Nos últimos anos as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) vêm avançando no Brasil e no mundo. A luta contra velhas conhecidas da humanidade nesta área, como a sífilis e a gonorreia, enfrenta novos desafios. Em 2017, a escassez global do antibiótico mais usado no tratamento da sífilis, a penicilina benzatina, contribuiu para uma explosão dos casos de sífilis em gestantes e em recém-nascidos.  Com relação à gonorreia, são cada vez mais frequentes os relatos de infecções resistentes aos antibióticos que até pouco tempo conseguiam combater facilmente a doença. Pensando no enfrentamento destas infecções, especialistas defenderam nessa terça-feira (30), no evento de comemoração dos 35 anos do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo, uma força tarefa para o controle das ISTs até 2021.

“Segundo a OMS, temos que priorizar o enfrentamento de três doenças: gonorreia, sífilis – com foco na eliminação da sífilis congênita e HPV, com ênfase na vacinação para eliminar o câncer cervical e as verrugas genitais”, disse o médico Herculano Alencar, do CRT (Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo).

De acordo com Herculano, em São Paulo, os médicos estão sendo orientados pela rede de cuidados a incorporar a história sexual do paciente. “Só vamos conseguir eliminar a sífilis, por exemplo, se o parceiro também for tratado. É  preciso ainda manter a vigilância de resistência microbiana aos fármacos. No futuro, será preciso implementar apoio laboratorial para diagnóstico das IST prioritárias.”

Os especialistas apontaram que um dos problemas no combate às ISTs é que em um número significativo de casos, principalmente entre mulheres, as infecções são assintomáticas, isto é, não apresentam sintomas ou estes são muito brandos e acabam não sendo percebidos. Assim, sem saber que estão doentes muitas pessoas não são diagnosticadas e acabam transmitindo as doenças. “Por isso, os exames para ISTs devem ser algo de rotina para todas pessoas sexualmente ativas”, defendeu Herculano.

Para Fernanda Rick, do Departamento de IST, Aids e Hepatite Virais, grandes mudanças são necessárias na abordagem das ISTs. “Estamos falando em cuidado integral e não podemos nos esquecer de que saúde sexual e reprodutiva é um direito humano. Precisamos refletir o que é sexo seguro na era da prevenção combinada, já está claro que nenhuma forma de prevenção isolada é suficiente. A prevenção combinada também é para as hepatites virais, sífilis, HPV, e outras ISTs.”

Representando o movimento social, Rodrigo Pinheiro, presidente do Foaesp, lembrou que as ISTs e a aids continuam sendo um problema de saúde pública. “Nós, do controle social, estamos participando de capacitações técnicas para aprender a lidar com as ISTs na base. Também estamos monitorando e denunciando o aumento das infecções aqui em São Paulo, como foi o caso do surto de hepatite A. Hoje, vivemos um momento delicado, estamos comemorando 35 anos do Programa de Aids, mas não sabemos que vamos chegar aos 40.”

A comemoração dos 35 anos do Programa de Aids e 30 anos do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids de São Paulo, no contexto da 3ª Semana Paulista de Mobilização Contra a Sífilis, reuniu profissionais de saúde de São Paulo, no Centro de Convenção Rebouças.