No final de 2022, o Ministério da Saúde contemplou com certificados ou selos de boas práticas, 43 municípios que atingiram a meta de eliminação da transmissão de HIV e/ou sífilis como problema de saúde pública. Das cidades certificadas, 28 foram por eliminação do HIV, incluindo três recertificações: São Paulo (SP), Curitiba (PR) e Umuarana (PR). Um dos municípios, Guarapuava (PR), recebeu dupla certificação, por ter alcançado a eliminação tanto do HIV quanto da sífilis. Também foram contemplados aqueles municípios que possuem boas práticas rumo à eliminação da transmissão vertical. O assunto foi debatido na manhã deste sábado (6), no Hepatoaids, em São Paulo.

A médica e mestre em saúde pública, Angélica Espinosa, que está à frente da Coordenação Geral de Vigilância das ISTs, no Departamento de Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis, começou a fala citando a cidade de São Paulo como um exemplo de conquista e alcance desta certificação. Com base nos indicadores de impacto, a capital paulista trouxe para o centro do debate as estratégias e traçou caminhos possíveis para que a eliminação total da transmissão vertical do HIV também se torne uma realidade a nível nacional.

De acordo com a gestora, para que esse título continue válido em São Paulo, o trabalho de monitoramento da saúde das gestantes e dos bebês não pode parar. Ela destacou que ações articuladas entre poder público e seus mais diversos ministérios, ONGs, e sociedade organizada, precisam ser viabilizadas o quanto antes para garantir o cuidado e qualidade de vida integral das gestantes.

Tais ações, segundo a palestrante, perpassam a atenção primária e atenção especializada. Dra. Angélica elencou como fundamental o acesso ao pré-natal, e para além do acesso, acesso de qualidade, que ofereça bom quantitativo de testes, bem como testagem em tempo oportuno.

A transmissão vertical ocorre quando a criança é infectada por alguma IST durante a gestação, parto, e em alguns casos durante toda amamentação. Por isso, todas as gestantes e suas parcerias sexuais devem ser investigadas para IST durante o pré-natal e no momento do parto, especialmente para o HIV, sífilis e hepatites virais B e C.
A especialista ainda pontuou que boa parte destes desafios são complexos e fogem da área da vigilância, concentrando-se na atenção primária.

“Questões específicas precisam ser trabalhadas em relação a infecção pelo HIV, que apesar de ser a mais próxima de a gente atingir a eliminação da transmissão vertical, ainda tem alguns desafios que precisam ser enfrentados, principalmente a necessidade de alcançar as gestantes que não estão sendo diagnosticadas, porque é neste caso que a transmissão vertical acontece hoje”, disse. “Os casos de hepatite B também exige ampliação da cobertura vacinal, entre tantas outras demandas”, frisou.

Dra. Angélica Espinosa fez questão de destacar que as metas traçadas para eliminação destas doenças enquanto problema de saúde pública até 2025, com teto máximo em 2030 – ano de cumprimento da agenda 2030 da ONU – são metas bastante claras e objetiva, para que todos os estados e municípios estejam alinhados no mesmo objetivo, e destacou que agora o grande desafio que se sobrepõe, é como vamos nos mobilizar coletivamente para que essas metas se tornem práticas diárias nos serviços de saúde e assistência.

“Temos um pacto político de gestão bem definido, mas se a gente não der um passo atrás e promover uma boa formação dos profissionais de saúde, para que eles saibam o que precisam fazer com uma gestante com sífilis, com uma criança exposta à sífilis, ao HIV… tudo isso não vai valer de nada. Não adianta a gente ter um pacto bonito, politicamente aprovado e combinado, com uma cerimônia linda em Brasília que reforça esse discurso de que vamos eliminar a transmissão vertical, se não trabalharmos na base o que é necessário. Sem isso, a gente não vai ter mudança. O envolvimento é coletivo, o envolvimento deve ser amplo”, enfatizou.

Fluxogramas

Nesse sentido, logo em seguida afirmou que as mais de 300 mil cópias dos fluxogramas elaborados dos respectivos agravos: Sífilis, HIV, e Hepatite B, estão disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), nos PCDTs, estão disponíveis também online na página do Departamento de Aids e em breve estarão disponíveis em aplicativo, ainda em fase de desenvolvimento.

“Os fluxogramas que elaboramos esclarecem o que é preciso e qual conduta o profissional de saúde precisa adotar para tratar essa gestante na hora do atendimento, na hora de um teste positivo… Já temos tudo no papel, agora, o maior desafio é tirar do papel e fazer com que isto vire a nossa realidade.” Mas, de acordo com a especialista, é preciso antes de tudo haver uma comunicação representativa e inclusiva, considerando os diferentes aspectos e diferenças, inclusive territoriais.

Segundo ela, só com uma linguagem democrática e promoção de acesso, as políticas públicas de saúde serão efetivas, especialmente no norte e nordeste do país que atualmente é onde há maior carência de investimento e assistência.
“Não adianta fazermos um fluxograma, por exemplo, para um bairro rico de São Paulo, até porque mesmo em São Paulo existem bairros mais afastados que vão ter problemas. Precisamos de uma linguagem e acesso que seja para todo mundo!”

Ela ainda parabenizou os profissionais de saúde, especialmente os que integram o SUS, pela dedicação apesar das dificuldades estruturantes, e por fim chamou atenção para a importância do trabalho de base.
“Em meio as dificuldades, eles estão fazendo o melhor, e o nosso papel é estimular os municípios para que continuem progredindo. As visitas de território não devem ser como auditorias, elas são visitas de educação em saúde, discussão do processo…. Precisamos descer do salto e ver que no território quem entende do processo é quem está lá vivendo. O mais importante é saber que todo mundo tem algo a ensinar e todo mundo tem algo a aprender”, finalizou.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

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