A Conferência Internacional de Aids, em Munique, terminou no ultimo dia 26, no entanto, os debates da Aids 2024 ainda reverberam. Nesta segunda-feira (5), a Agência Aids apresenta a história de uma instituição africana dedicada à prevenção e tratamento do HIV/aids. A ONG ADPP (De Povo Para Povo) tem se empenhado nos últimos 25 anos no combate ao HIV em Angola, focando nas necessidades das pessoas. Evaristo Waya, gestor de parcerias da ADPP, destaca que a essência do trabalho da organização é “ganhar com as comunidades e para as comunidades”. Este princípio está alinhado com o tema central da 25ª Conferência Internacional de Aids: ‘colocar as pessoas em primeiro lugar.’
Evaristo explica que a abordagem de colocar as pessoas em primeiro lugar é um pilar contínuo na história da ADPP. “Nosso lema ‘De Povo Para Povo’ reflete nossa crença de que as próprias pessoas devem decidir sobre suas vidas e como enfrentar uma epidemia. Este princípio é fundamental para nosso trabalho com o HIV.”
A ADPP trabalha próximo às comunidades, utilizando agentes comunitários de saúde para conectar a população aos serviços médicos. “Nossos agentes são essenciais para levar serviços diretamente às pessoas, garantindo acesso à informação e cuidados necessários,” afirma Evaristo.
Para combater a transmissão do HIV, a instituição oferece serviços de aconselhamento e testagem, focando na prevenção da transmissão de mãe para filho. “Acompanhamos gestantes vivendo com HIV e garantimos tratamento adequado para elas e seus filhos, desde o pré-natal até o acompanhamento pós-natal,” detalha Evaristo.
Juventude
O empoderamento dos jovens é outro pilar fundamental. A organização promove educação sobre saúde sexual e reprodutiva e desenvolve programas de capacitação para melhorar as perspectivas econômicas dos adolescentes e mulheres jovens. “Com 60% da população angolana sendo jovem, investir no empoderamento juvenil é crucial para enfrentar o HIV e preparar os jovens para o futuro.”
Mulheres e meninas
A desigualdade aumenta a vulnerabilidade ao HIV entre meninas e mulheres jovens. “O cuidado e a educação que oferecemos fazem uma enorme diferença na vida delas. Estamos comprometidos em fornecer um pacote completo de serviços para prevenir e tratar o HIV.”
A inclusão de grupos marginalizados é uma prioridade para a ADPP. Waya destaca a importância de uma abordagem inclusiva, abrangendo homens que fazem sexo com homens, trabalhadores do sexo e pessoas LGBTQIA+. “Criamos grupos de apoio e mecanismos comunitários para garantir a continuidade do tratamento e combater o abandono.”
Em Angola, a tuberculose, uma co-infecção comum entre pessoas vivendo com HIV, é um desafio significativo. “Desenvolvemos estratégias para rastrear e tratar a tuberculose, incluindo um sistema de padrinhos que garante a adesão ao tratamento,” explica Waya.
Sobre prevenção, o ativista explicou que diferentemente do Brasil, Angola ainda não possui uma política formal de acesso à profilaxia pré-exposição (PrEP) e autoteste de HIV. “Desde abril do ano passado, iniciamos um projeto piloto em duas províncias para testar essas abordagens, esperando que sejam integradas nas políticas nacionais em breve,” comenta Evaristo.
O trabalho em Angola conta com parcerias com a Fiocruz e outras instituições brasileiras para compartilhar experiências.
A ADPP aposta na humanização, integração e empoderamento das comunidades como caminhos para transformar o cenário do HIV em Angola, na África e no mundo. “Nosso trabalho é verdadeiramente centrado nas pessoas. Ao longo de 25 anos, temos visto o impacto positivo dessa abordagem. Isso faz toda a diferença na vida das pessoas vivendo com HIV e tuberculose,” conclui Evaristo.
Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)
* A Agência de Notícias da Aids cobriu esta edição da Conferência com o apoio do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi) do Ministério da Saúde e da Coordenadoria Municipal de IST/Aids de São Paulo. Os portais de notícias IG, Catraca Livre e a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) também receberão informações sobre o evento.
Dica de entrevista
Site: www.adpp-angola.org