Nasci na década de 70, em plena ditadura militar, quando não tínhamos exemplos do que era ser LGBTI.

Aprendíamos que era errado e era pecado. Não se conversava sobre o tema na família, na sociedade ou em programas televisivos.

A vida LGBTI era restrita aos guetos e a mídia nos expunha como culpados de todos os males sociais.

Já adolescente, passei a ver pessoas LGBTI estigmatizadas pelo vírus HIV, do qual éramos novamente culpados, nos condenando ao ostracismo e ao medo em assumir nossa sexualidade.

Foi assim que comecei minha militância. Me rebelando a essa condenação social. E assim, em 1996, participei da campanha para vereador do primeiro candidato assumidamente gay. Foi um grande desafio. Mas ele, infelizmente, não se elegeu.

Ao longo de toda minha vida vi poucas personalidades públicas terem coragem para sair do armário e se assumirem.

Ainda é tabu assumir que você possui um ídolo que seja LGBTI. Causa desconforto na sociedade.

Na política, ser simpatizante e apoiador pode significar perda de votos. Esse ainda é um campo conservador.

Se existem exemplos? Claro! Tivemos Kátia Tapety, a primeira mulher transexual a se eleger para um cargo político no Brasil.

Filha de uma família de políticos, viveu até os dezesseis anos escondida dentro de casa.

Residente no município de Colônia do Piauí, há 388 quilômetros ao sul de Teresina, ingressou no PFL sendo eleita vereadora em 1992, 1996 e 2000, sempre como a mais votada.

Foi presidenta da Câmara Municipal nos anos de 2001-2002. E foi eleita vice-prefeita, em 2004, na chapa de Lúcia de Moura Sá, com 62,13% dos votos dos 5.417 eleitores da pequena cidade.

Tivemos Clodovil e Jean Wyllys, no Congresso Nacional.

Elegemos Erika Hilton, Carolina Yara e Thammy Miranda para a Câmara de São Paulo.

Mas no executivo ainda era tabu. Então, acordar com as manchetes dizendo que o governador em exercício do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, assumiu, em rede nacional, sua orientação sexual, é um passo gigantesco para a população LGBTI.

Para construirmos exemplos positivos e afirmativas para adolescentes e jovens LGBTI que ainda passam por bullying, preconceito e discriminação.

Sou do Diversidade Tucana da Capital e, para o nosso grupo, tal afirmação é um divisor de águas dentro do partido e vem corroborar tudo pelo que temos lutado e construído ao longo dos anos!

Só posso externar meus parabéns ao Governador Eduardo Leite e afirmar que contamos com ele nas nossas fileiras coloridas e diversas dentro da social democracia.

*Cassio Rodrigo de Oliveira Silva é Coordenador de Políticas para LGBTI da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo

Contato: crosilva@prefeitura.sp.gov.br