Em alusão ao Dia das Mães, comemorado no próximo domingo (10), a Agência de Notícias da Aids relembra histórias de mulheres que, para além da maternidade, se dedicam à luta contra a aids e o preconceito. Muitas delas, justamente por viverem com HIV, chegaram a acreditar que não poderiam ter filhos e precisaram enfrentar o estigma para construir suas famílias.

Por meio das histórias de vida aqui retratadas, homenageamos as mães pela coragem ao lidar com os desafios na busca por autonomia, direitos, acesso à tratamento e tantos outros desafios presentes na vida daquelas que vivem e convivem com o HIV.

Relembre a seguir as histórias das ativistas Credileuda Azevedo e Anny Jackeline dos Santos.

 

Credileuda Azevedo

“Foi em agosto de 93. Minha irmã pensava estar com anemia e resolvi fazer uma bateria de exames junto com ela. Tudo para ela era doença. Quando peguei meu exame, estava lá: positivo”. Foi assim que Credileuda Costa de Azevedo descobriu que tinha HIV, aos 24 anos. Creuda, com é conhecida em toda a cidade de Horizonte, a 50 km de Fortaleza, teve a sorte de ser atendida pela “doutora Lurdinha”, a assistente social que a encaminhou ao tratamento. “Tive acesso a informação numa época em que todos diziam que quem tivesse aids só tinha três meses de vida”.

E Creuda viveu por um motivo especial. O filho de 3 anos e 4 meses de vida. “Levei ele pra fazer o exame. Deu negativo. O ciclo de vida é esse. A gente nasce, cresce, morre. E sei que um dia eu vou morrer, não sei do que, mas enquanto eu estiver viva, vou cuidar dele”.

Hoje, Creuda se dedica a cuidar também daqueles que não tiveram a sorte de encontrar alguém como Lurdinha em seu caminho. “Eu acompanho algumas pessoas que estão recebendo resultado positivo em hospitais. Elas acham que vão morrer, então temos um grupo para escutar o que elas passam além do HIV”. Ela encontra pelo caminho muitos daqueles que abandonaram o tratamento. “Por trás desse abandono vem a não aceitação da família, a miséria, a pobreza, ausência de uma boa alimentação.”

O segundo casamento, trouxe outro desafio. Uma segunda filha e o medo de transmitir o vírus para a criança. Em 2017, a pequena menina completou 21 anos de idade. Sem HIV.  Hoje, Creuda é avó de dois netos. Casada há 5 anos com um marido sorodiscordante,  a cada três meses faz exame para acompanhar a carga viral. Quando a conheceu, o marido de Creuda já sabia do HIV. “É que, na cidade, quem sabe quem é Creuda, sabe que ela tem HIV”, ela mesma justifica.

Tudo o que ela quer é “que a gente seja tratado por igual. Precisamos de um cuidado especial por termos HIV? Sim. Mas ainda somos seres humanos.”

 

Anny Jackeline Santos

Anny Jackeline Alves dos Santos adorava trabalhar com a fala. Sua paixão era ser locutora de bingo no anos 90. Outra paixão era ouvir Cazuza. Amava cantarolar “ideologia”, sua música preferida. Em 97, também por paixão, entrou em um “relacionamento fixo de minha parte”, como ela mesma define.

Ela morava na cidade de Quixadá, no Ceará. “Comecei a percorrer a 168km até Fortaleza para ver ele. Fui ficando… ficando, até que passamos a morar juntos. Ele é gringo e chegamos a tirar foto, passaporte e visto pra ir embora pra Europa, mas depois da aprovação de meus pais, ele começou a ficar diferente. Um dia veio até mim e disse: ‘a partir de hoje, mulher minha não usa camisinha’. Ele começou a cortar meus cigarros e a escolher as roupas que eu usava. Eu me sentia amada, querida, apaixonada. Hoje vejo que estava iludida e acabei cedendo aos caprichos.”

Anny também se preocupava com o filho de 5 anos de idade, fruto de um relacionamento anterior. Ela conta que suportou essa realidade por três meses, quando decidiu se separar e conseguiu trabalhar novamente com sua paixão, o bingo. Assim o fez até o ano de 2000. Um acidente vascular cerebral (AVC) lhe prejudicou a fala. “Fiquei preocupada com meu filho, ele viu uma das quatro convulsões que tive.” Depois, entrou para o Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas.

Hoje, 17 anos após o diagnóstico, Anny tem o filho como melhor amigo e está em um “relacionamento saudável”, como ela mesma gosta de colocar, há 13 anos, com um parceiro soropositivo. “E assim vou vivendo um dia após o outro. Não sofri preconceito de ninguém na minha casa. Conheci pessoas incríveis nesse meio, descobri que minha família me ama, mesmo com todas as dificuldades. Os amigos fiéis ficaram todos. Por isso, o HIV foi o mal que me fez bem.”. Anny encontrou sua ideologia para viver.

 

Redação da Agência de Notícias da Aids