Manter a calma e a mente tranquila durante a realização da prova do Enem pode ser decisivo na busca pela tão almejada vaga na universidade. O psicólogo Antonione Pereira explica que a ansiedade é uma resposta orgânica do corpo em situações desconhecidas — o sentimento antecipa acontecimentos futuros como forma de nos deixar preparados e alertas. Porém, quando acompanhada do medo, a ansiedade pode ser responsável pela sensação de paralisação diante do desafio.

Segundo Antonione, é preciso diferenciar a ansiedade patológica do nervosismo causado por um contexto estressante. “O mais adequado seria usarmos o termo medo, por exemplo: ‘estou com medo de fazer o Enem’, ‘tenho medo de não atender às expectativas depositadas em mim’, ‘tenho medo de não conseguir realizar meu sonho porque meu futuro depende de ir bem nessa prova’. Quando conseguimos nomear melhor o que estamos sentindo, torna-se muito mais fácil encontrar estratégias de ação mais eficazes para o momento, e nos ajuda a identificar quais recursos temos e quais precisamos para lidar com esses sentimentos”, pontua. O psicólogo lembra, porém, que caso essas emoções cheguem a atrapalhar o cotidiano do estudante e interferir no sono e na concentração para os estudos, é importante procurar ajuda profissional.

Desfrutar de uma noite de sono de qualidade é crucial para manter a saúde mental em dia, especialmente nos momentos que antecedem a prova. Além disso, algumas práticas também podem ajudar a aliviar a tensão, como meditação, exercícios físicos e o estabelecimento de um cronograma organizado de revisão dos estudos. “Nessa etapa final, seja compassivo consigo mesmo e com o processo. A poucos dias do exame, reserve um tempo para organizar seus pensamentos, revisitar os tópicos estudados e realizar a prova com confiança”, sugere Antonione. Se, ainda assim, a preocupação dominar, o especialista recomenda alguma distração como assistir um filme ou sair para conversar com os amigos sobre assuntos que não estejam relacionados à prova.

Maria Clara Oliveira, aluna do 3º ano do ensino médio do Sigma, diz que adotou posturas radicais para privilegiar seu processo de aprendizagem e prevenir a ansiedade: “Os hábitos que mais fizeram a diferença na minha rotina envolvem o descanso da mente. Por exemplo, a maior mudança, talvez, foi desativar todas as minhas redes sociais. Nos meus momentos de pausa, eu costumava passar tempo nos aplicativos, mas isso só estimulava ainda mais minha mente. Aprender a conviver com o tédio fez toda a diferença, fazendo com que meu descanso fosse verdadeiramente efetivo.”

“Para aliviar a pressão, eu costumo jogar basquete. Isso, sem dúvida, me ajuda a esquecer dos problemas. Também costumo meditar, que auxilia a focar no momento presente e me deixa calmo, e ir para a igreja”, conta João Pedro Morais, que também cursa o último ano do ensino médio no Sigma.

Apoio

O suporte emocional da família, amigos e escola pode ser decisivo para quem está enfrentando a maratona de aprovação em uma seleção, especialmente durante a adolescência. A coordenadora de convivência ética do sigma, Paula Cavalcante, explica que o cuidado com o bem-estar dos estudantes é extremamente importante, uma vez que, quanto melhor eles estão emocionalmente, melhores serão os seus resultados, sejam acadêmicos ou em qualquer outra área da vida.

“O Sigma valoriza as competências socioemocionais dos estudantes para melhorar seu bem-estar e desempenho acadêmico. Os professores são treinados para identificar necessidades individuais e promover um ambiente de apoio emocional. O cuidado abrange orientação sobre saúde, equilíbrio na vida e ajuda em situações de ansiedade ou estresse, reforçando a importância da busca por apoio quando necessário. A escola também oferece suporte para escolhas educacionais e mantém uma abordagem empática e atenta a todas as questões, internas e externas”, explicou.

O olhar atento da escola a cada estudante promove uma sensação de acolhimento, segundo o aluno do 3º ano do ensino médio, João Pedro Morais: “Geralmente, quando preciso recorrer ao apoio da escola com relação à questão emocional, procuro os professores, que me dão dicas e me acalmam, e os coordenadores, que sempre buscam saber como os alunos estão”, afirmou.

Para o coordenador do cursinho preparatório social Jovem de Expressão, Rodrigo Soares, cuidar da saúde mental dos alunos, além de ajudá-los com os estudos, visa o enfrentamento dos problemas vividos nesta etapa da vida. “Mais do que um cursinho, a gente tem ali um espaço de acolhimento para que o jovem se sinta bem, para que, seja por meio da dança, do teatro ou outra linguagem artística, ele coloque para fora algumas coisas que o estão abalando, suas questões familiares ou o próprio contexto social em que vive”, diz.

O cursinho também atua com os alunos e alunas por meio da terapia comunitária. “A gente tem encontros com a psicóloga, que senta com eles uma vez por mês para fazer uma roda de conversa. Eles trazem os principais problemas que estão passando, mas claro, sem entrar em nenhum detalhe que possa expô-los. E aí, dentro daquela roda, os alunos vão falando com seus colegas sobre como eles enfrentaram seus problemas. Essa troca, esse contexto mais comunitário, a gente vê que dá um gás na galera”, afirma Rodrigo.

Fonte: Correio Braziliense