28/01/2019 - 11h42
Unaids lança documentário sobre curso de audiovisual para pessoas trans e travestis

Como parte das celebrações do Dia da Visibilidade Trans, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids (Unaids) lançou nesta sexta-feira (25) o documentário para web “Luz, Câmera, Zero Discriminação”. A obra retrata quatro semanas do curso de audiovisual realizado com 16 pessoas trans e travestis em fevereiro e março do ano passado na capital paulista.

 

Financiado pelo fundo M·A·C Aids, com apoio da Coordenação de Políticas para LGBTI da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo e produção da Brodagem Filmes, o documentário mostrou os dez encontros que aconteceram no Centro de Cidadania LGBT Luiz Carlos Ruas.

 

Ao longo do curso, os participantes aprenderam fotografia, sonorização e produção, além de roteiro, pré-produção, direção, fotografia, filmagem, edição e pós-produção. Ao final de cada parte teórica, colocaram em prática o conteúdo aprendido. A produtora Brodagem Filmes foi selecionada para montar e conduzir o treinamento.

 

O objetivo foi contribuir para a redução do estigma e da discriminação em relação às pessoas trans e travestis e abrir espaços para que elas possam se apropriar das mídias sociais e de outras plataformas audiovisuais, fomentando também o acesso a esse mercado.

 

“Esta é uma população que ainda tem muito pouca representatividade nas mídias, até mesmo na Internet, onde esperamos encontrar um espaço mais democrático e inclusivo. Infelizmente, a realidade não é esta para as pessoas trans e travestis”, explicou Georgiana Braga-Orillard, diretora do Unaids no Brasil.

 

“O curso foi um projeto inovador que trouxe elementos práticos para que os alunos se apropriassem das mídias, tanto diante quanto por trás das câmeras, e pudessem mostrar sua realidade através do seu próprio olhar.”

 

A discriminação em relação a pessoas trans e travestis ainda causa muitas vítimas no Brasil, seja pela violência física e psicológica, ou mesmo pela marginalização que esta população sofre, algo que também pode resultar em mortes.

 

Nos serviços de saúde, por exemplo, estudos apontam que o estigma e a discriminação são capazes de afastar as pessoas dos cuidados necessários para uma boa saúde. Relatórios recentes do Unaids apontam que travestis e mulheres trans têm até 49 vezes mais chances de se infectar pelo HIV ao longo da vida quando comparadas com a média das pessoas com vida sexualmente ativa.

 

Globalmente, estima-se que 19% das mulheres trans e travestis vivam com HIV. Dados mais recentes do Ministério da Saúde estimam que entre 18% e 31% das travestis e pessoas trans no Brasil estejam vivendo com HIV. Na população em geral, prevalência do HIV é de 0,4%.

 

“Dar voz e espaço para as pessoas trans e travestis é contribuir para o fim desta marginalização, que as leva para longe dos serviços de saúde”, disse Georgiana. “Esperamos que elas inspirem outras pessoas e que também encontrem oportunidades para viver uma vida digna e produtiva.”

 

Assim como mais de 200 cidades em todo o mundo, São Paulo é uma das signatárias da Declaração de Paris, que prevê um compromisso de Aceleração da Resposta ao HIV para alcançar, entre outros objetivos, as metas 90-90-90, propostas pelo Unaids: ter, até 2020, 90% das pessoas estimadas com HIV diagnosticadas; ter 90% destas em tratamento antirretroviral; e ter 90% deste grupo com carga viral indetectável — quando a quantidade de vírus circulando no organismo é tão baixa que a chance de transmissão do HIV para outra pessoa é praticamente zero.

 

“Só o fato da gente sair de casa, ocupar a rua com uma câmera de filmagem, com um boom (microfone), e as pessoas pararem e verem que quem está atrás de uma câmara é uma trans, quem está segurando o boom é uma trans, quem está fazendo um claquete é uma trans, quem está atuando é uma trans, isso já é uma grande realização, uma grande conquista”, disse Samara Sosthenes, uma das participantes do projeto.

 

Outro participante, Gael Morais, destacou a importância de ouvir o que a população trans e travesti tem a dizer. “O importante é o que a gente quer dizer, o que a gente gostaria de falar. Isso é importante, não o que perguntam pra gente, porque as perguntas são sempre as mesmas. E a gente não quer mais responder as mesmas perguntas”, disse ele no filme.

 

Para Camila Biau, uma das facilitadoras do curso e sócia da Brodagem Filmes, selecionada para a condução dos treinamentos e produção do webdocumentário, o projeto reuniu “talentos incríveis, pessoas com ideias maravilhosas que só precisam de oportunidade para poder executar”.

 

Produções dos participantes

Para a realização dos projetos de conclusão do curso, a turma foi dividida em três grupos, que produziram dois curtas ficcionais — “(R)Existir” (vídeo-poesia que aborda com delicadeza e força a marginalidade imposta às travestis) e “Somos Todxs Humanxs” (vídeo repleto de ironia que mostra uma realidade hipotética na qual as pessoas trans e travestis são a maioria dominante).

 

Também foi produzido um vídeo documental — “TransMasculinidades” (que questiona o que é masculinidade na percepção da sociedade e de alguns participantes do curso, fazendo um paralelo entre homens cis e homens trans).

 

Além do webdocumentário, os participantes do curso se uniram para a produção de uma campanha para redes sociais — chamada “Bandeira” — alertando as pessoas sobre a importância da representatividade trans no audiovisual.

 

Este último vídeo foi inspirado no filme “Trans 102”, produzido em inglês pela Refinery29, uma empresa de entretenimento e mídia digital focada em mulheres jovens, em parceria com a fabricante de cosméticos MAC.

 

Fonte: ONU

notícias relacionadas

Ministério da Saúde dialoga com gestores sobre estratégias para eliminação das hepatites virais no Brasil

06/05/2024 - 12h19

Para alcançar a eliminação das hepatites virais como problema de saúde pública no Brasil é necessário esforço conjunto de gestores municipais, estaduais e federal da saúde.

Leia mais

Folha de S.Paulo: Por que Cazuza, lembrado por Madonna, é símbolo da luta contra o HIV e a Aids

06/05/2024 - 10h30

Cantor admitiu publicamente ter o vírus em entrevista à Folha em 1989; leia a reportagem original da época na íntegra agora

Leia mais

G1: Mais de 7 mil profissionais de saúde se cadastraram para atuar como voluntários no RS, diz governo

06/05/2024 - 10h23

Secretaria Estadual de Saúde afirma que, desde que a enchente atingiu o estado, 10 pessoas por minuto, em média, se cadastram para ajudar. Há registro de voluntários em todos os estados do Brasil.

Leia mais

Reconhecimento facial erra gênero de pessoa trans, destaca Folha de S.Paulo

06/05/2024 - 09h45

Falha causa transtorno em app bancário e Gov.br; projeto oferece solução para empresas

Leia mais

Apoio

SENACUNAIDSLá em CasaFórum de Empresas e Direitos LGBTI+

Apoio Institucional

OABMLMSaber ViverSoropositivo.orgSindicatoCidadão Sustentável