Histórias de mulheres negras da terceira idade, vivendo e convivendo com HIV/aids, foram destaques na tarde desta quinta-feira (25), na Conferência Internacional de Aids, em Munique, Alemanha. A discussão abordou o etarismo sexual, o preconceito racial e o aumento dos casos de HIV entre mulheres, especialmente negras. O debate destacou a necessidade de reconhecer e normalizar a sexualidade na terceira idade e as implicações disso para a saúde, incluindo os estigmas raciais que afetam os corpos femininos negros.
Durante a sessão, as palestrantes enfatizaram como o machismo, o racismo, a sorofobia e o etarismo contribuem para a opressão dessas mulheres e destacaram as necessidades específicas dessa população.
Megan Ebor, especialista em gerontologia, iniciou a discussão ressaltando a importância de considerar as identidades múltiplas de uma forma holística. Ela explicou que “etarismo se refere a estereótipos, que são sobre como pensamos; preconceito é sobre como nos sentimos, e discriminação é como agimos em relação aos outros.” Ebor também destacou que o etarismo sexual é uma forma de discriminação que ignora a realidade da atividade sexual entre pessoas idosas, especialmente mulheres negras, como se não tivessem direito ao sexo e ao prazer. “Se aderirmos aos estereótipos, podemos acabar adotando práticas discriminatórias baseadas neles. Como nos sentimos impacta como pensamos e, então, como agimos,” afirmou.
Madeline Y. Sutton, ginecologista obstetra e ex-epidemiologista médica do CDC dos EUA, continuou a discussão enfatizando a importância de abrir o diálogo sobre sexualidade na terceira idade de maneira natural e qualificada. Sutton compartilhou histórias, incluindo a de um casal negro que falou abertamente sobre a alegria do sexo na terceira idade, destacando que a intimidade sexual pode melhorar com a idade e trazer benefícios físicos, emocionais, psicológicos e relacionais. O casal, com mais de 30 anos juntos, relatou que o sexo melhorou com o envelhecimento, especialmente após se tornarem um “ninho vazio”.
No entanto, apesar das descobertas positivas sobre a sexualidade na terceira idade, também surgem desafios que precisam de atenção, como a exposição ao HIV/aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Sutton apresentou dados preocupantes sobre o aumento do HIV entre a população idosa e mencionou um estudo recente do podcast ‘Hearing Aid Podcast’, que revelou que 59% das pessoas com 50 anos ou mais são sexualmente ativas, mas muitas mulheres solteiras enfrentam dificuldades para usar preservativos, com 50% dos homens e 29% das mulheres relatando uso raro ou inexistente.
Sobre as disparidades raciais nos EUA, Sutton observou que “as pessoas negras representam cerca de 12% da população dos EUA, mas 37% dos casos de HIV. Mulheres negras são desproporcionalmente afetadas, representando cerca de 20-25% do total de pessoas vivendo com HIV/aids nos EUA e 47% das novas infecções por HIV até 2022.” Ela concluiu a apresentação destacando a necessidade de estratégias de prevenção que reconheçam o papel da sexualidade na vida das mulheres negras mais velhas e a importância de preparar a próxima geração de profissionais para lidar com essas questões.
Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)
* A Agência de Notícias da Aids está cobrindo esta edição da Conferência com o apoio do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi) do Ministério da Saúde e da Coordenadoria Municipal de IST/Aids de São Paulo. Os portais de notícias IG, Catraca Livre e a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) também receberão informações sobre o evento.