“O que têm em comum uma defensora de direitos humanos e ativista do movimento negro; uma travesti negra intersexo que vive com HIV; uma mãe professora do chão da escola pública; uma feminista negra pelo veganismo popular e uma trabalhadora de aplicativo?”. Esta é a apresentação da bancada feminista do PSOL que reúne cinco mulheres e foi eleita para compor a Assembleia Legislativa de São Paulo.
Segundo as representantes da bancada, a ideia de candidatura coletiva surgiu da necessidade de “ampliarmos a representatividade de um mandato e democratizarmos o acesso ao poder institucional.”
“Estamos cansadas de parlamentares que se distanciam das demandas da população depois da eleição. A candidatura coletiva da Bancada Feminista do PSOL tem como objetivo manter sua proximidade com a população e por isso está representada por cinco cocandidatas. Acreditamos que o feminismo é diverso e nossos perfis mostram exatamente isso: somos mulheres de todas as lutas”, afirmam.
Representante da população com HIV/aids
“A minha trajetória política começou com o meu nascimento”, conta Carolina Iara de Oliveira, 28 anos. Ela vive com HIV/aids é travesti, intersexo, servidora pública da saúde e ativista em direitos sociais e humanos e conquistou agora o cargo de vereadora.
Ela acaba de se tornar a primeira travesti a primeira intersexo a ocupar um vaga legislativa no Brasil. Carolina sabe como é essa sensação: é a única pessoa trans no programa de pós-graduação na UFABC (Universidade Federal do ABC), na Grande SP, onde cursa mestrado em Ciências Humanas e Sociais.
Foi em 31 de dezembro de 1992 que a trajetória política de Carolina começou. Nascida intersexo, em uma época com poucas informações sobre a pluralidade de corpos, foi submetida a diversas cirurgias de redesignação sexual. Ou mutilações, como chama. Sua mãe, solo, negra e periférica, achava que os médicos tinham razão.
“Seu filho em uma síndrome rara de anomalia de diferenciação sexual, ele nasceu com um problema na genitália, mas como ele tem músculo suficiente para formação de um pênis, vamos fazer o processo de fazer ele ter um pênis normal”, escutou de um deles. E foi o que aconteceu.
Só no começo de 2019 que Carolina saiu novamente do armário e se posicionou, de uma vez por todas, como travesti. Como eleita, ela afirma que carregará as bandeiras que carrega em seu corpo e conhece bem.
Carolina define a Câmara Municipal de São Paulo como “coisa horrorosa”. “Quando a gente pensa em Câmara Municipal, nessa instituição tão antiga, só não mais antiga que a igreja, é da mesma forma que na colonização. Os donos das regiões vão lá, se dividem e fazem a Câmara da cidade”.
“Aqui em São Paulo tem uma capa mais moderna que nas cidades do interior, mas ainda é um coronelismo um pouco disfarçado. Romper com isso e fazer uma renovação na Câmara é importantíssimo”, aponta.
Conheça as integrantes da bancada