Na noite de terça-feira (12), a Agência Aids apresentou live originalmente produzida pelo Fundo Positivo, dentro do projeto Saúde Positiva, que foca na importância de falar e cuidar da saúde mental.

Com mediação de Harley Henriques,  Coordenador Geral do Fundo Positivo, a conversa contou com a participação de Mauricio Tostes, psiquiatra do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e do Instituto de Psiquiatria da UFRJ; Fernanda Hernani, psicóloga do CAPSi Eliza Santa Roza; e Salvador Campos, psicólogo, escritor e consultor em HIV/Aids.

Fernanda Hernani observou em sua apresentação que quando fazemos uma retrospectiva da história da aids, pela ótica da estigmatização e do preconceito em relação às pessoas vivendo com HIV, percebemos o quanto teve peso como essa história foi contada e descrita lá do início. “Em 1982, foi reconhecido o fator de possível transmissão da doença pelo contato sexual, uso de drogas, exposição a sangue e derivados. Nesse mesmo ano, a doença foi classificada e denominada temporariamente de ‘doença dos 5 H’: homossexuais, hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína injetável) e hookers, denominação em inglês para profissionais do sexo. Em 1983, descreve-se o primeiro caso de possível transmissão heterossexual e homossexuais e usuários de droga são considerados difusores do fator para os heterossexuais não usuários. Em 1985, foram caracterizados comportamentos de risco, no lugar de grupos de risco. Em 1987,começa-se a questionar a classificação de comportamentos sexuais tidos como anormais e, somente em 1990, há trinta anos, a Organização Mundial da Saúde retirou a homossexualidade da classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde.” Ela ressaltou que, no início da epidemia, “receber um diagnóstico de HIV positivo era realmente receber um atestado de óbito: uma doença fatal, transmitida sexualmente ou por uso de drogas coloca o vírus no centro de um tabuleiro como alvo de muita discriminação e preconceito. Essa vertente da epidemia parece determinante no processo de formação das representações sociais, das atitudes, percepções e reações das pessoas, afetando de maneira negativa a saúde mental das pessoas vivendo com HIV.”

Em 1987, foi criado no Hospital do Fundão da Universidade Federal do Rio de Janeiro foi criado um programa  de atendimento a pacientes com HIV e “ na ocasião eu, honestamente não sei exatamente porquê, me voluntariei para trabalhar com HIV. Naquela época, a doença era assustadora para todos, porque não tinha perspectiva de cura, as pessoas morriam com muita frequência e todos tinham medo, inclusive nós que trabalhávamos com isso”, contou o psiquiatra Mauricio Tostes. O médico destacou que havia medicamentos que retardavam um pouco a evolução da doença, mas o paciente ficava muito marcado, as pessoas identificavam quem tinha HIV. “O Herbert Daniel tem um texto em que ele conta a forma muita dura, fria, como ele recebeu o diagnóstico de aids e ele fala ‘todo mundo vai morrer, mas parece que quem tem HIV/aids vai morrer mais’. Realmente, quem tinha HIV, parecia que tinha aquela espada na cabeça.” Tostes explica que com os novos tratamentos, combinações de antirretrovirais, este cenário mudou e a doença se tornou praticamente de condição crônica. “Uma pequena parte de pacientes ainda chega com a doença avançada, geralmente pessoas desprovidas de assistência, de regiões onde talvez o estigma seja maior, porque ainda é muito difícil a pessoa procurar ajuda para o HIV e ter essa condição revelada”.

O psicólogo e escritor Salvador Campos Corrêa salientou que o contexto da pandemia de Covid-19 faz tudo ficar mais desafiador, inclusive para as pessoas vivendo com HIV. “A gente tem no decorrer de 2020, por exemplo, muitas denúncias de pessoas que não estavam conseguindo acessar serviços. Isso foi constantemente registrado pelos movimentos sociais. O Unaids fez uma pesquisa em maio desse mesmo ano que mostrou que – de três mil pessoas vivendo com HIV investigadas – 66,7 % sentiam alterações de humor em função da pandemia. Isso é um registro importante. A gente tem também a questão da depressão, da ideação suicida, que em pessoas com HIV é uma questão ainda mais delicada. Algumas pesquisas apontam  a depressão como o transtorno mental que mais acomete as pessoas vivendo com HIV. E o trânsito entre vida e morte, não só no sentido físico, mas no sentido social. Passar por essa pandemia, é revisitar isso.”

Assista a live na íntegra abaixo:

 

Redação Agência de Notícias da Aids

 

Dica de Entrevista:

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