Teve início nesta quarta-feira (27) em Montreal, Canadá, a pré-conferência, evento que antecede a 24ª Conferência Internacional de Aids. Um dos painéis realizados hoje foi Getting to the Heart of Stigma (Chegando ao coração do estigma), um simpósio de liderança de pensamento que busca apresentar, discutir e interrogar a base de evidências de campo para o estigma relacionado ao HIV. É uma plataforma para discutir os esforços globais financeiros, estratégicos e programáticos para contextualizar, implementar e ampliar intervenções eficazes de redução e mitigação do estigma.

Dentro deste painel, na mesa State of the Field Review, uma atualização sobre evidências de pesquisas de campo, foram anunciadas as últimas descobertas de uma revisão sistemática global de evidências e o progresso em direção ao consenso para orientar ações práticas ampliadas.

O fundador e vice-presidente da Avenir Health, John Stover, apresentou uma pesquisa que mostrou o impacto do estigma nos novos casos de infecção por HIV e mortes por aids. Ele iniciou sua fala explicando que, na pesquisa, foram usados modelos matemáticos para traduzir as metas 10-10-10 e 95-95-95, estabelecidas pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), em recursos financeiros ou humanos necessários para atingi-las.

As metas 10-10-10 afirmam que, até 2025, menos de 10% dos países devem ter ambientes legais e políticos punitivos que neguem ou limitem o acesso a serviços, menos de 10% das pessoas vivendo com HIV e populações-chave sofrerão estigma e discriminação, e menos de 10% das mulheres, meninas, pessoas vivendo com HIV e populações-chave sofrerão desigualdade de gênero e violência. Já a meta 95-95-95 visa que as taxas de teste, tratamento e supressão viral do HIV sejam de 95%–95%–95% até 2025.

Stover explicou que, no passado, já foram utilizados dados sobre o progresso no tratamento, circuncisão em homens, camisinhas e PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), mas nunca foi possível incluir o impacto de facilitadores sociais nesses objetivos por falta de informação.

“A pesquisa mostra que pessoas que internalizaram o estigma têm menos probabilidade de se testarem para o HIV, de acessar a terapia antirretroviral, de começar o tratamento rapidamente, e de aderir ao tratamento. Analisando esses dados, não iremos alcançar os objetivos 95-95- 95. Só alcançaremos esses objetivos com maiores progressos em reduzir o estigma. Então, foi feito o cálculo de quanto ficaremos aquém desses objetivos se não abordarmos o estigma. O resultado é que atingiremos apenas algo em torno de 88-88-89 sem essa abordagem”, explicou ele.

Com essas informações e utilizando modelos matemáticos, a pesquisa chegou à conclusão que, combatendo o estigma, o número de novas infecções cairiam para menos 300 mil por ano até 2030. As mortes relacionadas a aids diminuiriam para menos 200 mil por ano até 2030

Se não houver progresso em combater o estigma e outros facilitadores sociais, a redução nesses índices será menor, o número de novas infecções sobe para 440 mil até 2030.

“Abordar todos os facilitadores sociais, incluindo o acesso do estigma à justiça e combate à violência baseada em gênero, contribuiria isoladamente para diminuir 1,6 milhão de mortes por aids e evitar 2,6 milhões de novas infecções. O impacto é enorme”, concluiu Stover.

O pesquisador declarou estar ansioso para conhecer os novos estudos sobre esse impacto que serão apresentados na Conferência.

John Stover e a Avenir Health

John Stover é fundador, vice-presidente e Diretor de Análise e Modelagem da Avenir Health. Seu trabalho se concentra no uso de modelagem matemática para apoiar a preparação de estimativas de HIV, definição de metas, avaliação de impacto, custeio e alocação de recursos. A Avenir Health, anteriormente Futures Institute, foi fundada em 2006 como uma organização global de saúde que trabalha para melhorar o desenvolvimento social e econômico, fornecendo ferramentas e assistência técnica em políticas, planejamento, alocação de recursos e avaliação. Em particular, se concentra no desenvolvimento e implementação de modelos demográficos, epidemiológicos e de custeio para o planejamento de longo prazo para auxiliar no estabelecimento de metas, estratégias e objetivos.  A organização auxilia tanto no desenvolvimento quanto na implementação de programas em HIV/aids, saúde reprodutiva, saúde materna e outras áreas de programação. Trabalha com agências governamentais, fundações, corporações e organizações não governamentais em todo o mundo.

 

Redação da  Agência Aids 

Dica de Entrevista: 

John Stover

E-mail: jstover@avenirhealth.org

https://www.avenirhealth.org/