Um espaço de acolhimento para potencializar vozes e vivências, com o intuito de fortalecer laços e formar redes de apoio, proteção e afeto. Este ambiente de escuta e diálogo reverberou a diversidade das experiências compartilhadas durante o I Encontro Estadual Juventudes e HIV/Aids, organizado pelo Centro de Referência e Treinamento DST/Aids (CRT), do governo de São Paulo. O ativismo e a participação juvenil, através da atuação da Rede de Jovens Vivendo com HIV/Aids, respaldaram os debates do painel inicial, no primeiro dia de encontro, oportunizando a fala de representantes de várias regiões do Estado.

As dificuldades de acesso ao sistema de saúde, preconceitos enfrentados no cotidiano, como a sorofobia dentro dos serviços públicos, e a ausência de políticas públicas de qualidade, foram alguns dos tópicos citados pelos jovens presentes, que relataram suas experiências pessoais. Os problemas atingem a juventude, em diferentes níveis, a depender da localidade, mas possuem pontos em comum em qualquer lugar, seja em Presidente Prudente ou Presidente Venceslau, municípios da Baixada Santista, ou das regiões de São José do Rio Preto, Sorocaba, Taubaté.

Mesmo diante de um cenário cada vez mais desafiador, com o desmantelamento do Sistema Único de Saúde (SUS), as palavras mais escutadas na manhã, foram: trocas, compartilhamento, multiplicação. Voluntário do CRT, David Oliveira aposta na construção e no fortalecimento de laços: “A gente se sente forte e vê que não está só”, disse.

Representando a Rede de Jovens da Baixada Santista, Maria Silvino destaca a necessidade de articulação de políticas propositivas e de escutar a voz do interior de São Paulo. Neste aspecto, ressalta a falta de espaços de acolhimento entre pares, que resultem no pensamento e formação de políticas públicas. “Individualizar é estratégia política. Você se preocupa só com o seu remédio e o seu trabalho, mas esta é uma dor coletiva e precisa de saídas coletivas”, observa.

Redes de conexão

Se alguns dos maiores problemas são o distanciamento, isolamento, e desconhecimento provenientes da doença, transformar esta realidade passa pela formação de redes de apoio e conexão. O trabalho de formiguinha da militância ganha ênfase com o compartilhamento de Rafaela Queiroz, do Movimento das Cidadãs Positivas: “O interior é desprovido de tudo e os jovens se sentem sozinhos, por isso precisamos do apoio do CRT e deste papel de formiguinha, tão importante, para que as pessoas possam se enxergar no outro.  Este laço “salva vidas”, destaca ao ressaltar iniciativas simples como a entrega de panfletos e folhetos informativos.

Da Rede de Jovens de Minas Gerais, Rafael Sann Ribeiro ressalta as diferenças entre os Estados, considerando que São Paulo conta com 350 serviços de aids e HIV, enquanto Minas Gerais possui apenas 84. A falta de oferta na saúde pública é um dos entraves para o tratamento, uma vez que muitos soropositivos precisam percorrer distâncias que superam 12 horas de viagem para buscar medicamento. Na Amazônia, pacientes chegam a ficar em deslocamento por 24 horas. “Temos que reconhecer nossos privilégios, aqui, em São Paulo tem um mínimo de conversa, que nos outros Estados não tem”, observa Rafael.

São lacunas que precisam ser preenchidas, mas que avançam com propostas como a de promoção de um encontro estadual de jovens com recursos públicos, avalia Carlos Henrique de Oliveira, que integra a Rede de Jovens São Paulo Positivo.

A divisão territorial do país acompanha as deficiências, conforme aumentam as distâncias dos grandes centros para os estados mais periféricos. “Mesmo com aparato institucional, o encontro é de pessoas. Somos corpos políticos e viver é uma grande política. É aqui que nos fortalecemos para derrubar as fronteiras e a lógica cunhada na história do Brasil de centralizar o poder em determinados lugares, e assim construirmos outra possibilidade de realidade”, divide Aline Ferreira do Coletivo Loka de Efavirenz.

A partir das tratativas elencadas, a Rede de Jovens pretende formatar carta pública para documentar o encontro e cobrar ações políticas afirmativas.

Marianna Marimon