Na semana passada, “The New England Journal of Medicine” publicou artigo de uma dupla da pesada: Linda Fried, reitora da faculdade de saúde pública de Columbia, e John Rowe, professor da instituição. Com o título “Health in aging – past, present and future” (“Saúde no envelhecimento – passado, presente e futuro”), os dois fizeram um balanço dos estudos sobre a longevidade, por ocasião do Dia Mundial do Idoso, que vale como bússola para todos os que se interessam pelo tema. Os autores afirmam que, nos EUA, desde que a Academia Nacional de Medicina foi criada, há 50 anos, a expectativa de vida veio aumentando, na média, um mês por ano. Segundo eles, um dos maiores avanços da ciência foi elucidar o processo de envelhecimento e as alterações que o acompanham. O resultado disso é que o saber acumulado iniciou uma nova era, a da gerociência, de prevenção e promoção de saúde.

Os autores enfatizam que o cuidado com idosos mudou substancialmente porque condições consideradas típicas do “envelhecimento normal” ganharam uma nova leitura e abordagem: agora são identificadas como fatores de risco que demandam intervenção precoce. Um bom exemplo é a queda na mortalidade de doenças cardiovasculares, mas Fried e Rowe citam os progressos na prevenção do diabetes e de alguns tipos de câncer relacionados ao estilo de vida e ao meio ambiente, como o de pulmão. São otimistas ao analisar que, nos últimos anos, houve uma mudança significativa de foco: em vez de a medicina se debruçar sobre cada enfermidade, passou a reconhecer que diversas doenças crônicas coexistem e compartilham os mesmos fatores de risco. São as síndromes geriátricas, que englobam quedas, fragilidade – conceito criado pela própria doutora Fried – e delirium, causando incapacidade, dependência e morte.

O envelhecimento da população mundial, graças ao aumento da expectativa de vida, tem se encarregado de derrubar preconceitos. Basta constatar a heterogeneidade na velhice: se há idosos frágeis, há os que continuam ativos até o fim de seus dias. Como resultado, a visão do envelhecimento vem mudando, deixando de ser entendido apenas como um processo de perdas e dependência, podendo se caracterizar também pela aquisição de conhecimento e o desenvolvimento de capacidades psicossociais.

À medida que a expectativa de vida cresce e a taxa de fertilidade cai, a maioria dos países vem se tornando nações com mais gente acima dos 65 do que abaixo dos 15 anos. A sociedade, como um todo, e os sistemas de saúde, em particular, não foram desenhados para atender a essa demanda. Fried e Rowe ressaltam a urgência de os governos se adaptarem às transformações demográficas, garantindo a segurança física e financeira dos idosos e os apoiando para que se mantenham produtivos e engajados. Nos EUA, os 65 mais já são quase 20% da população (aqui, os 30 milhões acima de 60 correspondem a 13% dos brasileiros, mas esse número dobrará em 40 anos). Na avaliação de ambos, o cenário exige atenção redobrada com o objetivo de ampliar a força de trabalho. Mesmo naquele país, há menos de 6.700 geriatras – o equivalente a dispor de um médico da especialidade para cuidar de 7.242 norte-americanos. O Brasil não chega a ter 2 mil.

Os números relativos aos vários tipos de demência – o Alzheimer, principalmente – representam um dos maiores desafios que o mundo terá pela frente. No entanto, Fried e Rowe comentam que, numa perspectiva mais ampla, as mudanças climáticas terão impacto avassalador para a saúde dos velhos, por causa da ameaça dos efeitos do aquecimento global, insegurança alimentar, poluição atmosférica e migrações forçadas. A ciência do envelhecimento está apenas começando a considerar essas ameaças, alertaram.

Fonte: G1