A campanha de vacinação contra a covid-19 no Brasil começou oficialmente nesta segunda (18). Diante da escassez de vacinas nesta primeira etapa da imunização, há dúvidas sobre quem deve se vacinar primeiro. Pesquisadores e dirigentes de entidades de saúde defendem que os profissionais da área que estão na linha de frente de enfrentamento da pandemia sejam priorizados, a exemplo do que ocorre em países que saíram à frente na vacinação.
No entanto, o Plano Nacional de Vacinação ainda não definiu, dentre os profissionais da saúde, quais serão os primeiros vacinados. Outra dúvida é sobre pessoas com doenças crônicas. Quem tem HIV deve entrar na lista de prioridades?
A recomendação da infectologista e ex-diretora do Departamento de IST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dra. Adele Benzaken, é para que pessoas com HIV e CD4 baixo tenham prioridade no acesso a vacina. “Venho dizendo isso há um tempão. Principalmente as com CD4 baixo. Não tem nenhuma contraindicação para as pessoas com HIV se vacinarem. O Departamento precisa sair urgente com uma recomendação.”
Essa também é uma recomendação do Dr. Valdez Madruga, do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo. “Quem tem HIV e outras comorbidades, é idoso, CD4 baixo e carga viral detectável, tem mais chances de desenvolver um quadro grave caso tenha covid-19. Por isso, essa pessoa deve ser vacinada contra o novo coronavírus o mais rápido possível. No entanto, quem tem CD4 bom, carga viral indetectável e não é idoso pode aguardar para tomar a vacina de acordo com o grupo etário.” O especialista acrescentou ainda que há estudos que comprovam que não tem acontecido maior número de casos de covid-19 na população HIV se comparado a população geral.
O infectologista Rico Vasconcelos, do Hospital das Clínicas de São Paulo, disse que essa é uma discussão boa. “Os trabalhos não encontram uma associação muito clara entre infecção por HIV controlada, com CD4 bom e carga viral indetectável, e as formas mais graves da covid, nem com maior mortalidade por essa doença. É precisa ter alguma coisa a mais para que esse risco esteja aumentado, como por exemplo os fatores de risco clássicos para covid, como idade avançada, diabetes, obesidade e outras comorbidades, ou ter o CD4 mais baixo.
Teve um trabalho recente do HIV Medicine mostrando que ter o CD4 menor que 350 triplica a chance de ter covid grave. Assim, minha opinião é que pessoas que vivem com HIV com cd4 mais baixo deviam ser priorizados”, defendeu.
A infectologista Zarifa Khouri, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas disse que só as pessoas com HIV imunodeprimidas devem entrar na lista de prioridades. “Quem está com carga viral indetectável e CD4 bom funcionam como qualquer pessoa.”
“Não há nenhuma contraindicação para que as pessoas com HIV utilizem a vacinação para a proteção do covid-19. As que estão doentes deverão evitar a aplicação até a melhora da sua imunidade”, alertou Dra. Rosana Del Bianco, médica infectologista do Hospital Emílio Ribas.
O coordenador do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo, Alexandre Gonçalves, contou que “estudos recentes conduzidos no EUA, Europa e África tem demonstrado piores desfechos entre as pessoas vivendo com doença causada pelo novo coronavírus quando comparado a população não infectada pelo HIV, estamos em conversa com a área de imunização do estado e departamento nacional sugerindo a inclusão no segundo grupo prioritário para o recebimento da vacina.”
Probabilidade de desenvolver doenças graves
Uma pesquisa divulgada pela revista HIV Medicine mostrou que pessoas com HIV com contagens de CD4 abaixo de 350 tinham quase três vezes mais probabilidade de apresentar sintomas graves da Covid-19 do que pessoas com contagens de CD4 mais altas, confirmando os alertas da British HIV Association e da European AIDS Clinical Society de que pessoas imunossuprimidas com HIV têm probabilidade de desenvolver doenças graves.
As descobertas vêm de uma análise de todos os casos de infecção por coronavírus diagnosticados em pessoas com HIV em hospitais de Madri, Milão e 16 cidades alemãs.
Fases da campanha no Brasil
Segundo o mais novo comunicado do Ministério da Saúde, a fase 1 da campanha é voltada especificamente para:
* Trabalhadores de saúde
* Pessoas de 60 anos ou mais que vivem em instituições de longa permanência
* Indivíduos com deficiência que vivem em instituições de longa permanência
* População indígena aldeada
Não há informações exatas sobre como essas pessoas terão acesso aos imunizantes. Mas o ministro Eduardo Pazuello afirmou, em uma coletiva de imprensa no dia 17 de janeiro, que as vacinas “irão até esses grupos”. Ou seja, elas estariam disponíveis nos hospitais, clínicas e estabelecimentos em que elas trabalham ou vivem. E seriam levadas até as aldeias indígenas.
Não se sabe até quando essa fase vai durar, nem quais indivíduos dentro desses grupos receberão primeiro, uma vez que não há vacinas para todos. A aplicação da segunda dose também não está definida.
Também faltam informações quanto às outras duas fases da campanha. Segundo a última atualização do Plano Nacional de Imunização contra a covid-19, os grupos prioritários contemplados em cada etapa serão:
* Fase 2: Pessoas acima de 60 anos
* Fase 3: Pessoas com as seguintes comorbidades: diabetes, hipertensão grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido, anemia falciforme, câncer e obesidade grave.
Para esse público, não há datas de início e término da distribuição das doses. As pessoas também não sabem se basta ir ao posto de saúde, ou se será necessário realizar algum cadastro. E em quais dias e horários da semana isso será realizado.
Entretanto, certas secretarias estaduais de saúde divulgaram planos de imunização mais detalhados. Até pela disputa com o governo federal, a proposta de São Paulo é a que mais se destacou. Recentemente, governo paulista lançou um site para que o público-alvo da primeira fase de vacinação faça um cadastro.
Redação da Agência de Notícias da Aids com informações
Dicas de entrevistas
Dra. Adele Benzaken
E-mail: adele.benzaken@ahf.org
CRT São Paulo
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Dr. Rico Vasconcelos
E-mail: rico.vasconcelos@gmail.com
Dra. Zarifa Khouri
E-mail: zkhouri@prefeitura.sp.gov.br
Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo
Tel.: (11) 5087-9907