Atividade foi tema de painel da 17ª ExpoEpi

Sabemos o papel da prevenção enquanto direito das pessoas com aids, as vulnerabilidades do adoecimento por HIV, aids e tuberculose, e também o quanto o Ministério da Saúde, a sociedade civil, os profissionais e a academia têm intensificado os esforços para a prevenção. Temos trabalhado para lidar com a doença avançada, e em como superar as barreiras de acesso aos serviços de saúde e conseguir, de fato, alcançar o cuidado integrado e integral para as pessoas afetadas por essas condições”. Esse trecho foi parte do discurso de abertura do painel “Prevenção do HIV, tuberculose (TB) e atenção à doença avançada”, na 17ª edição da ExpoEpi.

A fala foi da consultora técnica da Coordenação-Geral de Tuberculose, Micoses Endêmicas e Micobactérias não Tuberculosas do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi/SVSA/MS), Tiemi Arakawa, moderadora da atividade. O painel demonstrou que a prevenção é estratégica para alcançar as metas para a eliminação da epidemia de HIV e tuberculose no Brasil até 2030.

Na ocasião, a analista de políticas sociais do Dathi, Tatianna Alencar, apresentou uma análise sobre a expansão da profilaxia pré-exposição (PrEP) no Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo ela, no Brasil, as características das pessoas que possuem dificuldades para manter o uso da profilaxia são bem explícitas. “Essas pessoas têm cor, classe social, grau de escolaridade e orientação sexual muito bem definidos, e é para essa população que está mais vulnerabilizada para quem precisamos melhorar e, inclusive, nos apressar para alcançar os mais jovens, pois é uma população que tem já tem uma baixa procura, e aqueles que procuram deixam de usar a PrEP mais rápido do que qualquer outra faixa etária”, comentou. A analista mostrou ainda os dados do painel PrEP disponibilizado pelo Departamento e destacou que dos 72.865 usuários do antirretroviral, 56% se identificam como brancos e amarelos, e 81,7% são gays ou outros homens cis que fazem sexo com homens.

Tatianna Alencar informou que um grande desafio para a expansão da oferta de PrEP é a “desmedicalização” da profilaxia, ou seja, quem prescreve e onde se prescreve. “Muitos locais ainda têm resistência em incluir a Enfermagem nesse cuidado de prevenção ao HIV. Não podemos nos concentrar apenas nos serviços institucionalizados de HIV, precisamos olhar para a atenção primária, e considerar também outras ações que saem dos muros tradicionais dos serviços de saúde”. Além disso, ao falar sobre horizontes para a ampliação dessa forma de prevenção, ela citou alguns modelos diferenciados que se mostraram eficientes como os ambulatórios LGBTQIAPN+ e o TelePrEP, serviço em que profissionais de saúde enviam a medicação após teleconsulta. São experiências estaduais, mas que podem ser expandidas de forma nacional.

O painel contou ainda com a participação da representante da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Valéria Saraceni. Ela abordou a importância da prevenção da tuberculose em pessoas vivendo com HIV ou aids. Assim como Tatianna Alencar, Valéria reforçou a necessidade de facilitar o contato da população com os serviços de saúde a fim de obter o diagnóstico o mais cedo possível. “O tempo todo estamos tentando alcançar, principalmente, a atenção primária, pois são as pessoas que efetivamente chegam em quem precisa. Por isso, é necessário que disponibilizar testes rápidos, tendo em vista que precisamos usar mais as tecnologias que são de fácil aplicação”, afirmou.

Ainda sobre tuberculose, Priscilla Lúcia Wolter Paolino, da Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose, apresentou o Expand TPT. O projeto é fruto de parceria com a Rede-TB e a Stop TB e tem o objetivo de ampliar o tratamento preventivo da tuberculose em pessoas que tiveram contato com outras que foram acometidas pela doença. Priscilla informou que, atualmente, o projeto está ativo em cinco municípios brasileiros e até outubro de 2023 já havia conseguido qualificar 12 mil profissionais para aumentar a prevenção no país, evitando mais adoecimentos e mortes.

Já Sumire Sakabe, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, abordou os mecanismos de resposta à doença avançada pelo HIV, de uma perspectiva da coinfecção TB-HIV e micoses oportunistas. “Eu tenho me sentido otimista nesses últimos tempos. Primeiro porque é um tempo bom e novo, mesmo com todas as dificuldades, temos visto a incorporação de tantas novas tecnologias como os testes rápidos. Mais do que isso, falando de tuberculose, hoje ela deixou de ser um problema apenas da saúde e se tornou um problema de todo mundo. Está aí o Ciedds [Comitê Interministerial para a Eliminação da Tuberculose e de Outras Doenças Determinadas Socialmente] que não me deixa mentir”. No entanto, ela afirmou que apenas a tecnologia não resolve a questão. “O desafio é mais do que implementar os fluxos dos testes e saber o que deve ser feito. É convencer quem prescreve, quem faz, quem toma, para estarmos todos na mesma página. Isso é, provavelmente, 70% do nosso trabalho todos os dias”, destacou.

Por fim, os participantes puderam expressar dúvidas, experiências e preocupações sobre o tema. Para D’Stefano Marcondes, do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, a experiência deste ano com a ExpoEpi foi bem diferente. “Achei a apresentação muito interessante. Tenho visto que este ano o debate está muito mais técnico, muito mais científico. Percebo que agora a reunião está envolvendo muito mais a prática do trabalho e conseguimos trazer as apresentações para a realidade do nosso dia a dia, pois além de eu representar o Conselho, também sou profissional de saúde”, declarou.

ExpoEpi

Após um hiato de quatro anos, a Mostra Nacional de Experiências Bem-Sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças (ExpoEpi) retornou em sua 17ª edição. O evento divulgou as práticas exitosas dos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) que se destacaram pelos resultados alcançados em atividades relevantes para a Saúde Pública. A 17ª edição destacou os temas centrais dos 50 anos do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e os 20 anos da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente.

 

Fonte: Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi)