Ministério da Saúde lança campanha sobre saúde de mulheres lésbicas e  bissexuais

Neste 29 de agosto é celebrado o Dia da Visibilidade Lésbica. A data foi estabelecida no Brasil há 26 anos, durante a realização do 1º Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE), organizado pelo Coletivo de Lésbicas do Rio de Janeiro (COLERJ). Desde então, o dia 29 de agosto passou a representar um marco na luta de lésbicas pela visibilidade de seus direitos e posicionamento na sociedade.

A data segue a representação de lutas ainda antigas, mas que perduram no cotidiano. Entre elas está o combate à violência, à lesbofobia e ao lesbocídio, retratos de uma realidade que não mudou muito nas últimas duas décadas.

No campo da saúde, muitas delas ainda enfrentam o preconceito e a desinformação por parte dos profissionais de saúde. Entre os principais desafios relatados por mulheres lésbicas e bissexuais no acolhimento e atendimento em saúde estão à crença equivocada de que elas não têm risco de desenvolver cânceres de mama e de colo de útero, a oferta de anticoncepcionais e preservativos masculinos antes de qualquer abordagem sobre suas práticas sexuais, o atendimento ginecológico embasado no pressuposto de que a vida sexual ativa de todas as mulheres é heterossexual ou ligada à reprodução.

A Agência Aids conversou com especialistas e traz dicas para uma saúde sexual saudável. A infectologista Zarifa khoury, coordenadora do ambulatório no Hospital Emilio Ribas, chamou atenção para a importância da prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como o HPV, no sexo entre mulheres.

“O HPV é principal causador do câncer de colo de útero. Existem dois grupos de HPV, os potencialmente oncogênicos e os não oncogênicos. Os oncogênicos costumam levar a verrugas, que são esteticamente desagradáveis e os não oncogênicos levam a alterações. Essas alterações são imperceptíveis e com o tempo levam ao câncer de colo de útero”, relatou a médica.

Mulheres que fazem sexo com mulheres também apresentam o risco de adquirir HPV. Seja através do contato de mucosa da vulva com outra vulva, do contato com mão contaminada, através do sexo oral ou através do compartilhamento de brinquedos sexuais.

Segundo dra. Zarifa, a melhor forma de prevenção contra HPV é através da vacinação, preferencialmente antes do início da atividade sexual. “Vacine-se contra o HPV, a imunização é considerada uma das principais medidas preventivas contra o câncer de colo do útero. O Brasil derrapa na imunização contra HPV por causa da desinformação.” Ainda na avaliação da dra. Zarifa Khoury, o HPV acaba se tornando uma porta de entrada para outras ISTs.

De acordo com a Opas, existem atualmente duas vacinas que protegem contra o HPV 16 e 18, que são conhecidos por causar pelo menos 70% dos casos de câncer do colo do útero. As vacinas também podem ter alguma proteção cruzada contra outros tipos menos comuns de HPV que também causam essa doença. Uma das vacinas também protege contra os tipos 6 e 11, que causam verrugas.

As vacinas não podem tratar a infecção pelo HPV ou doenças associadas ao HPV, como o câncer.  A OMS recomenda a vacinação para meninas com idade entre 9 e 13 anos, já que essa é a medida de saúde pública mais eficaz em relação ao câncer do colo do útero.  No entanto, a vacinação contra o HPV não substitui a triagem do câncer do colo do útero. Nos países onde a vacina é introduzida, os programas de triagem devem ser desenvolvidos ou fortalecidos.

No SUS, o imunizante está disponível nas UBS e nos serviços especializados. Podem se vacinar meninas de 9 a 14 anos; meninos de 11 a 14 anos; homens e mulheres imunossuprimidos, de 9 a 45 anos, que vivem com HIV/aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos.

A estudante de jornalismo Larissa de Lucca, que se identifica como mulher lésbica, afirmou que já ouviu falar sobre HPV e outras ISTs, mas que geralmente não se previne. “As mulheres desconhecem as formas de prevenção no sexo lésbico, eu tive acesso a informações sobre saúde sexual na escola, mas nunca me alertaram como faço para me prevenir com mulheres”, contou.

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De acordo com a ginecologista e obstetra Julianna Vasconcelos, a maioria dos métodos de barreira, ou seja, que protegem contra as ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) é “improvisado” e adaptado dos produtos tradicionais. Mesmo que não sejam dispositivos ideais, é necessário utilizar nas relações para se proteger das infecções.

“Muitas pessoas não acham que isso é necessário, que não é relevante ou desconhecem mesmo os métodos. A maioria das mulheres lésbicas não faz uso consistente de nenhum método de barreira ou fazem uso esporádico. Alguns deles são improvisados, como o uso da camisinha cortada, o que pode não ser muito prático na hora H”, analisou dra. Julianna, em entrevista ao jornal O Globo.

“A penetração dos dedos ou acessórios exige cuidados básicos de higiene (lavagem com água e sabão) e com as unhas, que devem estar limpas e curtas. Podem ser usadas calcinhas de látex (para o sexo oral ou vulva com vulva), luvas descartáveis ou dedeiras. A barreira utilizada deve ser trocada nos casos em que se alterne a penetração entre ânus e vagina ou entre as parcerias sexuais. Caso exista alguma lesão genital suspeita, o contato sexual deve ser evitado até que a lesão seja avaliada. O uso dos coletores menstruais ou absorventes internos pode ser útil para minimizar o contato com o sangue menstrual”, orienta a especialista.

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Além desses métodos, há dois outros dispositivos, ainda que improvisados, que podem ser utilizados para ajudar na proteção durante o sexo oral. Um deles é o “dental dam”, uma membrana de látex utilizada em procedimentos odontológicos que vem sendo recomendada para o sexo oral. Outra alternativa é adaptar uma camisinha.

Embora o tema da saúde sexual de mulheres lésbicas e bissexuais com vulvas esteja sendo mais falado na sociedade atualmente, ainda há uma grande inviabilização da sexualidade e das práticas sexuais dessas mulheres.

Gisele Souza (gisele@agenciaids.com.br) com informações

 

Dicas de entrevista:

Dra. Zarifa Khoury

E-mail: Zarifa@einstein.br

Larissa de Lucca

E-mail: Larissadlm40@gmail.com