Eduardo Pereira (PSD) foi filmado se mostrando indignado quando soube que faria a leitura do projeto. A proposta visa o atendimento a pessoas trans e travestis na obtenção de documentos para a alteração de nome e gênero.
Um vereador evangélico se recusou a ler a apresentação de um projeto de lei voltado ao público LGBTQIA+ durante a sessão ordinária na Câmara de Bertioga, no litoral de São Paulo. Eduardo Pereira (PSD) abandonou o plenário enquanto perguntava aos outros parlamentares se o estavam ‘zoando’.
A situação aconteceu durante a sessão da última terça-feira (21) após o presidente da câmara indicar que o parlamentar faria a leitura do projeto de autoria da vereadora Renata da Silva Barreiro (PSDB). Confira abaixo a reação do parlamentar:
- “Ah não Renata, vou sair fora”
- “Tá louco? Não faz isso comigo. […] dar um projeto LGBT para mim?”
- “Não, toma, pega aí”, disse ao entregar o documento e se retirar.
O projeto de lei 035/2023 prevê a criação do programa ‘Respeito tem Nome’, que visa garantir o atendimento digno e facilitado a pessoas trans e travestis na obtenção de documentos necessários para a alteração do prenome [primeiro nome] e gênero em registros.
Após a aprovação do projeto em 1ª discussão, a vereadora Renata pediu para se manifestar sobre o ocorrido e afirmou que o projeto se resume ao respeito.
“Não estou falando de homem, de mulher, de via**, do que quer que seja. Estou falando de respeito, falo de cidadania, de ser humano e de humanização. A minha religião é Deus e ela me permite que eu aceite qualquer tipo de pessoa”, disse ela.
O que diz o vereador?
Procurado pelo g1, o vereador afirmou que, como cristão, percebeu que o projeto foi passado para que ele fizesse a leitura por este motivo. “Não hostilizei ninguém, nem fiz críticas ou alguma consideração”.
Segundo Eduardo, está ocorrendo uma polêmica ‘sem necessidade’ em relação ao assunto. Ele negou ter tirado sarro ou dado risada da situação, mas ressaltou: “Assim como respeito a todos, também mereço respeito na minha posição de não ter feito a leitura. Deus ama a todos e eu também”. Veja a seguir:
LGBTFOBIA NA CÂMARA MUNICIPAL DE BERTIOGA ❌?
Um vereador se negou a ler PL de pauta LGBT. Vamos pedir o afastamento do seu cargo de 2º Secretário da Mesa Diretora, já que ele se recusou a cumprir sua função. A intolerância e o preconceito não têm mais espaço na política! pic.twitter.com/XYmUYdim0S— Guilherme Cortez (@cortezpsol) May 22, 2024
Quem é Eduardo Pereira?
Eduardo é evangélico, engenheiro civil e bacharel em direito. O vereador iniciou a carreira política na campanha plebiscitária da emancipação de Bertioga.
Ele foi assessor parlamentar da Câmara Municipal da cidade, onde atuou por 10 anos. Em 2004, foi eleito para seu primeiro mandato com 1278 votos. Em 2008, foi eleito vice-prefeito de Bertioga com 12.226 votos. De 2009 a 2010 assumiu a Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos.
Desde então, foi assessor técnico na Secretaria de Estado do Emprego e Relações do Trabalho. Ele assumiu a Diretoria Regional do Trabalho e Renda da Baixada Santista, mas se afastou para concorrer às eleições de 2016, quando foi eleito para o segundo mandato parlamentar com 1.049 votos. Em 2020 foi reeleito com 1.223 votos.
O g1 tentou contato com a Câmara de Bertioga e com a vereadora Renata, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Nota de repúdio
O IVN – Instituto Vida Nova – ONG que na Zona Leste da cidade de São Paulo se dedica a cuidar e proteger os direitos das pessoas vivendo com HIV/Aids -, emitiu uma nota de repúdio se posicionando contra o vereador Eduardo Pereira devido ao seu comportamento durante a condução da mesa diretora. O Instituto condenou a ação do político em se recusar a desempenhar seu papel como 2º Secretário da Mesa Diretora na discussão de um projeto de lei voltado à promoção da cidadania LGBTQIA+, classificando a atitude como inaceitável, prejudicial e exigindo medidas corretivas imediatas para reparar a situação. O presidente Américo Nunes Neto é quem assina a carta. Clique aqui para ler na íntegra
Redação da Agência Aids com informações do G1