A 25ª Conferência Internacional de Aids, realizada entre os dias 20 e 26 de julho em Munique, reuniu participantes de diversas partes do mundo.

Em cerca de 50 sessões de palestrantes convidados, mais de 40 sessões de resumos orais, 20 workshops, 17 pré-conferências, 30 simpósios, 100 sessões satélites e 2.200 pôsteres, temas relacionados ao HIV/Aids, saúde e patologias associadas foram apresentados e debatidos profundamente. A Agência Aids coletou a opinião de especialistas que participaram do evento. Confira algumas delas:

Dr. Fábio Mesquita, epidemiologista e professor de Saúde Coletiva na Unifesp:

“As metas para 2025 eram de 95, 95, 95. Entretanto, ao final de 2023, estamos com 86, 77 e 72. O principal problema apontado na conferência foi a falta de compromisso político de diversos governos na luta contra a aids, subestimando o impacto de uma doença que, só no ano passado, teve 1,3 milhão de casos novos e 630.000 mortes. As boas notícias da conferência incluem a PrEP injetável de longa duração, o uso de apenas dois medicamentos no tratamento para pessoas que já estão indetectáveis, medicamentos injetáveis para a cura, seis vacinas em estudos avançados, testes de HIV de quarta geração, entre outras inovações. A cereja do bolo da conferência foi, sem dúvida, a posse da médica brasileira Beatriz Grinsztejn como presidente da IAS. Pela primeira vez em 25 conferências internacionais, uma brasileira foi eleita para dirigir a maior organização de luta contra aids no planeta. Nossas expectativas voltaram a se elevar, e torcemos para que o mundo atinja o SDG de 2030, para que a aids deixe de ser um problema de saúde pública global.”

Adriana Bertini, artivista e diretora de Projetos no Instituto Cultural Barong:

“Esta conferência foi especialmente significativa, pois, pela primeira vez, apresentou cerca de 34 trabalhos globais entre pôsteres, mesas e resumos sobre meio ambiente, abordando o impacto das mudanças climáticas nas pessoas vivendo com HIV. Esses temas são muito importantes para fortalecer ações comunitárias efetivas. Na minha visão, o tema da saúde ambiental teve destaque na conferência como nunca antes. É fundamental discutir a crise climática e o impacto ambiental na saúde das pessoas vivendo com HIV/aids, considerando fatores como adesão ao tratamento, insegurança alimentar e saneamento básico precário em comunidades de baixa renda. Espero que o tema ganhe mais força e destaque, especialmente diante das recentes chuvas devastadoras em Porto Alegre, o que ressalta a urgência de criar estratégias para que comunidades e ONGs possam lidar com os desafios ambientais e a crise climática de maneira eficaz.”

Dr. Rico Vasconcelos, infectologista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo:

“A aids é uma conferência que define os caminhos que o mundo vai seguir para enfrentar as epidemias de HIV/aids e outras ISTs. Nela, são apresentadas as novidades e os limites da ciência e da medicina, além de haver bastante espaço para a sociedade civil se posicionar quanto às suas expectativas e prioridades. Na Aids 2024, o que me pareceu mais marcante foi a consolidação do que será o futuro da prevenção. Isso se deve, primeiramente, ao acesso aos detalhes dos primeiros resultados da espetacular nova PrEP injetável de longa duração feita com o antirretroviral Lenacapavir subcutâneo semestral, que atingiu 100% de proteção contra o HIV entre mulheres cis africanas. Além disso, foram apresentados os resultados de uma análise aprofundada sobre DoxiPEP, realizada por pesquisadores franceses, demonstrando que seu uso não promove qualquer tipo de seleção de resistência bacteriana que mereça preocupação, autorizando, portanto, os estudos de implementação desse promissor método de prevenção contra ISTs bacterianas. Por fim, é gratificante ver a sociedade civil apoiando os achados científicos e cobrando a rápida expansão de acesso a essas novas tecnologias.”

Redação da Agência de Notícias da Aids 

* A Agência de Notícias da Aids cobriu esta edição da Conferência com o apoio do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi) do Ministério da Saúde e da Coordenadoria Municipal de IST/Aids de São Paulo. Os portais de notícias IG, Catraca Livre e a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) também receberão informações sobre o evento.

Dicas de entrevista

Dr. Fábio Mesquita

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Adriana Bertini

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Dr. Rico Vasconcelos

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