Sexo, camisinha e doenças sexuais são os temas do enredo de uma peça de teatro infantojuvenil que se inspira na literatura de cordel para levar informações de saúde a estudantes de escolas públicas do Distrito Federal.

O espetáculo “O auto da camisinha”, uma adaptação da radionovela homônima do cearense José Mapurunga, conta a história de um casal sertanejo que se prepara para a primeira relação sexual. Benedito é um jovem ingênuo e Lionor uma mocinha que entende o uso da camisinha como um sinal de respeito.

No desenrolar da trama, a razão e o desejo dos namorados são representados pelas figuras do anjo e do diabo, respectivamente. Benedito é ensinado que camisinha não é uma camisa pequena, mas uma proteção para um relacionamento seguro.

O cordel que aproxima

A literatura informal, cômica e em versos rimados, típica do cordel, incorpora leveza ao assunto. “Justamente por ser uma linguagem popular, aborda essas temas de forma muito natural, com o linguajar das pessoas”, explicou o diretor da Hierofante Companhia de Teatro, Anderson Floriano.

“Se usarmos termos muito sérios, técnicos, não conseguimos atingir o público”, diz ele. Por isso a escolha do cordel para tratar do tema sexualidade com os adolescentes. “O cordel tem facilidade de aceitação e assimilação do público, além de proporcionar a difusão dessa arte.”

A ideia de levar para as escolas um espetáculo que, há quase duas décadas, foi apresentado nas ruas partiu de uma preocupação com a saúde pública e da compreensão de que as crianças e jovens precisam se informar.

“Quando se trata de um tema que ainda é tabu, como ocorreu no Queer Museu, levar para a escola amplia esse horizonte”, disse ao G1. “Já fomos interrompidos, disseram que estávamos incentivando. Na verdade é o contrário: a gente não estimula, a gente informa. Já apresentamos até dentro de igreja católica e evangélica.”

“A gente sabe que é dentro das escolas onde começam muitos relacionamentos. Então propomos que isso seja discutido em sala de aula.” Até a última semana, a companhia havia fechado 18 apresentações em parceria com cerca de dez escolas públicas e privadas do DF. Ao todo, o projeto – que recebeu patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) – vai fazer 35 espetáculos.

Elas decidem

No contexto de desinformação e descoberta que a peça envolve os personagens, a jovem Lionor assume um papel central na hora de decidir sobre a proteção durante a relação sexual.

“A gente acha que essa foi a grande sacada. Ele [o autor, José Mapurunga] importa à mulher o poder da informação”, explicou Floriano. “Ela sabe da camisinha e exige que ele use. Em contraponto, o Benedito não sabe o que é, nem como se usa.”

“Após o espetáculo, a gente sempre fala para as meninas que, muitas vezes, os homens fazem chantagem para não usar, mas que se se elas baterem o pé, eles correm atrás de uma camisinha. Se ela disser ‘não, não vai ter’, pode ter certeza que ele vai procurar camisinha.”

Através do tempo

Atemporais, os temas relacionados à vida sexual acompanham a Hierofante Companhia de Teatro há 19 anos. A trupe fez 625 apresentações em sete estados do Brasil e circulou com a peça em Nova York, nos Estados Unidos, e em cidades de São Tomé e Príncipe. Até hoje, cerca de 300 mil pessoas assisitiram ao espetáculo.

O desejo de transformar o cordel em teatro surgiu em 1999, quando os integrantes da companhia viram amigos ser infectados pelo vírus HIV e, alguns, morrerem em função da Aids. “Nós descobrimos a radionovela e pedimos autorização para transformar em teatro. Enquanto a Aids continuar sem cura, o espetáculo terá vida útil. Ele não para.”

Quer a peça na sua escola?

Beneficiada pelo FAC no sistema regionalizado – que divide o DF em 8 microrregiões e aprova projetos de moradores destas localidades – a companhia só pode se apresentar em Planaltina, no Vale do Amanhecer e em Sobradinho I e II. Para levar a peça “O auto da camisinha” para a sua escola é preciso solicitar a apresentação pelo e-mail hierofante@abordo.com.br.

Fonte: G1