O imunologista Anthony Fauci, principal conselheiro médico do governo dos Estados Unidos para a pandemia, disse, em entrevista ao jornal O Globo, acreditar que é “extremamente improvável, impossível”, que o mundo consiga erradicar o novo coronavírus. Segundo ele, isso deve acontecer devido à capacidade do vírus de se modificar.
“Vírus como o sarampo, polio e a varíola não sofrem (muitas) mutações, mantêm-se estáveis por muitos e muitos anos. A covid-19, por sua vez, teve cinco variantes (importantes) em dois anos e meio, e a duração da imunidade não é vitalícia, o que nos coloca na situação de uma vacinação periódica, como é com a influenza”, explicou ele.
Fauci disse esperar que em 2022 e em 2023 o mundo entre num estágio de “controle do vírus” num nível baixo o suficiente para que não seja necessário adotar medidas mais rígidas, que afetem a economia, escolas e eventos.
Queremos chegar em um nível em que o vírus não desapareça totalmente, até porque não acredito que isso seja possível, mas que seja algo que não domine mais a sociedade, como o Sars-CoV-2 fez nos dois últimos anos e meio Anthony Fauci, em entrevista ao jornal O Globo
Fauci é cauteloso quando questionado se é possível ser otimista e dizer que o pior já passou. Segundo ele, isso é possível, mas não se pode dizer com certeza que esse é o caso porque sempre há o risco de uma nova variante aparecer.
“Já fomos enganados antes, pensamos que o pior tinha passado com a variante original e então apareceu a delta. Então achávamos que tínhamos passado pelo pior com a delta e veio a ômicron. Acredito que há uma grande chance de que o pior já passou, mas não há garantias porque há sempre o risco do aparecimento de uma nova variante.”
Sobre a flexibilização do uso de máscaras, realidade em diversos estados do Brasil, o especialista afirmou ser muito difícil dizer amplamente se é uma boa ideia ou não, citando que, nos Estados Unidos, as autoridades disseram às pessoas que elas precisam avaliar qual é o “seu risco individual”.
Ele explica: “Por exemplo, se você é vacinado e tem a dose de reforço, mas é uma pessoa mais velha, com alguma comorbidade, você está em uma posição de grande risco de ter um desfecho grave. Então, faz sentido manter a máscara para ter um grau a mais de proteção. Mas isso não é o mesmo para todos. Para os jovens, saudáveis, em uma posição em que acham ser muito difícil usar a máscara, talvez haja a disposição de passar esse risco extra ao não usá-la. Não é somente uma política ampla, cada um determina qual o seu nível de risco”.
Sobre a necessidade da quarta dose — segundo reforço — para todos os adultos, o imunologista destacou que dependerá da dinâmica do vírus em cada país. Ele destaca, no entanto, que, com a ômicron, todos precisam de, ao menos, uma dose de reforço.
“Contudo, ainda não sabemos qual a periodicidade desse reforço no futuro, possivelmente teremos que dar anualmente, como a influenza.”
Perguntado sobre como lidar com grupos antivacinas, Fauci reconheceu que não há uma solução fácil, mas que é preciso oferecer dados a estas pessoas — eles mostram a importância dos imunizantes para prevenir casos graves da doença, hospitalizações, e evitar óbitos.
“Os dados são muito, muito, claros quando comparamos os níveis de hospitalização e mortes dos não vacinados com pessoas vacinadas e com reforço. A maioria (de casos graves e mortes) é ostensivamente de não vacinados. A diferença entre vacinados e não vacinados é, fortemente, obviamente, em favor do benefício de salvar você mesmo de sérias complicações e morte. Os dados falam por si só. Às vezes, quando mostramos essas informações, as pessoas não acreditam, ou recusam a aceitá-las, não há muito o que fazer quanto a isso. Mas é preciso ser paciente e que sigamos tentando explicar. Não os rejeite, não os culpe porque isso só os aliena do que você está tentando dizer”, finalizou Anthony Fauci.