Ministério da Saúde promete aumento de 300% na oferta da profilaxia que reduz em mais de 90% as chances de uma pessoa se infectar pelo vírus
Simples, de graça e muito eficaz na proteção contra o vírus HIV. A Profilaxia Pré-Exposição, mais conhecida pela sigla PrEP, consiste na utilização diária de uma combinação de dois medicamentos antirretrovirais (tenofovir + entricitabina), que apresentam composição similar aos usados no tratamento do HIV, que reduz em mais de 90% as chances de uma pessoa se infectar quando exposta ao vírus.
No início de 2023, a introdução da PrEP no Sistema Único de Saúde (SUS) completou cinco anos e se consolidou como uma ferramenta na luta para impedir mais casos da infecção no Brasil. A política também está sendo ampliada.
“A expansão da PrEP foi possível graças a uma série de ajustes e aprimoramento da política, que incluíram: prescrições conduzidas por enfermeiros e farmacêuticos em alguns estados, oferta da PrEP nos serviços da Atenção Primária e a possibilidade da prescrição da profilaxia em serviços privados para retirada nas unidades dispensadoras de medicamentos (UDMs) do SUS e a simplificação do acompanhamento’’, diz Dráurio Barreira, diretor do Departamento de HIV/AIDS, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde.
Dados do Painel PrEP, disponibilizado no site do governo, indicam que 118 mil pessoas começaram a usar a PrEP em todo o Brasil desde 2018, ano de início da oferta. Somente nos três primeiros meses de 2023, foram 12.343 novos usuários. No mesmo período do ano passado, foram 8.393 de 2022.
Os números consolidam o Brasil como líder na América Latina, e, de acordo com especialistas, ajuda a explicar as sucessivas quedas de novos casos registrados de HIV: entre 2019 e 2021, o número de casos de infecção pelo HIV declinou 11,1% no Brasil, com maior percentual de redução nas regiões Sul (15,4%) e Sudeste (15,3%).
“A resposta ao HIV ocorre de forma multifatorial. Em uma análise técnica da pasta é possível identificar uma correlação entre a quantidade relativa de dispensações de PrEP nos municípios e a tendência de redução na taxa de incidência de HIV no local. Quanto maior a proporção de PrEP no município, maior é a redução na incidência de HIV. Com isso, é possível concluir que locais com mais dispensações da profilaxia também têm um serviço de atenção ao HIV mais eficiente, o que, em conjunto, leva à redução da incidência do vírus”, explica Barreira.
Discrepâncias
No entanto, os dados positivos não escondem as discrepâncias da iniciativa PrEP SUS, como o projeto é chamado no Ministério da Saúde. São Paulo lidera com quase 40 mil iniciações, seguido do Rio de Janeiro com 8.302.
Embora a expressiva população de São Paulo justifique o alto uso de PrEP, é notória a dedicação em expandir os serviços e reduzir as novas infecções por HIV. Na capital, onde se concentram quase 70% dos usuários de PrEP do estado de São Paulo, apesar do aumento progressivo no número de testes rápidos para HIV realizados anualmente, foi verificada nos últimos anos uma redução de cerca de 40% na taxa de detecção de novos casos. Mesmo durante a pandemia de Covid-19.
Nenhum estado do Nordeste, em contraste, chega perto de 3 mil usuários de PrEP, apesar de ser a segunda região com mais casos de HIV. “Infelizmente, ainda temos muitos municípios que não têm acesso a a esta importante ferramenta de prevenção”, explica José Valdez Ramalho Madruga, infectologista e coordenador do comitê de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia. São apenas 770 unidades de saúde que oferecem a profilaxia, a maioria na região Sudeste.
Ao mergulhar mais fundo, os dados evidenciam ainda mais preocupações. Por exemplo, enquanto as infecções por HIV aumentam entre os menores de 25 anos, 64% dos usuários de PrEP têm mais de 30 anos. Da mesma forma, os indivíduos brancos e com mais escolaridade constituem a maioria (57% e 72%, respectivamente). “A população mais vulnerável e menos escolarizada nem conhece a PrEP. Precisamos capitalizar a informação’’, completa Madruga.
Além disso, 46% dos usuários de PrEP descontinuaram o programa em cinco anos. Embora a escolha pessoal determine o uso da PrEP, não há clareza sobre quantas descontinuações poderiam ser evitadas devido a barreiras, como medo ou desinformação.
Expansão do programa
Para contornar as limitações impostas, o Ministério da Saúde promete ampliar a prescrição em até 300% até 2027. “Da mesma forma que temos preservativos nas unidades básicas de saúde, queremos que a profilaxia também esteja disponível para quem quiser”, explica Dráurio Barreira, ressaltando a importância da prevenção.
“Para algumas doenças ou você tem vacinas ou você tem medicamentos. No caso do HIV, quando a elevação da carga viral fica indetectável, a pessoa não transmite algo que não tem na corrente sanguínea. Então, a PrEP tornou-se absoluta prioridade em termos de prevenção”, complementa o diretor.
Prevenção combinada
O Ministério da Saúde, contudo, reforça que a PrEP só é indicada após testagem da pessoa para o HIV, uma vez que é contraindicada para usuários infectados pelo vírus. Nesses casos, a profilaxia pode causar resistência ao tratamento. Por essa razão, as pessoas que já vivem com o vírus não vão aderir à profilaxia, mas encaminhadas para tratamento imediato.
Além disso, a PrEP deve ser considerada uma estratégia adicional dentro de um conjunto de ações preventivas, denominado “prevenção combinada”, como forma de potencializar a proteção contra o HIV. A prevenção combinada inclui testagem regular, teste durante o pré-natal e tratamento da gestante que vive com o vírus, redução de danos para uso de drogas, testagem e tratamento de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST) e hepatites virais, uso de preservativo externo e interno, profilaxia pós-exposição (PEP), além de tratamento para tornar a carga viral indetectável.
O diagnóstico da infecção pelo HIV pode ser feito por meio da testagem rápida. O SUS disponibiliza exames laboratoriais e testes rápidos que detectam os anticorpos contra o vírus em cerca de 30 minutos. O tratamento também é acessível e fundamental para garantir a qualidade de vida de pessoas que vivem com HIV/aids.
Fonte: Veja