A Copa do Mundo avança na Rússia para as oitavas de final, e como muito bem reportado pela Agência de Notícias da Aids, das 32 seleções que até aqui chegaram, só 16 seguem na competição.

Algumas delas já vinham perdendo a luta contra a aids há bastante tempo, e agora perderam também a chance de continuar na Copa do mundo.

O diretor da organização internacional AHF, Beto de Jesus, mencionou em um excelente artigo escrito para essa agência, sobre as inúmeras possibilidades que podemos explorar para promover a mobilização de homens e mulheres de todas as idades a fim de promover mensagens de prevenção.

Algo parecido e muito bem sucedido, aconteceu na Copa de 2014 no Brasil. À época, o Unaids, junto ao governo do Brasil promoveu a campanha Proteja o Gol, que mobilizou todas as cidades sedes dos jogos, a fim de promover prevenção.

Hoje, a principal intervenção do Unaids na Copa do Mundo é no sentido de promover os princípios da iniciativa “Zero Discriminação” que conta com o apoio da Federação Russa de Futebol e o espírito de utilizar o esporte como ferramenta para alcançar mais pessoas para a luta contra a aids é o mesmo.

Dos 16 países que chegaram a esta nova etapa, destaco o papel brilhante da Federação Argentina de Futebol, que fez um verdadeiro gol de placa ao alertar, antes mesmo da Copa começar que a homofobia na Rússia deveria ser repelida.

É também muito interessante ver durante os jogos mundiais, inúmeras matérias mostrando ambientes frequentados pelo público LGBTQ+ em Moscou, deixando nítido que “discurso de autoridade” nem sempre condiz com a vida real (nesse caso, felizmente).

Verdade que a mesma imprensa comeu bola ao não mostrar a ausência de políticas de redução de danos no país, onde não há acesso à seringas ou clínicas de metadona para pessoas que injetam heroína no país sede.

Lembrando que o uso de drogas injetáveis é a principal causa para o avanço da epidemia de HIV naquele país.
Até aí nada de novo sob o sol. Infelizmente há quase um consenso em se negligenciar descaradamente a situação das pessoas que usam drogas.

Os outros quinze países que seguem na Copa (Uruguai, Espanha, Portugal, França, Dinamarca, Argentina, Croácia, Brasil, Suíça, Suécia, México, Japão, Inglaterra, Colômbia e Bélgica) têm um perfil epidemiológico semelhante: epidemias concentradas em populações chaves, sobretudo em jovens homens que fazem sexo com homens.

Este é o perfil da epidemia de nossos dias, fora da África Subsahariana, onde meninas jovens predominam nas epidemias, ou no leste da Europa, onde como já mencionei, ainda predominam o compartilhamento de agulhas e seringas.

Não obstante o fato de que eu gostaria de ver a sexta estrela do Brasil em 2018 (como fã de futebol que sou), estou mais curioso para saber quem em 2030, vai levantar a taça de Campeão Mundial de cumprimento das metas da ONU de eliminar a aids como problema de Saúde Pública (ODS-3), mostrando quem de fato se preocupa com seu povo.
Hoje eu apostaria na Dinamarca, mas 2030 está longe e os outros 15 ainda podem se recuperar.
Neste caso, idealmente, não seria ótimo termos vários campeões?

* Fábio Mesquita é médico, doutor em Saúde Pública, Palmeirense, e trabalha no escritório central da OMS em Genebra no Departamento de HIV e Programa Global de Hepatites Virais.