A Rede Municipal Especializada em IST/Aids de São Paulo recebeu, na última semana, um importante reforço na promoção da assistência às pessoas vivendo com HIV na cidade. Na sexta-feira (2), os 77 novos infectologistas contratados pela prefeitura para complementar as equipes de saúde participaram de um treinamento sobre a atual política de enfrentamento ao HIV/aids e outras ISTs na cidade.

A capacitação aconteceu no Palácio Caetano de Campos, no centro da capital, e contou com a presença do Secretário Municipal de Saúde de São Paulo, Luiz Carlos Zamarco e da coordenadora geral da Coordenadoria de IST/Aids, Cristina Abbate.

Na mesa de abertura do Treinamento de Médicos Infectologistas, o Secretário Luiz Carlos Zamarco destacou a importância da gestão municipal na garantia de se fazer escolhas técnicas que promovem mais qualidade nos serviços de saúde pública, especialmente com a possibilidade de novas contratações. “São Paulo é uma cidade preparada para lidar com este cenário”, observou o Secretário, referindo-se ao empenho no enfrentamento às ISTs na capital. “O prefeito [Ricardo Nunes] entende a necessidade e a importância de nos permitir chamar novos profissionais”, completou

Além disso, a Secretária-Executiva de Atenção Básica, Especialidades e Vigilância em Saúde (Seabevs), Sandra Sabino, falou sobre a necessidade de um olhar preciso, capaz de identificar o que deve ser feito para que a saúde pública seja constantemente aprimorada.

Já Cristina Abbate, Coordenadora de IST/Aids da cidade de São Paulo, pontuou a importância da assistência promovida na cidade. “A cidade de São Paulo representa o maior ambulatório do país em IST/Aids. Acompanhamos mais de 50 mil pessoas em seguimento, fazendo uso da Terapia Antirretroviral (TARV).”

Cristina ressaltou ainda que o evento foi um marco para que os resultados alcançados sejam aprimorados. “Esses resultados são fruto de uma equipe aguerrida nos 27 serviços da cidade”, destacou a Coordenadora. “Há 5 anos consecutivos trazendo quedas nos índices de HIV. E o que dá certo em São Paulo vira exemplo para o país”.

A ideia do encontro, segundo os organizadores, também foi para que os profissionais conhecessem a política interna, as diretrizes técnicas preventivas, tratativas e assistenciais e de boas práticas dos Serviços de Atenção Especializada (SAE), que interagissem com as equipes de trabalho e que tirassem suas dúvidas.

“Enquanto houver um único caso de óbito por HIV na cidade de São Paulo, haverá trabalho a ser feito”, destacou a gestora.

Atualmente, a RME conta com 107 médicos infectologistas e 341 profissionais de áreas não médicas. “Ter pego uma rede do zero e hoje entregar para vocês uma rede completa causa uma grande emoção”, encerrou.

Cenário epidemiológico

A pediatra Tatiane Pavan, que integra o setor de monitoramento da transmissão vertical, destacou em sua fala que pelo quinto ano consecutivo houve queda nas notificações de novos infecções por HIV; 39% de queda na taxa de detecção; e que a epidemia ainda está concentrada no sexo masculino (81,9%), com uma média de idade entre 15 e 29 anos.

“O banco do SINAN, que é o nosso sistema de monitoramento, não contempla pessoas trans, mas sabemos que 70% dos diagnósticos estão concentrados em HSHs (homens que fazem sexo com homens).”

Pensando em raça/cor, a médica alertou que ainda temos uma epidemia muito focada nas pessoas pretas e no que se refere a gênero, os casos de aids estão mais concentrados em mulheres pretas.

Sobre transmissão vertical, afirmou que a eliminação deste agravo é uma prova de todo o trabalho árduo na ponta. São Paulo recebeu do Ministério da Saúde a Certificação de Eliminação da Transmissão Vertical do HIV. “Conseguir é difícil, mas manter aquilo que a gente já conseguiu é muito mais difícil”, falou.

‘‘Em pleno 2023, não é aceitável que uma criança nasça com HIV, algumas coisas fogem da nossa governabilidade, mas dói muito quando chega a notícia que alguma criança está com a carga viral positiva”, finalizou.

A Dra. Tatiane não esqueceu de pontuar que a cidade disponibiliza a fórmula láctea para a mãe HIV+ alimentar seu bebê, além de atender quaisquer demandas necessárias da gestante ou puérpera.

Gênero e sexualidade

Adriano Queiroz, responsável pelo setor de prevenção, trouxe uma apresentação dinâmica e lúdica sobre os temas propostos em sua participação.

O especialista explicou conceitos sobre gênero, identidade/expressão de gênero e frisou que em todos os serviços da RME, sem exceção, que os colaboradores devem respeitar as escolhas dos pacientes, incluindo o nome social das pessoas trans e travestis.

Segundo ele, interpretamos socialmente a sexualidade do outro de acordo com o que nos é apresentado culturalmente. “O contexto em que estamos inseridos, o lugar onde crescemos, a nossa religião, família, classe social… tudo isso influencia nas nossas leituras sobre o outro. Precisamos tomar cuidado para não fazer pré-julgamentos e pressupor práticas sexuais a partir dos signos sociais que estipulamos, esse cuidado é fundamental dentro do consultório.”

Já ao falar sobre prevenção combinada, explicou que existem vulnerabilidades individuais, sociais e programáticas, destacando as diferentes estratégias existentes hoje e a importância de garantir o acesso facilitado e integral a elas.

“Nem todas as mulheres têm condição de negociar preservativo, pessoas brancas e pretas não têm o mesmo acesso aos serviços e estratégias. Precisamos garantir!”, disse.

Protocolos

Temas como a Terapia Antirretroviral (TARV) e a prescrição das profilaxias de prevenção ao HIV, a PrEP e a PEP também foram destaques no Treinamento de Médicos Infectologistas.

Como explicou a infectologista Zarifa Khoury, médica da Coordenadoria de IST/Aids, os novos médicos contratados atuarão no maior ambulatório descentralizado de IST/Aids do Brasil, o que torna ainda mais impactante o trabalho que realizam na rotina da assistência às pessoas vivendo com HIV.

Zarifa Khoury apresentou os fluxogramas de prescrição e acompanhamento das profilaxias, que são tecnologias de prevenção fornecidas gratuitamente pelo SUS, e reforçou a necessidade de se iniciar o tratamento no mesmo dia do diagnóstico.

“Assim que um paciente for diagnosticado, ele deve começar o tratamento, no máximo em até 15 dias, conforme orientação da Organização Mundial da Saúde).”

Na sequência, Dr. Robinson Camargo, Coordenador da equipe de Assistência da Coordenadoria de IST/Aids, conduziu a mesa sobre as diretrizes, boas práticas e fluxos de acompanhamento importantes dentro da atuação nas unidades de saúde.

“A gente quer atender bem e de forma agilizada”, pontuou, ressaltando que isso deve ser feito respeitando os protocolos vigentes do Ministério da Saúde, da Secretaria Estadual e da Secretaria Municipal de São Paulo.

O Treinamento de Médicos Infectologistas foi uma iniciativa inédita que proporcionou um grande encontro de profissionais da saúde dispostos a trabalhar pela garantia do acesso das pessoas vivendo com HIV ao tratamento e ao acompanhamento especializado.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br) com informações