A Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou que a mpox representa novamente uma emergência de saúde pública internacional frente ao avanço de casos em países africanos e à identificação de uma nova cepa do vírus, chamada de Clado 1b, mais grave. A linhagem também já foi detectada na Suécia.

A mpox é uma infecção viral endêmica em alguns países da África Central e Ocidental que saiu pela primeira vez do continente em 2022, quando houve o primeiro surto global da doença. A versão do vírus responsável pela disseminação na época, chamada de Clado 2b, continua a circular – por isso, ainda que os casos tenham diminuído pelo mundo, ainda há registros de forma contínua.

Agora, porém, a linhagem mais grave também tem se propagado de forma alarmante, chegando a quatro países africanos que não tinham casos de mpox, levando os casos na República Democrática do Congo a explodirem, com mais de 500 mortes, e sendo detectada na Europa.

No Brasil, o Clado 1b ainda não foi identificado, porém, segundo o Ministério da Saúde, 709 casos pela versão mais antiga do vírus foram registrados em 2024. Mas onde pode ser feito o teste para detectar a mpox? Quais sintomas devem acender o alerta? E os testes atuais funcionam para casos provocados pela nova cepa? O GLOBO conversou com especialistas que responderam às dúvidas.

Quais os sinais de alerta?

O tempo de incubação do vírus, ou seja, desde a contaminação até o início dos sintomas, varia entre 3 a 21 dias. No início, a doença se manifesta com sintomas comuns de infecções virais, como febre, aumento dos linfonodos, cansaço e dores musculares. Dentro de alguns dias, costumam surgir as lesões características na pele que, junto com um histórico de exposição a alguém contaminado, costumam ser o maior sinal de alerta.

“Quando a pessoa começa a ficar doente, tem sintomas muito não específicos, o que atrapalha um pouco o diagnóstico. Normalmente, quando fazemos o teste é pela análise do vírus na bolha, nas vesículas que podem aparecer em qualquer lugar, no pescoço, no tórax, na região genital. Rompe-se a bolha e colhemos o material que tem dentro dela com um cotonete, que é muito rico em vírus. A bolha é sempre o melhor local, também é possível analisar saliva, urina, outros materiais, mas a sensibilidade é muito menor”, explica o infectologista Celso Granato, da Clínica Felippe Mattoso, do Grupo Fleury, e da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML).

Ele conta que o teste usa uma tecnologia de PCR, que também é utilizada por laboratórios para a Covid-19 e que é considerado “padrão ouro” para o diagnóstico:

“Ele é muito sensível e muito específico para esse vírus. Como tivemos o surto em 2022, embora tenha diminuído muito o número de casos, eles não deixaram de existir no Brasil e temos os testes disponíveis. Aqui em São Paulo, por exemplo, periodicamente recebemos amostras do Centro de Referência HIV/Aids para análise, mais ou menos toda semana, ou a cada 10 dias, temos um caso positivo.”

Qual o valor do teste?

O teste é oferecido em laboratórios privados e na rede pública do país. Em unidades particulares, os valores são de em média R$ 450, segundo um levantamento feito pelo GLOBO com as principais unidades brasileiras. O exame depende de pedido médico e, com isso, o custo pode ser coberto pelos planos de saúde.

“Para os pacientes que apresentam sintomas, o importante é procurar o médico o quanto antes. Além do clínico geral, outros especialistas como infectologista, dermatologista, urologista e ginecologista podem avaliar e prescrever o pedido de teste para o diagnóstico da doença”, orienta Alberto Chebabo, infectologista da Dasa e presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

O teste pode ser feito no SUS?

Na rede pública, o Ministério da Saúde orienta que pessoas com sintomas de mpox procurem uma unidade de saúde para avaliação, onde o material é coletado e enviado para laboratórios de referência que farão o diagnóstico. O paciente deve informar se teve contato próximo com alguém com suspeita ou confirmação da doença. Enquanto espera o resultado, a pasta recomenda o isolamento e a higienização constante das mãos.

“O teste para diagnóstico laboratorial será realizado em todos os pacientes com suspeita da doença. A amostra a ser analisada será coletada, preferencialmente, da secreção das lesões. Quando as lesões já estão secas, o material encaminhado são as crostas das lesões. As amostras estão sendo direcionadas para os laboratórios de referência no Brasil”, explica o ministério.

Helio Magarinos Torres Filho, diretor médico do Richet Medicina & Diagnóstico, no Rio, destaca a importância de buscar a testagem no caso de suspeita. Após o surgimento dos sinais mais tradicionais, como febre e dores no corpo, as bolhas podem levar até uma semana para aparecer.

“É fundamental que o diagnóstico precoce seja feito, para reduzir a propagação da doença, além de ser essencial para o diagnóstico diferencial com outras doenças que apresentam sinais e sintomas semelhantes, como herpes simples e sífilis”, diz.

O teste identifica um caso da nova cepa?

Ele explica ainda que o teste consegue identificar um caso de mpox, independentemente de qual seja a variante que cause a infecção. Porém, destaca que, para identificar qual é a cepa exata, especialmente no contexto em que se busca impedir a entrada do Clado 1b no país, será necessário um esforço para que seja feita a análise genética da amostra.

“Diante do alerta emitido pela OMS, é necessário fornecer orientações aos laboratórios de referência sobre o envio de amostras para a identificação do Clado 1b. Os exames de PCR tradicionais disponíveis nos laboratórios clínicos não conseguem distinguir este clado dos outros, ou seja, o resultado só sai como positivo”, diz.

Onde fazer o teste em laboratórios privados?

Entre as unidades privadas do grupo Fleury, o PCR para mpox está disponível na marca Fleury Medicina e Saúde, em SP, e no Felippe Mattoso, no RJ. Já na rede de saúde Dasa, o exame é oferecido nos laboratórios Alta Diagnósticos, Sérgio Franco, Lâmina e Bronstein, no Rio, e nas unidades Delboni, Lavoisier, Salomão Zoppi, Alta Diagnósticos, Previlab, Cytolab, Valeclin e Vital Brasil, em São Paulo. A Richet Medicina & Diagnóstico também realiza o procedimento no Rio.

A Dasa tem ainda o teste nas marcas Atalaia, Bioclinico, Cedic Cedilab e Exame, no Centro-Oeste, e nos laboratórios Frischmann, Ghanem e Álvaro também contam com o novo exame, na região Sul. No Nordeste, está disponível nas unidades de Cerpe, Gilson Cidrim, Gaspar, Lab Pasteur e Leme.

Fonte: O Globo