sobre a responsabilidade do poder público e os riscos que esse tipo de negligência representa para a confiança no Sistema Único de Saúde (SUS).

“Esse fato nos traz revolta e indignação ao ver como ainda somos vítimas das falhas do poder público e de suas negociatas”, disse Vando Oliveira, Secretário Político da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids.

A ativista Márcia Leão, do Fórum de ONGs/Aids do Rio Grande do Sul, expressou tristeza e perplexidade com o ocorrido. “Nossa prioridade deve ser garantir todo o apoio e solidariedade às pessoas infectadas durante esses procedimentos. O que ocorreu foi um ato criminoso e deve ser tratado como tal pelas autoridades competentes.”

Camila Lima, do Fórum de ONGs/Aids do Mato Grosso, alertou para o impacto que o episódio pode ter no estigma enfrentado por pessoas vivendo com HIV. “Esse episódio causa um impacto negativo nas pessoas que vivem com HIV, intensificando o estigma e o preconceito.”

O episódio no Rio de Janeiro repercutiu intensamente em veículos de comunicação e nas redes sociais, gerando uma onda de solidariedade às vítimas e críticas ao sistema de saúde. Organizações que atuam na defesa das pessoas vivendo com HIV reforçam a necessidade de ações concretas do governo para investigar as falhas, punir os culpados e garantir que incidentes como esse não voltem a ocorrer.

Confira a seguir o que dizem os ativistas da luta contra aids:

Vando Oliveira, Secretário Político da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids:

“Esse fato nos traz revolta e indignação ao ver como ainda somos vítimas das falhas do poder público e de suas negociatas. O mais importante agora é acolher essas pessoas que foram vítimas de tamanha irresponsabilidade, oferecendo apoio integral. Além disso, é fundamental punir os responsáveis e cobrar do governo do Rio de Janeiro, bem como dos órgãos de controle e vigilância, para que isso não volte a ocorrer. No momento em que deveríamos estar reforçando a mensagem de que ‘Indetectável é igual a intransmissível’, o Brasil vira manchete nos veículos de comunicação por causa de um erro grave e irresponsável que tem levado pessoas a se infectarem. Agora é o próprio Estado que está infectando, ao invés de proteger e cuidar das pessoas.”

 Márcia Leão, do Fórum de ONGs/Aids do Rio Grande do Sul:

“Recebi com imensa tristeza e perplexidade a notícia da infecção por HIV de seis pacientes transplantados no Rio de Janeiro. Nossa prioridade deve ser garantir todo o apoio e solidariedade às pessoas infectadas durante esses procedimentos. O Estado deve assegurar um tratamento integral, que abranja tanto os aspectos relativos ao HIV quanto os relacionados aos transplantes, além do acompanhamento psicológico necessário. O que ocorreu foi um ato criminoso e deve ser tratado como tal pelas autoridades competentes. Existem protocolos que não foram seguidos, e isso resultou em crime ao infectar os pacientes transplantados. O sistema brasileiro de transplantes é referência mundial e a efetividade do SUS é inquestionável. Não podemos permitir que atos irresponsáveis, cometidos por uma prestadora de serviços, prejudiquem a reputação de um sistema que é eficaz. Portanto, é urgente que as responsabilidades, tanto civis quanto criminais, sejam apuradas com a maior brevidade e rigor. Também é necessário criar mecanismos que verifiquem o cumprimento dos protocolos já existentes e, se necessário, desenvolver novos. Precisamos garantir que esse ato criminoso não comprometa todo o sistema, reforçando estigmas e preconceitos tanto em relação ao HIV quanto aos transplantes, e, principalmente, que isso não enfraqueça o SUS, que precisa ser valorizado.”

Salvador Correa, sanitarista e membro da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids – núcleo Rio de Janeiro:

“A infecção por HIV ocorrida em pacientes transplantados no Rio de Janeiro é uma das maiores violências perpetradas pelo Estado na área de HIV e AIDS nos últimos anos. Mesmo após alguns dias da denúncia, carecemos de uma contundente resposta do Estado do Rio de Janeiro que garanta que isso nunca mais vai ocorrer. Vimos o esforço imediato do Ministério da Saúde em mobilizar a testagem de todas as pessoas que receberam órgãos, suspender a testagem pela clínica e designar o Hemorio para esse serviço. São ações importantes, porém ainda incipientes para garantir que isso nunca mais se repita. É urgente que órgãos e hemoderivados não estejam a cargo da iniciativa privada. Isso NUNCA ocorreu dentro dos centros de pesquisa públicos, que colocam a saúde em primeiro lugar. Contratos milionários com laboratórios duvidosos que não entregam o acordado nos faz quer que o estado do Rio falha com saúde de sua população ao entregar a iniciativa privada o que era de sua responsabilidade. Necessitamos urgente de garantias de que isso não vai se repetir. Toda solidariedade as pessoas que passaram por essa violência institucional. Vocês não estão só! Após quatro décadas voltamos a lutar pelas primeiras causas, que tanto nos ensinou Betinho, exigindo o controle do sangue. Apenas com um estado comprometido com a saúde pública, com interesse público e de qualidade e que poderemos frear tanto retrocesso. Estamos estarrecidos com o ocorrido! É urgente que tenhamos uma gama firme de medidas políticas dentro dos princípios de legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência, como prevê a administração pública. Abaixo a privatização da testagem do sangue e órgãos. Como nos lembra Betinho: “Sangue não é mercadoria!”

Camila Lima, do Fórum de ONGs/Aids do Mato Grosso:

“Esse episódio causa um impacto negativo nas pessoas que vivem com HIV, intensificando o estigma e o preconceito. Hoje falamos em zerar as transmissões de HIV, e fatos como este expõem a vulnerabilidade dos testes e dos procedimentos em unidades de saúde. Temos 40 anos de história no combate ao HIV no Brasil, mas ainda não alcançamos a eficácia necessária nos atendimentos de saúde, que antes eram monitorados pelo movimento social, mas que foi afastado das políticas públicas e está apenas começando a retomar esse papel. Precisamos de mais pesquisas e, principalmente, de possibilidades de cura já!”

Redação da Agência de Notícias da Aids

 

Dica de entrevista

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