Muitos LGBTQIA+ vivem cenas de violência e desrespeito dentro de casa. Alguns conseguem a ajuda de pessoas próximas ou a própria independência. Muitos, porém, acabam nas ruas. Neste mês de luta contra a LGBTfobia, a Agência Aids traz a história da Casa Miga, que realiza o acolhimento de brasileiros, refugiados e imigrantes LGBTQIA+ expulsos de casa e/ou em situação de vulnerabilidade social. Fundada em 2018, essa é a primeira casa de apoio a essa população da região Norte.

A Casa Miga tem capacidade para atender 14 pessoas, atualmente o local conta com 3 moradores, e todos os assistidos e novos integrantes precisam ser adultos, a partir dos 18 anos. 

Karen Arruda – Diretora da Casa Miga

De acordo com a diretora do local, a ativista Karen Arruda, além de moradia, são oferecidos atendimento psicológico, orientação social e jurídica e ainda capacitação profissional que prepara o acolhido para voltar ao mercado de trabalho.

“Aqui temos profissionais como psicóloga, assistente social, gestora, assistente, cozinheiro e monitores, além dos voluntários. Estamos abertos a receber voluntários que tenham compromisso com o trabalho, pois qualquer ajuda é bem-vinda”, disse Arruda.

Os acolhidos recebem ajuda para tirar documentação e, no caso de pessoas trans, a colaboração para a retificação de nome e gênero na certidão de nascimento. Há ainda famílias cadastradas que recebem apoio da instituição com cestas básicas.

“Atualmente, o que tem sido mais difícil é verbas para alimentação da casa, pois tentamos manter uma dieta balanceada, mas mesmo com a doação de cestas básicas precisamos comprar proteína, verduras e frutas”, explicou a diretora do local.

Segundo Karen Arruda, a Casa Miga surgiu “a partir da necessidade de um dos nossos assistidos. Percebemos que não existiam casas de acolhimento no Amazonas. Então, decidimos criar uma, não foi fácil, teve todo um trabalho de pesquisa. Nossos primeiros beneficiários foram sete refugiados venezuelanos e uma travesti brasileira.”

Desde 2018, já passaram pela casa 403 pessoas, 67% são pessoas trans. “Recebemos aqui a diversidade da sigla LGBTQIA+, mas um dado que nos chama sempre atenção é que de todas as pessoas que já passaram por aqui, 48% são refugiados venezuelanos”, contou. 

O acolhimento

Karen destacou ainda que um dos diferenciais desta casa é o acolhimento. “Fazemos uma triagem com a assistente social e psicólogo, precisamos entender a situação em que a pessoa está para ver se ela se enquadra no perfil da casa. Infelizmente não temos vagas para todas as pessoas que nos procuram, mas sempre realizamos uma avaliação antes de colocar alguém dentro da casa”, explicou a diretora, se referindo inclusive à segurança dos outros assistidos.

A ativista disse que muitos jovens chegam ao abrigo traumatizados e inseguros. “A primeira coisa que procuramos fazer é integrá-los na rotina da casa, muitos chegam em situação de trauma causados pelos familiares e acabam precisando de um tempo para entender onde estão e o que precisa ser feito para prosseguir, nessa etapa é preciso ter paciência”, informou.

A importância da comunicação entre pares

A gestora da Casa Miga contou que tem apostado na comunicação entre pares no resgate da autoestima e saúde mental dos usuários da casa.  “Alguns assistidos apresentam melhora após se integrar a casa e ouvir outras histórias, só o fato de estarem rodeados de pessoas da comunidade já é uma ajuda, com isso eles entendem que não são esquisitos, estranhos ou anormais e que podem seguir a vida mesmo não tendo sido aceito pelas suas famílias”, defendeu a ativista.

A diretora revelou que já tentou realizar conversas entre os acolhidos e suas famílias para tentar sanar parte do preconceito.  “Muitos familiares acabam sendo relutantes e não querem conversar, é uma situação em que não podemos forçar”, desabafou.

Política pública para a população LGBT no Amazonas

Hoje, segundo Karen, não existe nenhuma política pública voltada para a defesa dos direitos da população LGBTQIA+ no no Amazonas.  “Fazemos um trabalho de assistência política e advocacy. Junto com outras instituições do estado, tentamos falar com órgãos públicos e convencê-los a se responsabilizar pelo trabalho que fazemos, porque é um trabalho do Estado.”

“Espero um dia conseguir fazer com que o Estado assuma essa responsabilidade de oferecer o direito básico para as pessoas em situação de vulnerabilidade, que é moradia e alimentação, para que possamos pensar em outras pautas que envolve a necessidade do ser humano, como por exemplo, cursos de capacitação e uma atenção básica na área da saúde”, finalizou Karen Arruda. 

Gisele Souza (gisele@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

Karen Arruda

E-mail: Casamigalgbt@gmail.com

Quem quiser colaborar doando donativos para instituição pode entrar em contato por meio do número (92) 99298-7970 ou pelo Instagram @casamigalgbt.