Por conta do Dia Internacional da Mulher celebrado em 8 de março, selecionamos algumas mulheres inspiradoras e combatentes que rompem o silenciamento tão comum às representantes do gênero feminino (trans e cis) relacionado à infecção por HIV e expõem nas suas mídias sociais não somente sua sorologia positiva para o vírus, mas experiências do cotidiano sobre como é viver com HIV. 

Além de desafiarem o estigma, o preconceito e a discriminação, disseminam informação relevante sobre adesão ao tratamento e prevenção combinada e inspiram milhares de outras mulheres ao redor do país a se aceitarem e se amarem após o diagnóstico, mostrando que é possível levar uma vida social e sexual frutífera e prazeirosa.

 

Priscila Obaci

Multi Artista e Educadora, Priscila Obaci é fundadora do Instituto Poesias Pós Parto. Mãe de Melik Rudá e Bakari Mairê, ela transita entre o teatro, a dança e a poesia. É formada em Comunicação das Artes do Corpo e pós-graduanda em musicalização infantil. Sobre seu diagnóstico, conta que descobriu ainda casada e cerca de um ano depois acabou se separando. “Logo, fiquei sabendo que meu ex-companheiro estava se relacionando com outra pessoa e fiquei refletindo sobre como eu seguiria a minha vida e decidi fazer isso a partir da verdade, para que as pessoas que estejam perto de mim saibam quem eu sou e conheçam todas as identidades que eu carrego: sou uma mulher preta, candomblecista, periférica, que eu vivo com HIV e que sou mãe solo. Eu queria poder falar disso abertamente e, quem chegasse a se aproximar, já saberia disso e poderia enxergar todas as outras coisas que eu sou além do meu diagnóstico”.

Falando abertamente sobre sua sorologia nas redes, Priscila diz que as dúvidas que mais recebe tem a ver com a possibilidade de gerar um filho negativo. “Hoje em dia, isso é super possível mesmo sendo um casal em que ambos vivem com HIV ou sendo um casal sorodiferente, pois a criança é protegida pelo tratamento e será não-reagente ao vírus como qualquer outra pessoa que não teve contato com o HIV. Uma dica que eu dou a outras mães vivendo com HIV é de que a gente precisa se priorizar, não podemos ofertar aquilo que não temos. Um copo vazio não mata a sede de ninguém. É importante se olhar, se cuidar, se fortalecer, fazer coisas que vão para além dos comprimidos que nos mantém indetectáveis, mas arejar o corpo e a mente com coisas que nos fazem bem e mantém a saúde mental e física em dia”, complementa.

No Brasil, mulheres negras fazem parte do grupo mais vulnerável ao adoecimento e morte por aids, portanto Priscila entende a importância de sua voz  que ecoa de maneira perene a fim de tensionar políticas públicas de saúde que estejam voltadas para esse público e que possam de verdade atender as demandas tendo um aspecto de interseccionalidade. “O racismo estrutural impacta em todas as vias da nossa sociedade e não seria diferente com a saúde, então é importante que as mães pretas vivendo com HIV se sintam dignas de acessar e reivindicar seus direitos de saúde e de prevenção de doenças”, afirma a artista.

Priscila ainda lembra como a hipersexualização de meninas e mulheres pretas pode colocar seus corpos em risco pelo fato de às vezes entenderem que esse seja o único caminho para acessar a afetividade. “Isso é muito nocivo, porque quando a gente tem carência de uma coisa, a gente aceita qualquer coisa para ter acesso àquilo. Como a afetividade em relação a meninas e mulheres negras é escassa, não é oferecida de forma abundante, isso impacta diretamente nas noções de saúde, de risco, de auto-amor e de auto-cuidado, então às vezes elas aceitam condições que colocam sua saúde em situação de precariedade. Portanto, é importante a gente discutir como nossos corpos são vistos e entender que essa discussão tem que ser pauta e prioridade para que a gente possa impactar de forma positiva a prevenção e o cuidado em relação às ISTs”.

Jéssica Mattar

A produtora de conteúdo Jéssica Mattar, é natural de Teresópolis, no Rio de Janeiro, mas atualmente reside em Além Paraíba, em Minas Gerais. É mãe de 4 crianças com sorologia negativa para o vírus da aids e teve seu diagnóstico em 2021 aos 30 anos, quando foi confrontada com uma hemorragia intensa que inicialmente atribuiu a irregularidades menstruais. Após algum tempo adoecendo, ela foi hospitalizada e os médicos começaram a investigar a origem dos sangramentos, revelando então a presença do vírus do HIV.

Nas mídias sociais, Jéssica possui uma vasta audiência, com quase 50 mil seguidores no Instagram e mais de 70 mil seguidores no TikTok. Em um dos conteúdos mais populares de seus canais, ela conta sobre o fato de não ter podido amamentar devido à sua sorologia de HIV. Ela explicou que o governo oferece fórmula de leite para bebês até os seis meses de idade, além de medicamentos para ajudar a mãe a secar o leite.

Ela conta o motivo pelo qual optou falar publicamente sobre sua condição de saúde: “decidi fazer conteúdos sobre HIV para oferecer informações para as pessoas,  principalmente adolescentes, levar inclusão para quem vive com HIV há anos, além de ajudar quem teve diagnóstico recente”.

Através de fotos e vídeos, Jéssica educa e conscientiza seus seguidores de que o vírus não é mais uma sentença de morte nos dias de hoje. Além disso, divide um pouco de seu dia a dia e sobre sua maternidade. “Como mãe, acho importante falar sobre a sorologia publicamente, pois traz informações, quebra tabus e desmistifica o HIV. É uma tentativa de acabar com o preconceito”, conta.

 

Marina Vergueiro (marina@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista:

Priscila Obaci – poesiasposparto@gmail.com

Jéssica Mattar – jhemattar@gmail.com