Os efeitos da crise no cenário político e econômico brasileiro são uma razão a mais para que haja união entre gestores e sociedade civil. Este foi o destaque da abertura do 8º Encontro Nacional das Cidadãs Posithivas que aconteceu na tarde dessa terça-feira (11), na cidade de Fortaleza.
Durante a mesa de abertura, Vitória Bernardes afirmou que esse é o momento de reforçar que nossa organização enquanto mulheres e enquanto ser político é fundamental. Vitória enfatizou a importância do controle social, independente do segmento e da luta que se acolhe. “Se não falarmos por nós, ninguém vai falar sobre. Por mais que a gente entenda que se trata de uma só pauta, nossos corpos são únicos e sofrem de forma diferente. A dor que afeta uma, afeta a todas.”
Ao parabenizar a união de representações de mulheres vivendo com HIV do país inteiro, Dra. Adele Benzaken, diretora do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais, falou sobre como a prevenção combinada e o acesso à saúde integral é pertinente na saúde da mulher, especificamente. “Sempre fui e sempre serei uma cuidadora de mulheres. Essa é uma trajetória e esse é o compromisso que me move, sou uma técnica que busca responder aos anseios da sociedade civil e construir os debates de forma conjunta. Acredito muito uma união. Não precisamos de tons raivosos, mas sim de diálogos desarmados.”
A Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids também é parceira do encontro. Seu representante, Vando Oliveira, destacou a importância de “diante das dificuldades que o país vive, lembrar o quanto o SUS está ameaçado e sobre o quanto é necessário buscar mais parcerias com municípios e estados.”
Caio Oliveria, do Fundo de População das Nações Unidas, UNFPA, ressaltou que o acesso a todos os insumos que envolvem os direitos reprodutivos precisa ser garantido. “Algumas ações são difíceis de implementar em algumas comunidades locais. Apesar das dificuldades que tem sido enfrentadas, ainda há novas tecnologias, novos medicamentos, e por isso é importante a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas.”
A consultora do Unaids, Silvia Almeida, afirma esperar que saiam daqui propostas “com as quais possamos colaborar nos próximos anos, principalmente no que diz respeito às questões de discriminação.”
Marcos Paiva, da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza falou sobre agente políticas, detentoras de seus direitos. “Esse é o papel das cidadãs, valorizar o amor, justiça, lutar por seus direitos, fazendo com que o movimento cresça unificado.”
Da Secretaria Estadual de Saúde do Ceará, Marcos Gadelha, destacou o conhecimento de seus próprios direitos como pilar primordial do cuidado integral à saúde. “É preciso pensar de forma diferente sobre como fazer saúde. A saúde é interdependente. É preciso assumir papel ativo, se empoderar da saúde, não apenas cuidando da própria, mas participando e cobrando políticas públicas.”
Mulheres positivas e gestação
Durante palestra magna, Dra. Adele Benzaken apresentou às cidadãs informações acerca do cenário da epidemia no Brasil para que as mulheres possam debater as principais demandas para o próximo ano.
Um dos destaques é a gravidez de mulheres vivendo com HIV. A detecção do vírus durante a gestação aumentou, o que, segundo a diretora do departamento, mostra que a prevenção está sendo mais eficaz, porque estão sendo feitos mais testes durante o pré-natal. Esse fato também abre a possibilidade para que as mulheres fiquem rapidamente indetectáveis.
Quanto a novas pesquisas, Dra. Adele relembrou que a troca do efavirenz pelo rautegravir gerou resultados animadores em gestantes, uma vez que o dolutegravir ainda não pode ser utilizado por mulheres que pretendem engravidar, já que há pesquisas que demonstram má formação do feto no caso de mulheres que faziam uso deste medicamento durante o período de concepção.
Vulnerabilidade Racial
As mulheres negras ainda são as que mais se infectam por HIV e sífilis. “Por isso, é importante sair da abordagem unicamente biomédica para trazer outras questões sociais, caso contrário não conseguiremos ser efetivos nessa luta. Pela primeira vez essa demonstração mostra taxas muito elevadas entre mulheres transexuais. Os índices mostram que, na cidade de São Paulo, por exemplo, a prevalência nesse grupo chega a 40%.”
Mulheres que usam drogas
Dra. Adele expôs que a proporção de mulheres que usam o crack é de 8,17%, contra 4,1% nos homens, sendo a droga mais utilizada por mulheres no Brasil. A diretora citou o exemplo do movimento de mulheres que são usuárias de crack e buscam combater a prática arbitrária de levar seus filhos para a adoção. Nesse sentido, Dra. Adele reforça a importância da redução de danos presente na mandala da prevenção.
Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)
* O Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas é um coletivo de mulheres brasileiras que vivem com HIV/aids. A Agência de Notícias da Aids cobre o 8º Encontro Nacional das Cidadãs Posithivas à convite do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais.