A partir do próximo dia 03 de novembro começa uma série de seminários online para divulgar o detalhamento dos resultados da Pesquisa sobre o Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids no Brasil, realizada pelo Programa Conjunto das Nações Unidas (Unaids). O levantamento, feito pela primeira vez no Brasil, é um espelho do que acontece na vida das pessoas vivendo com HIV e Aids mesmo depois de 40 anos do início da epidemia e mostra como essa população ainda é discriminada e sofre com o preconceito e a desinformação.

Vanessa Campos, representante estadual da RNP+Amazonas e secretária nacional da RNP+Brasil participou da divulgação dos dados sobre Manaus e trabalhou diretamente na execução da Pesquisa Índice de Estigma em Relação Às PVHA em Manaus enquanto entrevistadora e pessoa de referência.

Ela explicu que os dados obtidos “mostram graves violações de direitos dentro dos SAE (serviço de atenção especializada) como: abuso verbal; revelação de sorologia sem consentimento; aconselhamento de abstinência sexual; minimização de contato físico; comentários negativos pelo fato da pessoa ter HIV e recusa de atendimento.”

“Com relação à confidencialidade do prontuário ou outros registros médicos, 53% dos pacientes têm dúvidas ou não acreditam que são mantidos em sigilo. Como podemos visualizar vínculo e adesão ao tratamento num espaço que julga e não acolhe? Os direitos sexuais e reprodutivos são notoriamente questionados e/ou negados às PVHA por profissionais de saúde dos SAE, pois, 10,2% receberam recomendações de não se tornarem mãe (pai) pelo fato de terem HIV”, disse.

Vanessa explica ainda que, além de 6% dessas pessoas serem pressionadas ou incentivadas a serem esterilizadas, também 1,7% foram condicionadas a usar anticoncepcionais ou algum outro método específico de contracepção para obterem tratamento antirretroviral. Esterilização sem o conhecimento ou consentimento apareceu em 1,3% das respondentes.

Mulheres cis responderam que foram pressionadas por profissionais de saúde a fazer um método específico de parto (29,2%); a usar um tipo específico de anticoncepcional em vez de ser aconselhada sobre várias outras opções disponíveis (12,9%); a fazer o tratamento antirretroviral durante a gravidez em vez de apresentarem isso como uma opção (4,8%).

Nos serviços não específicos ao HIV os usuários relataram recusa de atendimento médico; minimização de contato físico; abuso verbal; recusa de atendimento odontológico; revelação de sorologia sem consentimento; aconselhamento de abstinência sexual e abuso físico.

As diferentes forma de discriminação

No meio social, entre as diferentes formas de estigma e discriminação as mais sofridas em Manaus são:

– Comentários discriminatórios ou fofocas vindos tanto de vizinhos e conhecidos quanto de familiares: 55,1% e 42,5% respectivamente.

– Cônjuges/ parceiras (os) sofreram discriminação por se relacionarem com uma pessoa HIV+: 29,2%

– Assédio verbal pelo simples fato de ter HIV: 23,9%

– Perda de emprego ou fonte de renda: 22,6%

– Exclusão de atividades familiares e sociais: 15,6%

– sofreu chantagem: 15,5%

– mudança na natureza do trabalho ou negação de promoção: 11,8%

– exclusão em atividades religiosas ou locais de culto: 8,4%

“Não é fácil viver com HIV e ter sistematicamente seus direitos básicos negados e ainda ter que viver se escondendo da sociedade na tentativa de não ser alvo de tudo isso. A sorofobia é sempre uma grande barreira nas relações afetivas. A perda de emprego ou fonte de renda, a grande dificuldade de acesso ao INSS e desaposentações, nos colocam em extrema vulnerabilidade social”, diz Vanessa.

“Por tudo isso, a saúde mental das PVHA é muito afetada o que também corrobora com a dificuldade na adesão ao tratamento. Então, pergunto: aonde fica nossa tão falada qualidade de vida? Chegar ao Indetectável=Intransmissível é para poucos!”

“A RNP+Amazonas se disponibiliza para construir, juntamente com a gestão, oficinas e rodas de conversa para sensibilizar os profissionais de saúde dos SAE nestas questões cruciais para o enfrentamento do estigma e discriminação às PVHA em Manaus”, afirma a ativista.

“A culpabilização das PVHA pela transmissão do HIV e a segregação social têm sido um mecanismo que afasta a maioria das pessoas da testagem e do tratamento. Toda esta engrenagem de morte civil e social tem grande impacto nas novas infecções e mortalidade por aids no Brasil”, conclui.

 

Mais informações

Os seminários são direcionados para movimentos sociais e pessoas que atuam em defesa dos direitos das pessoas vivendo com HIV e Aids; para profissionais de saúde; para parlamentares e profissionais que trabalham nos Poderes Legislativo e Judiciário. A série de eventos seguirá até o mês de dezembro nas demais seis capitais onde a pesquisa foi realizada: São Paulo-SP (06/11), Recife-PE (01/12), Rio de Janeiro-RJ (04/12), Brasília (07/12), Salvador-BA (08/12); Porto Alegre-RS (11/12).

As entrevistas foram feitas por pessoas vivendo com HIV/Aids, capacitadas pela Gestos. A realização desse estudo inédito no país foi possível graças a uma parceria entre diversas organizações e instituições. Também estiveram envolvidos no estudo, a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids (RNP+); o Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP); a Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV e Aids (RNAJVHA); e a Rede Nacional de Mulheres Travestis e Transexuais e Homens Trans vivendo e convivendo com HIV/AIDS (RNTTHP).

Os eventos acontecerão sempre das 14h às 17h (horário local), através da Plataforma Zoom. Para participar é preciso fazer a inscrição através do link. São 50 vagas por seminário.

 

Dica de entrevista

Vanessa Campos

E-mail: comunica@rnpvha.org.br

Unaids

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Redação da Agência de Notícias da Aids