Startup BCGene foi fundada em 2021 pela pesquisadora Luciana Leite com a proposta de utilizar a tecnologia BCG recombinante em novo produto

Só no ano passado, cerca de 78 mil pessoas tiveram tuberculose no Brasil — Foto: Freepik

Criada há mais de 100 anos, a vacina BCG, que protege contra formas graves da tuberculose, já é bastante conhecida pelos brasileiros e é recebida comumente na infância, em dose única. Apesar disso, o Brasil é o país com o maior número de casos notificados da doença nas Américas, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Só no ano passado, cerca de 78 mil pessoas tiveram tuberculose no país – um aumento de 4,9% em relação a 2021. Considerando este cenário, a startup BCGene foi criada em 2021, com o desafio de desenvolver um imunizante mais eficaz no combate à enfermidade.

A empresa foi fundada pela cientista brasileira Luciana Leite, doutora em bioquímica pela Universidade de São Paulo e pesquisadora do Instituto Butantan, do qual faz parte há mais de 30 anos. Segundo a cientista, a startup é uma espécie de “spin-off” do instituto e nasceu com a proposta de dar seguimento aos estudos da tecnologia BCG recombinante para o desenvolvimento de dois tipos de produto: um tratamento para o câncer de bexiga e uma vacina contra a tuberculose. Há 20 anos, o Butantan está concentrado nessa linha de pesquisa.

“Vimos que a estratégia de uma startup trabalhando no desenvolvimento de produtos junto a instituições públicas parece estar dando muito certo no mundo”, explica a pesquisadora. “O objetivo da startup é agilizar o desenvolvimento desses produtos, que são do Butantan, e continuar trabalhando em colaboração com o instituto”.

A tecnologia BCG recombinante

Para desenvolver a vacina, a equipe de pesquisadores usa a bactéria causadora da tuberculose, já utilizada na vacina tradicional, que já é de uso seguro e de grande resposta imunológica. Através da engenharia genética, os cientistas fazem com que ela produza uma outra proteína, a recombinante. O método é a base para vacina rBCG-AdjTB – rBCG, que atualmente foi testada em animais e demonstrou maior proteção contra infecção por tuberculose.

“No caso da vacina contra tuberculose, nós já fizemos muitos experimentos em animais e são todos extremamente promissores. Agora devemos ir para o escalonamento, para conseguir fazer uma produção mais consistente e produzir os lotes clínicos”, diz Leite.

“Quando a gente imuniza os camundongos contra a tuberculose, o importante é uma resposta das células, e essa nova cepa que a gente desenvolveu é muito mais eficiente para fazer isso. Ela é melhor do que o BCG (comum) e, inclusive, tem uma duração maior. A gente já testou mais de seis meses e a proteção continua muito boa”, complementa.

Financiamento das atividades da startup

Com pouco mais de dois anos de existência, a BCGene tem contado com parcerias e também com financiamento público para suas atividades. De acordo com Leite, a startup foi contemplada pelo edital PIPE-FAPESP, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, que investe em pequenas empresas. Ela explica que o projeto foi aprovado, mas ainda precisa passar por alguns trâmites burocráticos. Os recursos devem ajudar na fase de ensaio clínico.

A empresa também foi selecionada pelo programa de aceleração Circuito Einstein de Startups. “Essas participações são interessantes porque a gente encontra pessoas que trabalham na mesma linha, com problemas semelhantes, e também encontra potenciais colaboradores”, afirma a cientista.

Luciana Leite é pesquisadora do Instituto Butantan há mais de 30 anos — Foto: Comunicação Butantan

Com investimento, o trabalho para o desenvolvimento da vacina aprimorada contra a tuberculose deve levar aproximadamente 10 anos, estima Leite. Ela explica que, no caso dessa doença, é mais fácil chegar até a fase 2 dos estudos, que leva entre 5 e 6 anos. “A fase 3 (que dura de 3 a 4 anos) é mais complicada porque envolve grandes números, milhares de voluntários, em uma região endêmica. Então, a gente consegue ter uma previsão de avançar até o ensaio de fase 2, se houver financiamento”, ressalta.

Fonte: Época Negócios