Desde o final do século 19, organizações femininas oriundas de movimentos operários protestavam em vários países da Europa e nos Estados Unidos. As jornadas de trabalho de aproximadamente 15 horas diárias e os salários medíocres introduzidos pela Revolução Industrial levaram as mulheres a greves para reivindicar melhores condições de trabalho e o fim do trabalho infantil, comum nas fábricas durante o período.

A luta continua também no que diz respeito ao acesso à saúde por parte de mulheres. Nas pesquisas sobre HIV, por exemplo, apesar de a população feminina representar metade do número de infectados no mundo, poucos dados contemplam os efeitos do vírus e dos antirretrovirais em mulheres.

 

Dados

No Brasil, em 2019, foram diagnosticados 41.919 novos casos de HIV e 37.308 casos de aids. O Ministério da Saúde estima que cerca de 10 mil casos de aids foram evitados no país, no período de 2015 a 2019. A maior concentração de casos de Aids está entre os jovens, de 25 a 39 anos, de ambos os sexos, com 492,8 mil registros. Os casos nessa faixa etária correspondem a 52,4% dos casos do sexo masculino e, entre as mulheres, a 48,4% do total de casos registrados.

O maior número de gestantes infectadas com HIV (27,6%) está entre jovens de 20 a 24 anos. Em um período de 10 anos, houve um aumento de 21,7% na taxa de detecção de HIV em gestantes que pode ser explicado, em parte, pela ampliação do diagnóstico no pré-natal e a melhoria da vigilância na prevenção da transmissão vertical do HIV. Em 2019 foram identificadas 8.312 gestantes infectadas com HIV no Brasil. O Ministério da Saúde atualizou o protocolo para prevenção de transmissão vertical do HIV, ou seja, quando é passado de mãe para filho.

Vale lembrar que o Brasil é signatário do compromisso mundial de eliminar a transmissão vertical do HIV e optou por adotar uma estratégia gradativa de certificação de municípios. A eliminação da transmissão vertical do HIV, assim como a redução da sífilis e da hepatite B, é uma das seis prioridades do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI) da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. A certificação possibilita a verificação da qualidade da assistência ao pré-natal, do parto, puerpério e acompanhamento da criança e do fortalecimento das intervenções preventivas.

Um estudo de PrEP nos EUA descobriu que mulheres estão usando cada vez mais os medicamentos para evitar a infecção pelo HIV. De acordo com a pesquisa, o aumento foi de 12 vezes entre julho de 2012, quando foi licenciado para uso pelos EUA, e no final de 2017. Os dados foram apresentados na 23ª Conferência Internacional da Aids (AIDS 2020: Virtual).

 

Mulheres negras e HIV 

 

Segundo relatório da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo que reúne dados de diferentes estudos brasileiros e internacionais, . A aids foi a principal causa de mortalidade nas mulheres entre 25 e 34 anos em São Paulo no início da década de 1990 até o fim da década de 2000.

Em estudo sobre os determinantes de vulnerabilidade de mulheres negras ao HIV coloca que, de 1.221 mulheres negras entrevistadas, apenas 23% referiam uso consistente de preservativos, e 54,5% referiram nunca utilizá-los.

No tocante às mulheres negras, essas relações são ainda mais complexas, se pensarmos que na escala hierárquica da sociedade é reservado a elas o espaço de menor poder, pois se somam à dinâmica já perversa das relações de gênero, outras formas de dominação e desigualdade sociais advindas das relações étnico/raciais e de uma situação socioeconômica, na maioria das vezes menos privilegiada.

No mesmo estudo, os autores colocam que as mulheres negras referiram maior prevalência de violência psicológica (59%) e física (40%) do que as brancas (51% e 36%, respectivamente). Um estudo qualitativo com mulheres de 16 a 55 anos de idade de comunidades remanescentes de quilombos em Alagoas apontou que um acentuado número de mulheres é submetido à violência doméstica em diversos níveis, incluindo físico e sexual. As mulheres quilombolas relataram ser vítimas de preconceito racial, sofrendo humilhação na rua, na escola, em festas e inclusive no atendimento em postos de saúde.

Já dados da Organização Mundial de Saúde mostram que a violência doméstica e relações em que o parceiro tem controle excessivo sobre as companheiras estão associadas, segundo estudos com mulheres africanas, a uma prevalência da infecção por HIV 50% mais alta.

Clique aqui para conferir essas pesquisas na íntegra. 

 

Anel Vaginal 

A Organização Mundial de Saúde passou a recomendar o anel vaginal com dapivirina (DPV-VR) possa ser oferecido como uma opção de prevenção adicional para mulheres com risco substancial de infecção por HIV como parte das abordagens de prevenção combinada.

O DPV-VR é uma opção iniciada por mulheres cis para reduzir o risco de infecção por HIV. Para o uso adequado do anel, ele deve ser usado dentro da vagina por um período de 28 dias, após o qual deve ser substituído por um novo anel. O anel é feito de silicone e é fácil de dobrar e inserir, e funciona liberando o medicamento antirretroviral dapivirina do anel para a vagina lentamente ao longo de 28 dias.

Dois ensaios clínicos randomizados de Fase III descobriram que o uso do DPV-VR reduziu o risco de infecção pelo HIV em mulheres e o uso a longo prazo foi bem tolerado. O estudo Ring demonstrou uma redução do HIV de 35% entre as mulheres que usam DPV-VR, e o estudo ASPIRE uma redução de 27% no risco.

 

Ausência de Pesquisas 

Em fevereiro deste ano, um estudo norte-americano publicado na Clinical Infectious Diseases mostrou que mulheres que vivem com HIV correm maior risco de desenvolver comorbidades não relacionadas à aids do que suas colegas HIV-negativas. No geral, as mulheres que vivem com HIV tiveram 36% mais probabilidade de desenvolver comorbidades não relacionadas à aids durante o período do estudo em comparação com as mulheres sem HIV.

Isso aumentou para 48% entre as mulheres com menos de 25 anos – um grupo não priorizado tradicionalmente nas diretrizes de rastreamento de comorbidade.

Desde a década de 1990, diversos estudos apontavam fatores biológicos que explicam a maior probabilidade de infecção pelo HIV em mulheres do que em homens, como, por exemplo: o fato de os homens apresentarem maior quantidade de carga viral no esperma do que as mulheres no líquido vaginal; liberação de maior quantidade de secreção sexual masculina do que feminina nas relações sexuais; uso de contraceptivos orais; a alta prevalência de infecções genitais femininas que, mesmo sendo muitas vezes assintomáticas, fragilizam a mucosa vaginal e facilitam a entrada do HIV e outros vírus. Entretanto, ainda que essas informações sejam verdadeiras, não podemos subestimar a forte associação das relações de gênero nas sociedades com a maior vulnerabilidade das mulheres à infecção pelo HIV.

Redação da Agência de Notícias da Aids

 

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