Cobrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em reunião ministerial e pressionada no cargo pelo Centrão por causa do orçamento bilionário da pasta, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, vem sendo um dos focos de atenção no cenário político nesta semana.

No entanto, diferentes atores sociais e políticos defendem a permanência da ministra à frente do Ministério da Saúde. Nísia é cientista social de formação e não é filiada a partido político, sendo uma das indicações técnicas de Lula. É a primeira mulher a chefiar a pasta desde a sua criação em 1953, durante o governo de Getúlio Vargas. Desde então, passaram pelo cargo 50 homens. Ela já havia sido a primeira a ocupar a presidência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – em 120 anos da instituição – em 2017.

Com orçamento de R$ 189 bilhões, o ministério é alvo do desejo dos parlamentares que vislumbram emendas, cargos e projeção eleitoral.A liberação de emendas pela Saúde e a distribuição de cargos nos Estados estão entre as principais reclamações dos parlamentares sobre a Saúde.

A defesa pela manutenção no cargo também foi pauta do Movimento Social da Luta Contra Aids em julho do ano passado. Em entrevista à Agência Aids, os ativistas disseram que Nísia Trindade foi o melhor que poderia ter acontecido para a pasta. “A ministra já mostrou uma grande sensibilidade para a temática do HIV/aids quando assumiu a pasta e restituiu o Departamento de HIV/Aids que havia sido desmontado na gestão do presidente anterior.”

Por que manter a ministra da Saúde, dra. Nísia Trindade a frente do Ministério da Saúde? Relembre a seguir as respostas:

Veriano Terto Jr., vice-presidente da ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids): “As pessoas vivendo com HIV/aids no Brasil dependem muito da existência de um SUS forte, que seja capaz de garantir a distribuição universal dos medicamentos antirretrovirais, assim como uma série de serviços que são importantíssimos para a vida com HIV/aids, como testes e análises. Precisamos sim de um ministro (a) que demonstre ter comprometimento com SUS, o que é o caso da ministra Nísia. Isso ficou muito evidente na sua trajetória de enfrentamento da Covid-19, estando à frente da Fiocruz; a sua defesa, o seu comprometimento com o SUS se mostrou ser um caminho importante para o enfrentamento de pandemias como a da Covid-19 e da aids e outras que acometem o nosso país. A ênfase no trabalho de reconstrução do Ministério da Saúde nesses primeiros meses da gestão Lula, após os desastres da gestão passada, também mostra que a ministra está no caminho certo. É preciso reconstruir, ampliar, reforçar o Programa de aids e rever as diretrizes clínicas que já não são revistas há mais de quatro anos, coisa que está sendo feita nesse momento para poder garantir a incorporação de novos medicamentos e novos tratamentos para o HIV. Precisamos de um gestor que acredite e defenda as vacinas e a ciência, e essa gestora tem dado provas que está do lado certo: o lado da ciência, da justiça e do lado do SUS. Esperamos que não haja barganha, que o Ministério da Saúde não vire moeda de troca de negociatas políticas. Essas pessoas não estão disputando a saúde pública do povo brasileiro, mas sim orçamentos, dinheiro, troca de poder, sem nenhum comprometimento com a saúde pública. Nós queremos sim gestores comprometidos com a saúde pública e não com barganhas políticas de casos para disputarem orçamentos para interesses próprios político-partidários!”

Alessandra Nilo, coordenadora da ONG Gestos, de Pernambuco: “Eu sempre considero preocupante e penso que temos que questionar este sistema politico no qual cargos executivos são decididos não a partir do conhecimento, do perfil e da capacidade das pessoas, da capacidade técnica e obviamente da compreensão política das pessoas, porque nesse nível cargos são sempre políticos e sobretudo são políticos. Considero preocupante não questionarmos isso. Então, considerando que este é um cargo político que exige uma compreensão técnica também deste setor, desta área da saúde, considerando que a Saúde é essencial para o desenvolvimento sustentável de uma sociedade adoecida, ela não tem condições de evoluir, a possibilidade de haver uma barganha e substituição da Ministra Nisia que está neste posto, não apenas por sua perspectiva política, mas sobretudo por sua capacidade técnica, por sua condição de conduzir um ministério extremamente complexo que foi e tem sido vilipendiado ao longo dos últimos anos, no momento que estamos em tentativa de recuperação pós Covid-19 que deixou o sistema de saúde brasileiro completamente abarrotado de pendências, um sistema que já não dava conta adequadamente porque vinha sendo esmagado por falta de financiamento, inclusive estrangulado pela emenda constitucional 95, então nós nos preocupamos com esta tentativa de substituição da ministra que é extremamente preparada do ponto de vista técnico e político porque nós entendemos que a política deveria ser orientada por princípios e valores e não por interesses partidários. Isso é o que está acontecendo no Brasil e esses interesses partidários são tão distanciados dos princípios e valores e não por interesses partidários, isso sim é o que está acontecendo no Brasil. Esses interesses partidários são tão distanciados dos princípios e valores que garantem a progressão dos direitos humanos que garantem a aplicação das evidências , políticas públicas baseadas em fatos e em dados, isso tem corroído tudo o que se chama de governança nos últimos tempos. Esperamos que com o avanço dos marcos civilizatórios, a gente consiga mudar este sistema político que prioriza realmente o interesse de partidos e esse toma lá, esse balcão de negócios que virou realmente a cena política brasileira que é muito feia e cada vez considerada pior por todo mundo que pensa política diferente, que deve ser construída para fazer com que todas as pessoas vivam melhor e que o país se desenvolva. Infelizmente não é isso que a gente vê acontecendo no Brasil.”

Harley Henriques, fundador e coordenador geral do Fundo Positivo: “Assim que a pesquisadora Nísia Trindade foi indicada para ocupar o Ministério da Saúde nós, integrantes do Fundo Positivo, ficamos muito felizes, principalmente por ser a primeira mulher a ocupar este cargo e por ser uma pessoa que vem do campo social. A ministra é uma defensora da ciência, uma liderança em um momento em que o mundo vivenciou um enorme problema sanitário que impactou todo o planeta, ao atravessarmos a pandemia da Covid-19. A ministra já mostrou uma grande sensibilidade para a temática do HIV/aids quando assumiu a pasta e restituiu o Departamento de HIV/Aids que havia sido desmontado na gestão do presidente anterior. A ministra colocou uma equipe no atual Departamento com uma capacidade técnica muito grande, com larga experiência no campo do HIV/aids. Nísia é uma profissional que dialoga com outros setores da sociedade. No caso dos Yanomami, por exemplo, ela pessoalmente assumiu a bandeira em defesa dos direitos da saúde desse povo originário. Considero necessário que ela continue nesse cargo para seguir desenvolvendo seu trabalho de forma tão primorosa como vem fazendo.”

Fabiana Oliveira, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “O movimento aids há tempos vem apontando a necessidade de valorizar o SUS e, isso só será possível com comprometimento, investimento e participação social. A dra. Nísia Trindade representa essa retomada do diálogo para defesa do SUS que tanto precisamos. Tivemos exemplos, infelizmente fatais, da incompetência do governo anterior. Foram anos de negacionismo, retrocesso e sucateamento dos serviços de saúde. O movimento Aids tem lutado contra a invisibilidade e pela urgente necessidade de retomar as rédeas do enfrentamento da epidemia do HIV de forma que todos tenham acesso a saúde integral, com equidade. Esse interesse do centrão pelo Ministério da Saúde é de dar nojo. Precisamos nos unir para proteger as pessoas que vivem com HIV/aids. O Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas apoia a permanência da dra. Nísia Trindade na saúde, em defesa do SUS, em defesa da vida. #NisiaTrindadeFICA”

Vando Oliveira, da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+ Brasil), núcleo Ceará: “É importante a permanência da ministra, pois como defensora da ciência apoia a incorporação de novas tecnologias de prevenção para o HIV, assim como a incorporação de novos medicamentos antirretrovirais para nós pessoas vivendo com HIV/aids, estamos demandando faz alguns anos, desde a chegada do dolutegravir, em 2017. A gestão da ministra vêm dando visibilidade para a aids, inclusive no nome do DATHI (Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis). No entanto, precisamos ter de volta o nosso site, que mesmo estando numa gestão democrática não foi recolocado no ar, deixando apenas uma página no site da saúde, sem visibilidade e informações sobre HIV/aids, bem como as redes sociais (Instagram, Facebook e Twitter), que a gestão anterior tirou do ar. Enquanto RNP+ Brasil, entendemos, defendemos e apoiamos a ministra Nísia Trindade.”

Beto de Jesus, ativista pelos Direitos LGBTQIA+: “Por que manter nossa Ministra da Saúde, Dra. Nísia Trindade a frente do Ministério da Saúde? Simplesmente pelo fato de termos uma gestão pautada na ciência, contra o negacionismo e com escuta ativa e totalmente favorável à participação popular na elaboração das políticas públicas. Nísia Trindade é a primeira mulher na história brasileira a assumir o Ministério da Saúde e já disse ao que veio! Depois de 4 anos de uma gestão desastrosa, que tratou a pandemia da COVID 19 de forma totalmente inadequada, gerando mais de 700 mil mortes, era hora de colocar a ciência de volta ao lugar de onde nunca deveria ter saído. O interesse escuso de parte dos senadores e deputados pelo orçamento do Ministério da Saúde é criminoso e deve ser denunciado. O Estado tem que cuidar dos seus cidadãos, e as políticas de saúde devem ser rigorosamente implementadas. A ministra Nísia retomou a mobilização para a retomada da cobertura vacinal. Já nos primeiros meses, foram mais de 29 milhões de doses bivalentes compradas e distribuídas, só para citar um exemplo de como a saúde vem sendo tratada. A AHF trabalha na região Norte do país, e pudemos constatar como foi desastroso para as populações de cidades mais distante a interrupção do Programa Mais Médicos, durante o governo anterior. Agora, felizmente o Programa voltou com a incumbência de garantir acesso à saúde para 96 milhões de brasileiros nas regiões mais vulneráveis. Para nós, que trabalhamos pela melhoria do acesso à saúde e da qualidade de vida da população, o fortalecimento do SUS deve ser prioridade. Foi o SUS que salvou milhões de vidas na pandemia da COVID19, e a ministra mostra diariamente seu compromisso com nosso sistema de saúde. Essa retomada do diálogo com a ciência é fundamental para que nunca mais repitamos o genocídio ao qual foi submetida a população brasileira. Só por isso estamos gritando a plenos pulmões: ninguém mexe com Nísia Trindade.”

Salvador Correa, psicólogo, ativista do Movimento de Aids e escritor: “Nísia Trindade como ministra da Saúde foi o melhor que poderia ter acontecido para a pasta. Foram tantos retrocessos nos últimos anos que uma profissional técnica com a bagagem de ter sido gestora da Fiocruz no período da pandemia é um passo certo para reconstruir o SUS. Nísia Trindade tem compromisso com saúde coletiva e se dedica a isso no âmbito da gestão, da academia e acredita no SUS como foi pensado: com ampla participação democrática. A resposta ao HIV/Aids nasceu junto com o SUS, e em ambos a solidariedade é guia e condutora política. Nesse contexto em que precisamos somar esforços para reconstruir o país, o Ministério da Saúde precisa de Nísia Trindade e de profissionais técnicos com a solidariedade, a alma e o SUS na vida. Hoje posso dizer: tenho orgulho de nossa Ministra da Saúde!”

Marta McBritton, presidente do Instituto Cultural Barong: “Estamos no momento de reconstruir a saúde no Brasil, que foi dilacerada nos anos Bolsonaro. Não há negociação quando se trata de vidas humanas.  ‘Nunca mais’ deve ser a frase de ordem do movimento social. Neste sentido, as ONGs, coletivos e afins devem se mobilizar. Pessoas de renomado saber trabalharam no Gabinete de Transição. O cargo do Ministério da Saúde não é negociável. Não deve ser usado como troca de moeda política sob nenhuma hipótese. A reconstrução do SUS e a permanência da ministra Nísia são fundamentais para o a Brasil e para a nação brasileira!”

José Carlos Veloso, da Rede Paulista de Controle da Tuberculose: “A ganância do centrão em comandar o Ministério da Saúde mais uma vez põe em risco a saúde pública de qualidade no país, justamente num momento em que estamos reconstruindo o que foi destruído pela falta de uma gestão competente e comprometida com as políticas sociais. A manutenção da Ministra Nísia Trindade, pesquisadora, técnica e profissional é de extrema importância para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e o acesso universal a saúde no Brasil.”

Toni Reis, presidente da Aliança Nacional LGBTI+: “A dra. Nísia Trindade é uma pessoa guiada pela ciência, compliance, pela transparência e pela ética. Nesses seis meses de Ministério da Saúde, nós percebemos como evoluiu o tratamento dado aos projetos. Projetos foram retomados, ela deseja reconstruir o ministério com equipes competentes e técnicas, e tem atendido todos os parlamentares. Nesse sentido, nós da Aliança Nacional LGBTI+ somos totalmente favoráveis que a dra. Nísia fique.”

Redação da Agência de Notícias da Aids

Dicas de entrevista

Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids
Tel.: (21) 2223-1040

Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas
Site: www.mncp.org.br

Fundo Positivo
Instagram: @fundopositivo

Rede Paulista de Controle da Tuberculose
Facebook: https://www.facebook.com/redepaulistatb/

ONG Gestos
Tel.: (81) 3421-7670

Salvador Corrêa
Instagram: @salvadorcamposcorrea

Aliança Nacional LGBTI+
Tel.: (41) 3222-3999

Instituto Cultural Barong
Tel.: (11) 96636-3897

Beto de Jesus
Instagram: @beto.de.jesus