Etimologicamente, o Investimento Social Privado – ISP é a mobilização de recursos privados de empresas para fins públicos, assim, o ISP tem como premissa a promoção de práticas estratégicas, planejadas e monitoradas, por meio do apoio de inciativas sociais multifacetadas.
O ISP tem como premissa fortalecer a atuação das Organizações da Sociedade Civil, com vistas a potencializar o trabalho de base comunitária sobretudo nos territórios de segregação socioespacial, onde o Estado não se faz presente e/ou suficientemente presente, para desenvolver ações que promovam o sistema de garantia de direitos e cidadania plena, incidindo politicamente nas três esferas do poder: executivo, legislativo e judiciário. A prática da filantropia corporativa mudou, tornando-se mais especializada e sendo encarada como um investimento de fato, além da preocupação com a mensuração dos resultados.
A parada do Orgulho LGBT consolida-se como a maior do mundo e movimenta a economia da capital, causa, no mínimo, certa estranheza, o fato que uma população a qual consegue realizar o segundo maior evento turístico com expressiva rentabilidade para cidade de São Paulo, de acordo com os dados do Observatório de Turismo e Eventos – OTE, movimentou, em 2022, um valor de 764 milhões para a economia da cidade. O acrônimo gera 10 bilhões de reais por ano ao país, o gasto médio de uma pessoa LGBT é 14% maior comparado aos não LGBT. Com todas essas cifras, como ainda essa população tenha que se perguntar onde estão os recursos para sua comunidade?
É muito lindo ver na Paulista funcionários de diversas empresas vestindo camisas em alusão à luta LGBTfóbica, mas “só vestir a camisa da diversidade LGBTQIA+” não é suficiente. Contratar funcionários “diversos” para a sua organização e abrir vagas exclusivas também se faz necessário. Até aí e aqui o apoio do ISP tem sido endógeno, é preciso quebrar a fronteira das corporações, trazer o apoio para além da própria empresa pois nem toda a população LGBTQIA+ poderá acessar a “diversidade” que a empresa está ofertando para seu grupo de colaboradores.
Há um país inteiro esperando por ações que garantam acesso, permanência e sucesso no mercado. As poucas empresas que têm feito algo, restringem-se à lógica do produto X e retorno da marca X, contratualizam a ação da filantropia na mão de empresas de lucro, transformando em “negócio” o conceito de filantropia.
Diante do exposto, se faz necessário que as empresas estreitem laços e parcerias com as Organizações da Sociedade Civil – OSC que atuam em comunidades de base comunitária com a população LGBTQIA+, sobretudo incorporando soluções de impacto em seus modelos de negócio, conforme (ESOLIDAR) “quando uma empresa está envolvida em melhorar o mundo, o ambiente de cooperação acontece dentro e fora do negócio”, nesse sentido, “o impacto positivo não proporciona apenas um melhoramento de imagem da empresa, mas resultados efetivos em termos competitivos, as iniciativas que geram impacto permitem criar uma economia sustentável e não apenas doar para uma causa”.
O impacto social está intrinsicamente ligado as mudanças a curto, médio e longo prazo de transformações dos desafios para promover o sistema de garantia de direitos da população LGBTQIA+.
Assim, se faz necessário que as empresas se estruturem com vistas à consolidar uma economia sustentável voltado para a população LGBTQIA+, com a premissa de apoiar projetos das OSC`s através de parcerias de médio e longo prazo, promovendo transformações simbólicas e concretas, por meio de processos e serviços inovadores que atendam a desafios sociais.
O Fundo Independente é uma característica própria da filantropia brasileira, é um Fundo privado que não tem um único mantenedor, senão um coletivo de mantenedores. Atuando na perspectiva de contribuir para o fortalecimento da sociedade civil, sendo um grantmaker, financia projetos das OSC, com a característica de propiciar agilidade e facilidade nos financiamentos ofertados.
A filantropia promovida pelo Fundo Positivo não é meramente Para e sim Com, Com de Construção Conjunta com o movimento, que de mero beneficiário passa a ser parceiro. Nesse aspecto, não se trata de mera retórica, uma vez que se entende filantropia como base de sustentabilidade política, reforçando na sociedade o movimento de acesso equânime a direitos.
O entendimento de que a filantropia comunitária é participativa com o movimento social, vem também por identificar a importância do protagonismo estar naqueles que advém do campo.
Para finalizar, resta a mensagem que, sim, a filantropia comunitária do Fundo Positivo ainda apresenta muitos desafios, mas sendo energizados pela potência daqueles que estão na base, sendo parceiros no obstáculo de romper com as estruturas das desigualdades, essa é a razão da existência do Fundo Positivo.
* Harley Henriques do Nascimento é militante no campo do HIV/Aids há 30 anos. Administrador de empresas, com mestrado em Gestão e Sustentabilidade de Organizações da Sociedade Civil pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Fellow da Ashoka e líder Avina. Fundador e coordenador geral do Fundo Positivo.
** Este artigo foi escrito em parceria com Élida Miranda dos Santos, pedagoga, especialista em Gestão de Políticas Públicas, mestre e doutoranda em educação, ambos pelo Programa de Educação: História, Política, Sociedade (EHPS/PUCSP). Atuante na área de direitos humanos desde a adolescência, coordenando diversos trabalhos no campo. Atualmente é diretora executiva do Fundo Positivo e gerente de projetos.