“É um pesadelo. A sensação é de perder tudo o que conquistei, como se fosse acordar e ser uma mulher cisgênero de novo.” Assim Oliver Olívia descreve a angústia de estar há três meses com a terapia hormonal atrasada, devido à falta de testosterona na rede pública de saúde e o preço proibitivo do medicamento comercializado nas farmácias. Por volta de 10 horas da manhã, o professor e diretor de teatro saía de unidade básica de saúde do Centro da capital paulista frustrado, porque a atendente informou que o hormônio estava em falta, e não sabia precisar uma data para o retorno.

Com o atraso na terapia, Oliver começou a sentir mudanças indesejadas no corpo. “Antes, a menstruação não era algo que incomodava. Agora, está muito bagunçada, não é mais como era antes da transição. Minha voz começou a mudar também e tudo isso afeta minha saúde mental. Passei a ter pesadelos, como se meu corpo estivesse mudando, tipo aqueles filmes de body horror, sabe?” Ao conversar com amigos, ele descobriu não ser o único a enfrentar o problema. “O preço disparou na farmácia e todo mundo que fez a transição não encontra mais o hormônio pelo SUS. Tudo começou a desandar no fim do governo Bolsonaro.”

Fonte: Carta Capital