Em março, mês da mulher, a coluna ‘Senta Aqui, com Marina Vergueiro’, no Instagram oficial da Agência Aids, está recebendo mulheres que contribuem na luta contra aids e pelo empoderamento feminino. Nessa segunda-feira (6), a convidada foi a psicóloga e professora Edna Kahhale.

Logo no começo da conversa, Edna falou sobre a negação da sexualidade feminina e porque ainda existe uma certa relutância nesse tema em relação às mulheres. “Temos uma questão muito séria que é a forma como a sociedade vive e organiza as coisas. Durante muito tempo ela foi e ainda é uma sociedade patriarcal, então tudo se baseia no homem, regras, formas de relações, leis… Ainda temos uma sociedade muito desigual, mas nós mulheres estamos lutando e reivindicando esses direitos para ser mais igualitário, não só na sexualidade, mas também na convivência social”, disse.

Saúde mental das mulheres

Outro assunto abordado pela psicóloga foi a saúde mental feminina. Para a professora, os distúrbios podem surgir por muitos motivos, como responsabilidades impostas sobre as mulheres e relacionamentos abusivos, que se escondem através de uma certa sutileza.

“Segundo levantamento epidemiológico de saúde mental, todas as mulheres têm alto índice a depressão e de ansiedade, na realidade essas doenças são quase respostas frente a uma série de opressões, boa parte da população escolhe suas parcerias amorosas, mas nem todas vivem relações igualitárias, de trocas, muitas delas têm uma dominação, ainda que sejam de forma sutil, mas tem. Isso acaba criando situações onde as mulheres se sintam desvalorizadas, gerando assim quadros de depressão e ansiedade, em muitos casos as mulheres se sentem culpadas pelo sentimento do outro”, esclareceu a dra. Edna Kahhale.

A sexualidade como fator de empoderamento feminino

Kahhale afirma que a sexualidade é um fator de empoderamento e que ambos andam juntos. A especialista falou ainda sobre a importância de a mulher conhecer o próprio corpo. “Hoje as novas gerações têm uma oportunidade diferente das anteriores, as mulheres aprendem sobre seu corpo e suas necessidades e isso é importante. As vezes as mulheres gostam de uma pessoa, mas não tem tesão por ela, no geral, as mulheres têm dificuldade de dissociar o afeto da sexualidade, embora isso não seja verdade para todo mundo, mas elas precisam conhecer seus gostos e desejos e identificar o porquê ela está com tal pessoa. Aprender sobre seu corpo, do que ela gosta ou não, também é empoderamento”.

“Muitas mulheres se infectam com o HIV porque não têm tranquilidade de pedir para a sua parceria usar preservativo, é difícil encontrar uma mulher que se infectou e que não tenha uma parceria estável, de 5 ou 10 anos. Isso se dá porque elas não falam sobre sexo com seus companheiros e não discutem sobre autocuidado. No nosso convívio social, é identificado que mulheres de maiores autonomias sexuais não são sérias, o que não é verdade, é fundamental conversar e mostrar para essas mulheres que elas têm esse direito, isso também é empoderamento”, relatou.

Intimidade sexual

A coordenadora do Laboratório de Estudos de Saúde e Sexualidade (LESSEX) falou ainda sobre o seu ponto de vista sobre a satisfação sexual e a intimidade. “O encontro sexual envolve disponibilidade, um precisa estar ali pelo outro. A intimidade é você ser capaz de olhar para o outro, curtir o que ela é, e de igual modo o outro ter com você, falar o que sente e escutar a outra pessoa, isso é a intimidade, ela não cai do céu precisa ser construída, disse.
“Muitas vezes é difícil, construir uma intimidade, ter uma relação sexual satisfatória, não significa que você tenha intimidade, se você se sente bem com o seu corpo e conhece ele, você desenvolve um sexo legal com sua parceria”, informou.

Educação Sexual

A professora e pesquisadora faz um respaldo sobre educação sexual, explicando o que é esse conceito, além de abordar a importância do sexo seguro. “Eu acho esse processo horroroso”, falou ao se referir a pesquisa de que diz que jovens acima de 18 anos afirmam não usar preservativo.

“Hoje os jovens têm pouca informação sobre a importância do uso dos preservativos. Algumas escolas particulares criam espaços para informações sexuais e procuram conscientizar esse público, e nesses lugares percebemos que os jovens vão atrás de informação, mas esse assunto ainda é pouco falado em casa. Os jovens hoje não usam preservativo, primeiro porque não tem muitas informações necessárias sobre o assunto e segundo porque eles não têm muita perspectiva de vida. Infelizmente nós não investimos muito na nossa população jovem, eu fico nervosa com isso, precisamos investir na nossa juventude.”

Para a professora, a educação sexual deve começar na infância. “A educação sexual deve estar na família e também na escola, quando você ensina para a criança que ela não pode andar peladinha em determinados lugares, isso é educação sexual. Quando você orienta sobre quem pode tocar em seus órgãos genitais, isso é educação sexual. Quando você explica de onde as crianças nascem, você está praticando a educação sexual. É importante saber separar as coisas e deixar essa parte do diálogo aberta para as crianças”, concluiu a psicóloga.

Confira a live na íntegra

Dica de entrevista

Edna Kahhale

E-mail: ednakahhale@pucsp.br

Gisele Souza (gisele@agenciaaids.com.br)