A comunicadora Iza Potter

Em 8 de março é celebrado no mundo todo o Dia Internacional da Mulher e em homenagem às mulheres, apresentamos aqui alguns perfis inspiradores e combatentes que rompem o silenciamento tão comum às representantes do gênero feminino (trans e cis) relacionado à infecção por HIV e expõem publicamente não somente sua sorologia positiva para o vírus, mas experiências do cotidiano sobre como é viver com HIV.

Para além de confrontarem a estigmatização, o preconceito e a discriminação, elas compartilham informações importantes sobre como aderir ao tratamento e à prevenção combinada. Além disso, servem de inspiração para inúmeras mulheres em todo o país, encorajando-as a aceitar e amar a si mesmas após o diagnóstico, demonstrando que é possível, sim, desfrutar de uma vida social e sexual gratificante e plena.

Iza Potter

A comunicadora e dona do HIVLog Iza Potter morava fora do Brasil quando começou a adoecer. Após um período de incertezas, foi diagnosticada com Tuberculose Pulmonar e em seguida recebeu o diagnóstico positivo para HIV. “Levei um longo tempo para entender, mas o estilo de vida no qual eu estava levando me fez com que conseguisse viver um dia após o outro, esquecendo que o HIV estava presente”, conta sobre seu processo de aceitação.

Falar publicamente sobre a infecção foi um passo natural da vida de Iza, que além de trabalhar no departamento de RH de uma das maiores agências de marketing de influenciadores do país, também é uma das apresentadoras do podcast “Bomdia, bicha”. “Comecei a notar meu poder de comunicação e como aquilo poderia ser usado de maneira positiva, pois percebi que quase não haviam travestis que haviam passado pelo mercado informal e falavam sobre viver com HIV abertamente”, conta. Para ela, expor sua sorologia foi uma espécie de libertação emocional.

Iza acredita que independente de cis ou trans, o machismo atinge a todas as mulheres de maneira igual e portanto é necessário que elas se unam.”Eu reconheço e respeito o gênero mulher cis e as mulheres cis respeitam sem invalidar o nosso, a partir daí podemos construir”, afirma a travesti.

Sobre a adesão ao tratamento antirretroviral entre a população trans, a comunicadora acredita que é imprescindível acabar com a sorofobia existente dentro da própria comunidade que está no mercado informal. “Ainda somos 90% a praticar o trabalho sexual, portanto é imprescindível levar mais informações para esse ambiente. Nós já sabemos que o HIV/aids existe e como nos proteger, agora falta nos curar da desinformação e pré-julgamentos que são feitos quando desconfiam ou até mesmo pressupõem, pois isso faz com que abandonemos o tratamento ou até mesmo não cheguemos a buscá-lo”.

 

A jornalista Letícia de Assis

Letícia de Assis

“Tá Boa, Bunita?” é o nome do canal no Youtube em que Letícia de Assis discorre sobre diversos temas, entre eles sua sorologia para HIV. Jornalista, pesquisadora e ativista pelas pessoas que vivem com HIV, ela descobriu ser reagente para o vírus em outubro de 2016, por ocasião de uma pneumonia severa que a deixou em coma por 20 dias. Passou por muitas emergências, médicos e hospitais, e só na última internação, quando não conseguia mais caminhar de tanta fraqueza, uma enfermeira percebeu ao examinar o céu de sua boca e solicitou um teste de HIV.

“Na hora em que o médico da UTI me contou o resultado do exame, não me chocou porque eu já havia acordado e me livrado daquela máscara claustrofóbica que é o coma. Como tive parada cardíaca, reanimação e lembro de coisas muito bizarras, considerava uma vitória estar viva, mesmo com aids”, lembra-se. Ela conta que aos poucos foi aceitando seu diagnóstico e contando para as pessoas mais próximas. “Nunca me revoltei, mas fiquei muito triste pelo contágio ter acontecido em uma janela em que eu não estava me testando e com uma pessoa em que eu, na época, confiava a ponto de não usar preservativo, que era meu ex-namorado. Fiquei feliz também por minha filha estar sã e meu ex-marido também, apesar de tudo que nos expomos durante alguns anos”.

Ativista antigordofobia, Letícia sempre foi uma pessoa engajada e apesar de alguns parentes próximos terem-na aconselhado a não falar, ela decidiu expor sua condição sorológica. “Eu nunca gostei de me sentir escondendo algo do mundo, de ter vergonha de algo. Contei, inicialmente, por isso, mas depois eu abri em redes sociais porque entendi que a minha história poderia alertar e informar mais pessoas”.

Para as pessoas que vivem com HIV, sobretudo mães como ela, Letícia aconselha priorizar a saúde e o bem-estar. “O HIV pode viver conosco em paz desde que a gente coloque ele no devido lugar com tratamento antiretroviral certinho, visitas periódicas e honestas ao infectologista, exames e a busca por uma vida menos tóxica – boa alimentação, bebida alcóolica e outras drogas consumidas de forma consciente e comedida, exercícios, e principalmente cuidar da cabeça”. E aconselha que mulheres que se expõem, independente do motivo, busquem os postos de saúde para acessar a PEP e  Prep. “Priorize-se. Nenhum amor ou paixão vale a tua vida”!

Marina Vergueiro (marina@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista:

Iza Potter – isabellipotter5@gmail.com

Letícia de Assis – simsoudiva@gmail.com