A profilaxia pré-exposição, ou PrEP, é um método já conhecido de prevenção à infecção pelo HIV. Disponível no SUS desde 2018, ela é indicada para qualquer pessoa sexualmente ativa acima de 15 anos que esteja em risco de contato com o vírus. Mas, ainda que a PrEP seja capaz de proteger em 95% contra o HIV, não é todo mundo que se adapta a ela.
No seu formato clássico, a PrEP consiste em dois medicamentos combinados (tenofovir e entricitabina) que devem ser tomados continuamente todos os dias. Acontece que muitas pessoas não querem, não conseguem ou nem mesmo precisam tomar o remédio diariamente, já que praticam apenas atividades sexuais esporádicas. É aí que entra a PrEP sob demanda.
O que é a PrEP sob demanda?
A PrEP sob demanda é uma alternativa para aquelas pessoas que têm relações sexuais com frequência menor do que 2 vezes por semana.
“A medicação é a mesma, o que muda é a forma de tomar”, afirma a dra. Marianna Bezerra, infectologista no Centro de Testagem e Aconselhamento de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. “Em vez de diário, o esquema se inicia com dois comprimidos que devem ser tomados de 2 a 24 horas antes da exposição sexual, seguidos de 1 comprimido após 24 horas e 1 comprimido após 48 horas”, explica.
Se houver mais de uma relação nesse período, o ideal é tomar o último comprimido após 48 horas da última relação. Ou seja, se uma pessoa tiver atividades sexuais na sexta, sábado e domingo, ela deve tomar 2 comprimidos em até 2 horas antes da primeira exposição, seguido de 1 comprimido por dia até que se complete 48 horas após a última relação — nesse caso, na terça-feira.
De onde surgiu?
O esquema da PrEP sob demanda começou a ser estudado em 2015 através do Ipergay. Esse estudo francês testou diferentes formas de tomar a PrEP: não só diariamente, como também de forma pontual quando o indivíduo fosse ter uma atividade sexual que o colocasse em risco de infecção por HIV. A conclusão foi que o medicamento protege muito bem das duas formas.
Outro estudo francês, o Prévenir, distribuiu mais de 3 mil comprimidos da PrEP para pessoas em situação de vulnerabilidade ao vírus. Elas poderiam escolher a forma de tomar, se diariamente ou sob demanda, e tinham liberdade ainda para migrar de um esquema para outro. No fim, houve apenas seis casos de infecção por HIV, todos eles em participantes que haviam abandonado os comprimidos.
Sendo assim, em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar a PrEP sob demanda e, em 2022, ela foi incluída no SUS.
Quem pode tomar a PrEP sob demanda?
A PrEP sob demanda é indicada para:
Homens cisgênero (que se identificam com o gênero atribuído ao nascimento), independentemente da orientação sexual;
Pessoas não binárias designadas do sexo masculino ao nascer;
Travestis e mulheres transsexuais que não estejam em terapia hormonal com estradiol.
Ela não está indicada para mulheres cisgênero e pessoas não binárias designadas do sexo feminino ao nascer, porque, tanto no Ipergay quanto no Prévenir, a modalidade foi estudada majoritariamente em homens cisgênero gays. Portanto, ainda não existem dados robustos nas demais populações.
“E no caso de mulheres trans ou travestis em terapia hormonal à base de estradiol, esse hormônio pode interagir com os antirretrovirais da PrEP, reduzindo a eficácia da proteção”, pontua a dra. Marianna.
A infectologista também alerta que a PrEP sob demanda deve ser evitada por quem tem dificuldade em compreender o esquema ou em programar as exposições sexuais para dar início à administração dos comprimidos no tempo adequado.
O mesmo acontece para quem já vive com o HIV, visto que a PrEP é um método de prevenção que deve ser usado por quem não vive com o vírus.
Quais são as vantagens da PrEP sob demanda?
O principal ponto positivo em relação à PrEP clássica é não ter que tomar a medicação todos os dias, além de diminuir o risco de alteração na função dos rins a longo prazo.
Lembrando que a PrEP sob demanda protege apenas contra a infecção pelo HIV. Para se prevenir contra as demais infecções sexualmente transmissíveis, ela deve ser utilizada combinada a outros métodos, como o preservativo e a testagem dos parceiros sexuais.
Onde conseguir?
Se você acha que esse esquema é o ideal para a sua realidade, procure pela Rede Municipal Especializada, como os SAEs (Serviço de Atendimento Especializado), os CTAs (Centro de Testagem e Aconselhamento) ou até mesmo uma UBS (Unidade Básica de Saúde). Encontre a unidade mais próxima de você aqui.
A prescrição dos medicamentos depende da avaliação de um médico clínico ou infectologista e, uma vez iniciado o esquema preventivo, o acompanhamento acontece em intervalos de até 120 dias com avaliação clínica, testagem rápida e realização de exames, se necessário.
Fonte: Drauzio Varella