Rumo à eliminação da transmissão vertical do HIV e da sífilis, o estado de São Paulo premiou nesta semana 236 municípios pela atuação exemplar na prevenção dessas infecções. A cerimônia aconteceu na capital do estado e fez parte da 5ª Semana Paulista de Mobilização Contra a Sífilis Congênita.

A transmissão vertical do HIV ocorre quando mães positivas para essa infecção passam o vírus para seus filhos durante a gravidez, parto ou amamentação. 

Para proteger a criança da infecção pelo vírus da aids, inicia-se a Terapia antirretroviral (TARV) e realiza-se acompanhamento com consultas regulares. 

A gestante com HIV recebe medicamentos antirretrovirais sob a orientação de um profissional de saúde. Esses medicamentos ajudam a reduzir a carga viral no sangue, bloqueando o risco de transmissão do vírus para o feto.

Já a sífilis é comumente classificada em quatro estágios: Sífilis Primária – caracterizada por uma ferida indolor chamada cancro no local da infecção; sífilis secundária – quando após o estágio primário, ocorrem erupções cutâneas, febre, dor de garganta e outros sintomas; sífilis latente – fase onde os sintomas desaparecem, mas a bactéria permanece no corpo. Pode ser latente precoce (até um ano após a infecção) ou latente tardia (após um ano); e sífilis terciária, que se não tratada, pode afetar órgãos internos, como coração, cérebro e ossos, causando complicações graves.

Além desses estágios, há ainda a sífilis congênita, transmitida de mãe para filho durante a gravidez ou parto. É importante buscar tratamento médico se houver suspeita de sífilis, pois é tratável em estágios iniciais.

Indaiatuba, Ribeirão Pires, Tatuí, Votorantim, São Paulo são exemplos de municípios que receberam o reconhecimento pela eliminação da transmissão vertical do HIV; Catanduva é exemplo de município premiado duplamente, por eliminar transmissão vertical da sífilis e do HIV.

De 2010 a junho de 2022, em todo o estado de São Paulo, foram notificados 322.938 casos de sífilis adquirida, 110.088 casos de sífilis em gestantes, 39.045 casos de sífilis congênita e 402 óbitos por sífilis congênita.

A taxa de detecção de sífilis em gestantes tem mantido tendência crescente, inclusive durante o período pandêmico por covid-19, com aumento médio de 13,0% ao ano, entre 2019 e 2021. Esse fato pode ser devido a manutenção da assistência pré-natal e parto, uma vez que as gestantes com sífilis podem ser detectadas e notificadas nesses dois momentos. Por outro lado, o impacto da pandemia pode ser observado na queda de 19% da taxa de detecção de sífilis adquirida, entre 2019 e 2020.

Neste ano, a premiação destacou a importância da redução da desigualdade social na eliminação da sífilis congênita, uma preocupação de saúde pública que afeta crianças em todo o mundo. Os municípios homenageados cumpriram rigorosos critérios e indicadores estabelecidos pelo Ministério da Saúde.

O Prêmio Luiza Matida honrou o compromisso destes 236 municípios, entregando a cada um deles um troféu simbólico em ouro, prata ou bronze, das mãos de profissionais e gestores de saúde, em validação aos esforços e conquistas.

Angela Tayra, vice-diretora do CRT DST/Aids de São Paulo, foi a responsável na ocasião por discorrer sobre os critérios técnicos de certificação. Ela parabenizou as boas práticas e explicou que para receber o prêmio, os municípios tiveram que cumprir indicadores de impacto, como a taxa de transmissão menor que 2 para o HIV e a taxa de incidência menor que 0,5 para cada cem mil nascidos vivos.

Segundo a gestora, para a sífilis congênita o exigido também é taxa menor que 0,5 para cada mil nascidos vivos.

‘‘Para o HIV, os indicadores de processo a serem cumpridos são: 4 consultas ou mais de pré-natal e a criança exposta a Transmissão vertical tem que receber antirretroviral antes das primeiras 24h’’, explicou.

‘‘Já para a sífilis congênita são dois indicadores de processo: pelo menos 4 consultas e tratamento adequado da gestante com sífilis’’, acrescentou.

De acordo com Ângela, o prêmio ainda estipulou que pelo menos 90% de todas as gestantes tinham de ser devidamente tratadas. Ou seja, para cada 100 gestantes com sífilis, cada município precisa tratar pelo menos 90 delas.

E as mulheres vivendo com HIV, ‘‘para cada 100 gestantes HIV+ no seu município, 90 precisam estar em tratamento antirretroviral’’, continuou.

Além disso, destacou que no que se refere à sífilis, ‘‘os municípios precisaram atender a indicadores de processo, garantir pelo menos 4 consultas de pré-natal e fornecer tratamento adequado da gestante com sífilis’’.

No Prêmio Luiza Matida, a profissional reforçou o progresso significativo na eliminação da transmissão vertical do HIV e da sífilis em São Paulo e o empenho das autoridades de saúde e profissionais em proteger a saúde das futuras gerações.

O encontro realizado se atentou a abordar a condição atual da transmissão vertical do HIV e da sífilis no estado de São Paulo e Brasil, e serviu de ponto de partida para traçar estratégias eficazes de combate à disseminação tanto do HIV quanto da sífilis.

No momento, foram compartilhadas ainda as lições aprendidas ao longo da resposta. A troca de experiências e conhecimento foi fundamental para identificar práticas eficazes, e novos desafios a serem superados, assim como estratégias inovadoras para alcançar o objetivo de eliminar a transmissão vertical do HIV e da sífilis, com o compromisso de proteger as futuras gerações contra essas infecções.

Quem foi Luiza Matida?

Luiza Matida, falecida em 2014, foi uma referência na medicina pediátrica, ela coordenou e elaborou a implantação de políticas públicas, e se mobilizou em prol de ações estratégicas para a eliminação da transmissão vertical do HIV e sífilis no Programa Estadual de DST/Aids.

A médica que foi uma figura histórica no programa paulista, é lembrada até hoje não apenas por suas contribuições notáveis à saúde pública, mas também por sua inspiração contínua na comunidade médica. Seu legado perdura através deste prêmio que carrega seu nome e reconhece o trabalho árduo e o comprometimento dos profissionais de saúde que seguem seus passos.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)