Em 1983, ano de criação do Programa Estadual de Aids, muitos profissionais não queriam trabalhar em serviços que atendiam pacientes  com quadro suspeito da doença.  Na época, não se conhecia seu agente causador, nem todas as suas formas de transmissão. Abrir novos serviços era um trabalho árduo. Aos poucos, as barreiras foram vencidas e tivemos muitos avanços em especial no campo da prevenção e do tratamento antirretroviral. Entretanto ainda convivemos com uma mortalidade por aids elevada, casos de sífilis congênita e elevação de casos novos de infecção pelo HIV, principalmente entre homens jovens.

Trabalhamos muito ao longo destes 35 anos, em conjunto com as Regionais de Saúde, áreas técnicas e outros programas da Secretaria da Saúde de São Paulo, com as Secretarias Municipais de Saúde e outras secretarias de governo sempre acompanhados pelo ativismo da sociedade civil organizada e das PVHA.  Hoje,  em todo o estado estima-se em mais de 10 mil o número de profissionais de saúde que trabalham direta ou indiretamente no campo da aids para dar conta da assistência as Pessoas Vivendo com HIV/Aids (PVHA), da vigilância epidemiológica e de ações de prevenção, diagnóstico precoce,  pesquisa, gestão e articulação com a sociedade civil.

Contamos com uma vasta rede de serviços de assistência especializada em IST/aids e centros de testagem e aconselhamento, hospitais-dia e de assistência domiciliar terapêutica descentralizados, estando mais de 80% sob responsabilidade dos municípios. Ressaltamos ainda a importância da participação das secretarias de educação e justiça nas ações de promoção de saúde sexual e redução da discriminação atenção básica de saúde na assistência às IST e a realização das ações de prevenção e incentivo à testagem do HIV, além do controle da transmissão vertical do HIV e sífilis.

São muitos os desafios para a quarta década da epidemia. É preciso continuar inovando na comunicação com as populações mais vulneráveis, em especial os jovens, ampliar o acesso ao teste rápido para HIV e sífilis, melhorar o acesso às novas tecnologias biomédicas de prevenção como a Profilaxia Pós Exposição (PEP), a Profilaxia Pré Exposição (PreP) e o tratamento como prevenção, sem perder de foco a promoção de práticas de sexo seguro. Para tal,  é necessário investir na qualificação da rede de cuidados em todo estado, assim como em ações de educação permanente para os profissionais da gestão e dos serviços e ampliar as parcerias com universidades e demais secretarias e fortalecer a parceria com a sociedade civil e o movimento de aids para somar esforços para o enfrentamento da epidemia.

Por outro lado,  o aumento da longevidade das PVHA associado à complexidade do seu acompanhamento clínico demandará investimento adicional e permanente nos serviços que atendem esta população.  É sobretudo essencial evitar a banalização da epidemia.

Gostaria de agradecer a dedicação, a competência e o trabalho incansável de todas as pessoas que compartilham dos ideais preconizados pelo sistema único de saúde, e fazem a diferença no dia a dia das pessoas com IST e vivendo com HIV/aids ao longo dos 35 anos de enfrentamento da epidemia de HIV/aids.

* Artur Kalichman é coordenador do Programa Estadual DST/Aids de São Paulo.