Última edição da marcha foi realizada em 1996

Invisibilizados pela sociedade e preocupados com os índices alarmantes, como a baixa expectativa de vida, escolaridade e dificuldade para ingressar no mercado de trabalho formal, representantes da população transexual e travesti realizaram uma marcha, no Centro do Rio, nesta sexta-feira. Segundo dados da sexta edição do Dossiê sobre Mortes de Pessoas Trans, publicado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra), no ano passado, pelo menos 131 pessoas trans assassinadas no país. A vítima mais jovem tinha apenas 15 anos. A segunda edição da Marcha Trans e Travesti não acontecia desde 1996. Com o tema “Pelo direito de sonhar novos futuros”, o grupo percorreu as ruas do Centro ao lado de representantes da comunidade LGBTQIA+ e apoiadores.

Uma das organizadoras do evento, a deputada estadual Dani Balbi (PC do B) cobrou por mais políticas públicas para a população transexual e travesti.

– Eu não me canso de pedir, de falar, e continuarei cobrando: a população transexual e travesti necessita de mais oportunidades. Não pode ser marginalizada no mercado de trabalho como tem sido – pontuou. – Não podemos mais viver num país onde a população trans tem expectativa de apenas 30 anos. Não podemos mais aceitar que uma pessoa seja morta por ser travesti. Nós somos pessoas e resistiremos – afirmou a parlamentar.

A presidente da ONG Pela Vidda, voltada para a prevenção do vírus HIV, Maria Eduarda fez um alerta sobre a marginalização da população trans.

— Temos nada menos que 69 projetos (de lei) antitrans tramitando. Querem proibir a gente de casar, querem proibir a gente de amar, mas não conseguirão. Mas o principal, que não podemos aceitar de jeito nenhum, é que nos matem também de fome. Alguém estuda ou trabalha de barriga vazia? Não! Então, precisamos garantir o básico: comida na meda e oportunidades – finalizou.

Idealizadora do Grupo Transrevolução e da Casa Nem, Indianarae Siqueira pediu coragem da população trans presente.

– Nós que sobrevivemos até aqui vamos nos unir cada vez mais e celebrar a nossa vida. Existimos e resistimos – disse Indianarae.

Aluna do curso de Pedagogia da UERJ, Sarah Gomes, moradora da Zona Norte do Rio foi uma das estudantes que tomou as ruas. Ela cobrou maior punição para quem comete crime contra a população trans.

– Eu sou uma mulher trans e, como tal, exijo ser respeitada. Me chamarem pelo meu nome social e respeitarem a minha identidade é o básico. Atos violentos contra a população trans não podem ser mais tolerados. Chega de transfobia – clamou a estudante.

Segundo documento produzido pela Antra, em 2022, houve um acirramento na violência praticada contra crianças e adolescentes trans, sendo inclusive vítimas dentro do ambiente escolar.

Organizador da marcha, Gab Van também comentou a questão da violência.

– O Brasil é o país que mais mata a população trans no mundo. Com essa marcha, demos um passo pela conscientização contra a transfobia, mas ainda é longo o caminho a ser percorrido – disse.

Fonte: O Globo